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terça-feira, 20 de outubro de 2009

Governo cria treinamento para pilotos em áreas de conflito

Três dias após aeronave da Polícia Militar ser abatida por traficantes no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) anunciou que vai criar um curso nacional de pilotagem de helicópteros em áreas de conflito. Esse tipo de formação é uma antiga demanda da equipe de patrulhamento aéreo da Polícia Civil do Rio, que deverá ser uma das primeiras a integrar a turma. O grupo, formado por 17 pilotos e copilotos, participa de operações sem ter nenhum treinamento específico para voos em locais de conflito, além de ter no seu histórico a perda de dois tripulantes por tiros durante sobrevoo a favelas. Patrocinadas pelo governo federal, as aulas começam em março e serão realizadas na base aeroespacial em construção na antiga Fazenda Itamarati, em Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul. O terreno, com pista de pouso de 2.040 m e hangar com dois pavimentos, está sendo reformada para receber os agentes de segurança.
"Estamos montando esse curso porque existe uma demanda real, uma necessidade de qualificar esses profissionais. É uma parceria da Senasp com a Aeronáutica e a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). As vagas estarão abertas para agentes de segurança de todo o País, mas certamente teremos representantes do Rio. As aulas serão somente para policiais que são pilotos de helicóptero. Ainda não definimos a carga horária, mas será por hora de voo. No local, vamos construir ainda uma vila militar com 40 casas", adiantou o secretário nacional de Segurança Pública, Ricardo Balestreri, que afirmou ainda que o Comitê Olímpico Internacional (COI) sabia que não estava escolhendo nenhum paraíso ao nomear o Rio como cidade-sede dos Jogos de 2016. "Eles sabiam dos problemas históricos de segurança que a cidade tem. Nós não tentamos iludir o COI", disse.
Para se tornar um piloto da Polícia Civil, são necessárias 500 horas de voo numa rotina em que a vida é diariamente colocada à prova. O sucesso do trabalho dos policiais exige ultrapassar os limites da segurança. Em 90% dos voos, os agentes estão na chamada "curva do homem morto" - relação entre a altura e a velocidade que pode ser fatal. Na prática, isso significa que, em caso de pane no motor, o piloto dificilmente consegue fazer um pouso seguro.Nas operações policiais, as aeronaves chegam a sobrevoar a 20 metros do solo. Em média, cada tripulante carrega 23 quilos de equipamentos e, por isso, a mobilidade fica comprometida, o que amplia o risco da atividade.
Com o uso de armamento mais pesado pelos criminosos, a tática de abrir a visão no mato com rasantes deixou de ser empregada, pelo risco de a fuselagem acabar alvejada. É comum para os policiais encontrarem marcas de tiros nos Águias 1 e 2. Outra dificuldade tem a ver com a formação da equipe. Dos 17 capacitados para os cargos de piloto e copilotos, apenas seis já eram formados na profissão quando entraram na instituição. O restante foi sendo treinado na própria Polícia Civil. O curso consiste basicamente em embarque e desembarque em solo, salvamentos no mar e técnicas de rapel.
No Grupamento Aéreo Marítimo (GAM), da Polícia Militar (PM), a realidade é um pouco diferente. O efetivo de 160 homens - sendo 12 pilotos, que também devem ter 500 horas de voo - tem auxílio na formação da Marinha, Exército e Aeronáutica. Segundo o relações-públicas da PM, major Oderlei Santos, os treinamentos são constantes. O Núcleo de Policiamento Marítimo (NPM), dentro do GAM, cuida das atividades mais arriscadas: seus homens são responsáveis pelo patrulhamento das favelas às margens da Baía de Guanabara para tentar impedir que recebam drogas e armamento de contrabandistas.

Blindado da PM pode demorar 1 ano
A Polícia Militar ainda vai ter que esperar pelo menos um ano para ter o seu helicóptero blindado devido à burocracia que envolve a compra do equipamento. A aeronave já foi pedida há quase um ano pelo Grupamento Aéreo Marítimo (GAM) à Secretaria Estadual de Segurança Pública (Seseg). Em novembro do ano passado, a subsecretária de Gestão Estratégica, Susy das Graças de Almeida Avellar, abriu o processo para a aquisição do blindado. O documento até agora acumula 423 páginas. A aeronave está orçada em pouco mais de R$ 12 milhões.
Susy já perdeu a conta de quantas vezes foi à Procuradoria-Geral do Estado (PGE) tratar do assunto - e a Brasília também, já que o dinheiro é da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp). "A burocracia na lei da licitação é burra. Além da demora que provoca, muitas vezes não atende às necessidades que o estado tem. A licitação pelo menor preço, por exemplo, pode fazer com que compremos um material inferior ao necessário ou até mesmo que não sirva para o que foi proposto", explicou Susy. Para ela, o administrador do dinheiro público deveria ser o responsável por determinar de que maneira ele será usado. "Depois ele que responda na Procuradoria-Geral do Estado pelos seus gastos", disse ela.
O dinheiro para adquirir o blindado entrou na conta da secretaria em setembro. Susy explicou que, se tivesse esperado o dinheiro entrar na conta para iniciar o processo de licitação, a entrega do helicóptero demoraria ainda mais. "Nos antecipamos porque já conhecemos os trâmites das licitações", contou a subsecretária. O helicóptero da PM será igual ao blindado da Polícia Civil. O edital de licitação será publicado hoje no Diário Oficial, e a empresa vencedora será anunciada dia 10. Ela terá até um ano para entregar o equipamento.

Lula admite que solução é demorada
A guerra do tráfico na zona norte continua repercutindo no Brasil e no exterior. Ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou pela primeira vez o episódio. "Vamos fazer o necessário para limpar o que essa gente deixa no Brasil inteiro. Quando se tem um conflito dessa magnitude, muitas vezes quem paga são os inocentes", disse.
"Ainda vai levar tempo para resolver a questão do narcotráfico no Rio. Estamos repondo o helicóptero que foi derrubado e queremos colocar um blindado para a polícia tentar encontrar quem praticou estes atos de violência", afirmou.
O prefeito Eduardo Paes - que está em Londres, na Inglaterra - garantiu que os episódios não vão influenciar a realização dos Jogos Olímpicos de 2016. "Temos condições de realizar os Jogos. O próprio Comitê Olímpico Internacional (COI) percebeu que há uma política séria que está transformando a segurança no Rio. Os desafios estão sendo enfrentados e nunca foram escondidos", afirmou.
Um dos integrantes do COI, Craig Reedie, afirmou ontem que os fatos que ocorreram no Rio nem se comparam aos de Londres há quatro anos - dias depois de a cidade ser anunciada sede das Olimpíadas de 2012. Na época, quatro ataques suicidas mataram 52 pessoas em explosões no sistema de transporte público. "Isso é insignificante em comparação com o que aconteceu com Londres em 2005", disse.

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