O cerco internacional ao comércio clandestino de armas vem causando sérios problemas ao Brasil. Com o aumento do preço no mercado negro, que elevou, por exemplo, de R$ 5 mil para R$ 40 mil o valor de um fuzil AK-47, o crime organizado está mirando suas ações onde há concentração de armamentos e munições, como empresas de vigilância, postos policiais e fóruns. Somente em 15 ataques desferidos nos últimos meses, foram roubadas cerca de 500 armas de vários calibres — e muito pouco acabou recuperado. O crescimento dos assaltos a esses locais fez com que a Polícia Federal emitisse um informe secreto para todos os órgãos públicos de segurança alertando que a situação pode se agravar.
As primeiras preocupações começaram em março deste ano, quando, em uma ação ousada, criminosos entraram no centro de treinamento da Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC), em Ribeirão Pires, no interior de São Paulo. Foram roubadas 111 armas de vários calibres e modelos, além de milhares de munições. Em um primeiro momento, a ação foi atribuída ao Primeiro Comando da Capital (PCC), mas a tese terminou descartada. A polícia chegou à conclusão de que o armamento tinha sido levado por criminosos especializados e que já havia um destino definido para o produto: o mercado negro.
Em seguida, outros assaltos foram registrados no mesmo período, inclusive em uma guarnição do Exército, em Caçapava (SP), onde foram roubados sete fuzis, e em pelo menos dez fóruns de Justiça espalhados pelo interior do país. Só em dois deles — Camaçari (BA) e Pindamonhangaba (SP) — foram levadas 130 armas. “Os nossos depósitos de armas são um descalábrio”, critica o coordenador da organização não governamental Viva Rio, Antônio Rangel. “Todas as semanas assaltam fóruns pelo interior do Brasil, pois não existe segurança, as armas ficam espalhadas pelo chão ou desviadas para os bandidos”, lamenta.
A história se repetiu em cidades de grande porte, como Maceió, onde 40 armas foram roubadas do fórum, e Imperatriz (MA), onde o número de artefatos furtados não foi divulgado. Outros assaltos ocorreram em Ribeirão das Neves (MG), Rio Branco (AC), Inocência (MS), Olinda (PE), Remanso (BA) e Igarapé (MG). Ao todo, sumiram 130 armas de fóruns, escola de vigilância e delegacias de polícia. O aumento nos ataques começou a partir do momento em que o comércio ilegal enfraqueceu, principalmente no Paraguai, onde o preço também foi crescendo a cada ano. “Vamos tentar avaliar, em 2010, a situação real dos depósitos de armas no Brasil. Muitas vezes, as condições em que elas estão armazenadas é por falta de treinamento da polícia”, afirma Rangel.
Segundo o delegado federal Marcos Dantas, coordenador do Sistema Nacional de Armas (Sinarm), as operações contínuas da PF nas fronteiras e a legislação brasileira têm contribuído para a diminuição da entrada de armas. “As convenções da OEA e da ONU proibindo a fabricação e comercialização ajudou no combate ao tráfico. Hoje não se vê pelo mundo exemplos como o do filme O senhor das armas. Isso está acabando”, acrescenta o delegado.
De olho nos mais pobres
O filme, estrelado por Nicolas Cage, conta a história de um negociante de armas que fica rico vendendo para países pobres ou em conflitos étnicos. O personagem é Yuri Orlov, um russo que se muda para os Estados Unidos, torna-se integrante da ONU e entra para o tráfico de armas. Porém, começa a rever seus negócios quando passa a ser perseguido pela Interpol.
O que circula no Brasil
Os levantamentos feitos pela Polícia Federal indicam que as armas que entram clandestinamente no Brasil são de segunda mão, mas muitas delas de extrema precisão. A maioria é de origem europeia e americana. O custo varia de acordo com o traficante. As principais armas em circulação ilegal no país são as seguintes:
FUZIS
Sig Sauer – Fabricado na Suíça e na Áustria, é comum nos morros e favelas do Rio de Janeiro. É um fuzil de assalto com uma cadência de 700 tiros por minuto. Seu preço pode variar também de acordo com seu estado de conservação.
AK-G3 – Também fuzil de assalto, é fabricado na Alemanha. É um dos preferidos do crime organizado no Brasil. Sua cadência é de 750 tiros por minuto e o preço também varia de acordo com sua conservação.
AK-47 – Um dos fuzis de assalto mais conhecidos do mundo, o Avtomat Kalashnikov já não tem muita aceitação no Brasil por um motivo: o preço. Seu custo no mercado negro subiu de R$ 8 mil para R$ 40 mil.
AR-15 – Era um dos fuzís preferidos do crime organizado, mas hoje é considerado obsoleto e até ganhou um apelido pejorativo dos usuários: Melissinha. Custa em torno de R$ 25 mil e tem cadência de 750 tiros por minuto.
CZ – Originário da antiga Tchecoslováquia, é um dos preferidos dos criminosos, principalmente no Rio, onde houve várias apreensões. É a arma usada pelo exército da Bolívia, de onde é desviado para o Brasil.
M-16 – É a arma que vem substituindo o AR-15. Fabricado nos Estados Unidos, tem precisão e calibre maiores.
Morinco – A arma é mais uma versão do AK-47 de fabricação russa. Porém, é de origem chinesa e nos últimos anos tem sido contrabandeado para a América do Sul. Cerca de 3,5 mil fuzis foram apreendidos na Colômbia.
Ruger – O fuzil americano também é encontrado no Brasil, mas em pequena escala, principalmente no Rio de Janeiro. É uma das marcas mais tradicionais no mercado de armamento em todo o mundo.
Barretts – É uma das armas mais poderosas que entra no Brasil ilegalmente. O fuzil é o mesmo usado pelas forças americanas que atuam contra o terrorismo no Afeganistão. O artefato chega no país a cerca de R$ 280 mil.
Revólveres e pistolas
Além das marcas brasileiras de revólveres — maioria entre as que são encontradas no mercado negro —, algumas estrangeiras fazem parte do arsenal dos criminosos. As principais são:
Glock – É considerada uma das melhores pistolas do mundo. De origem austríaca, é a marca utilizada pela Polícia Federal brasileira.
Lhama – De fabricação espanhola, a pistola é hoje encontrada principalmente nos morros e favelas do Rio de Janeiro.
Ruger – A pistola é uma das mais tradicionais do mundo. É fabricada nos Estados Unidos e muitas vezes chega ao Brasil pelos aeroportos.
Fuzis caros e populares
Um fuzil AR-15, que em 2005 chegava aos morros e favelas do Rio de Janeiro e a outros estados por R$ 5 mil, passou a custar R$ 20 mil em 2008, e este ano seu preço é de R$ 25 mil. Armamento antes apreciado pelos traficantes, o AR-15 hoje é o produto que tem menos valor no mercado negro, onde chega a ser chamado pejorativamente de “Melissinha”. Apreciado em todo mundo pela sua precisão, o fuzil russo AK-47, que antes era vendido por R$ 8 mil, chega ao Brasil por R$ 40 mil. Mesmo assim, alguns deles são similares fabricados na Ucrânia. Pela mesma quantia se adquire em M-16, um dos preferidos dos criminosos.
Em casos mais ousados, o traficante faz entrar no Brasil armamentos de grande poder de destruição, como a metralhadora antiaérea .50, usada para abater aviões e que está sendo usada pelas forças americanas no Afeganistão. A Barrets custa no mercado ilegal cerca de R$ 280 mil e estava em poder do assaltante de bancos João Ferreira Lima, preso em Minas Gerais em fevereiro passado. A arma normalmente era usada para grandes roubos no Nordeste. (EL)
ARMAS
Rota ainda passa pelo Paraguai
País vizinho tenta endurecer combate ao tráfico de fuzis e metralhadoras, mas o caminho do comércio clandestino é bem maior no Sul
O Paraguai continua sendo o maior fornecedor de armas de fogo para o Brasil, apesar dos acordos bilaterais assinados entre os dois países, no qual as autoridades vizinhas se comprometiam a controlar a comercialização clandestina. Quase todos os artefatos vêm dos Estados Unidos, da Europa e do território paraguaio e seguem também para a Colômbia, onde abastecem a guerrilha e grupos paramilitares. As estimativas são de que existam pelo menos 850 milhões de armas em todo o mundo, sendo que 200 milhões de uso militares, justamente o tipo preferido do crime organizado.
Durante muitos anos o tráfico de armas não foi tratado como um sério problema pelas autoridades paraguaias. Armamento pesado, como o fuzíl AR-15, era comprado para ser utilizado na caça, mas passou a ser um grande negócio para os criminosos. “Sempre há uma modificação nos negócios. Quando o valor da droga está alto no Brasil, enfraquece o do tráfico de armas, e vice-versa. Agora, por exemplo, estão apostando na droga”, conta um delegado da área de inteligência da Polícia Federal.
As autoridades brasileiras estão otimistas com a nova política adotada pelo Paraguai, que impediu a venda de livre de armas de fogo. Lojas em Ciudad del Leste e Pedro Juan Caballero, entre outras, tinham os produtos expostos em suas vitrines e qualquer um podia comprar, sem ser questionado, sendo brasileiro ou paraguaio. Hoje, a situação mudou. O comércio é feito às escondidas, quando há armamentos de grosso calibre envolvidos. “Isso não quer dizer que o tráfico ou venda de armas pequenas tenham acabado”, observa um delegado da Polícia Federal ligado às investigações sobre o tema. Normalmente o destino final era São Paulo, Rio de Janeiro e Nordeste, enquanto que hoje o foco é o Sudeste, inclusive cidades do interior paulista e fluminense.
Formiguinhas
Mas a preocupação das autoridades brasileiras e de outros países da América do Sul é com a entrada de armamentos chineses de alta potência, como os fuzis Norico, uma imitação do russo AK-47, o mais usado nas guerras civis existentes em várias partes do mundo. Além de ter entrado no Brasil algumas vezes, e apreendido pela Polícia Federal, a arma está sendo enviada em massa para a Colômbia, via África, onde também abastece as Farc que, em contrapartida, fornece cocaína aos traficantes. No ano passado, foram descobertos dois carregamentos de 3.500 fuzis.
Se na fronteira sul do país a preocupação é maior, o Norte do Brasil ainda não requer cuidados especiais. A PF tem observado um tráfico de armas em pequena escala. “São os chamados traficantes formiguinhas que carregam revólveres ou pistolas de pequeno porte”, afirma um delegado da Polícia Federal. “Os usuários de armas pesadas no Brasil utilizam mesmo é a rota do Paraguai”, acrescenta. Entretanto, investigações da PF já identificaram carregamentos feitos pelos rios, por onde também são contrabandeados remédios para as Farc. Normalmente, os barcos retornam com droga fornecida pelos guerrilheiros. “Mas o armamento que vai para o grupo não passa pelo Brasil”, diz o delegado.
Em 2005, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara que investigou o tráfico de armas apontou pelo menos 140 pontos de entrada na fronteira brasileira. Segundo o deputado Raul Jungmann (PPS-PE), a situação segue preocupante, inclusive com a ação do narcotráfico. “Em vários estados, estamos verificando esse tipo de problema”, diz o parlamentar.
As primeiras preocupações começaram em março deste ano, quando, em uma ação ousada, criminosos entraram no centro de treinamento da Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC), em Ribeirão Pires, no interior de São Paulo. Foram roubadas 111 armas de vários calibres e modelos, além de milhares de munições. Em um primeiro momento, a ação foi atribuída ao Primeiro Comando da Capital (PCC), mas a tese terminou descartada. A polícia chegou à conclusão de que o armamento tinha sido levado por criminosos especializados e que já havia um destino definido para o produto: o mercado negro.
Em seguida, outros assaltos foram registrados no mesmo período, inclusive em uma guarnição do Exército, em Caçapava (SP), onde foram roubados sete fuzis, e em pelo menos dez fóruns de Justiça espalhados pelo interior do país. Só em dois deles — Camaçari (BA) e Pindamonhangaba (SP) — foram levadas 130 armas. “Os nossos depósitos de armas são um descalábrio”, critica o coordenador da organização não governamental Viva Rio, Antônio Rangel. “Todas as semanas assaltam fóruns pelo interior do Brasil, pois não existe segurança, as armas ficam espalhadas pelo chão ou desviadas para os bandidos”, lamenta.
A história se repetiu em cidades de grande porte, como Maceió, onde 40 armas foram roubadas do fórum, e Imperatriz (MA), onde o número de artefatos furtados não foi divulgado. Outros assaltos ocorreram em Ribeirão das Neves (MG), Rio Branco (AC), Inocência (MS), Olinda (PE), Remanso (BA) e Igarapé (MG). Ao todo, sumiram 130 armas de fóruns, escola de vigilância e delegacias de polícia. O aumento nos ataques começou a partir do momento em que o comércio ilegal enfraqueceu, principalmente no Paraguai, onde o preço também foi crescendo a cada ano. “Vamos tentar avaliar, em 2010, a situação real dos depósitos de armas no Brasil. Muitas vezes, as condições em que elas estão armazenadas é por falta de treinamento da polícia”, afirma Rangel.
Segundo o delegado federal Marcos Dantas, coordenador do Sistema Nacional de Armas (Sinarm), as operações contínuas da PF nas fronteiras e a legislação brasileira têm contribuído para a diminuição da entrada de armas. “As convenções da OEA e da ONU proibindo a fabricação e comercialização ajudou no combate ao tráfico. Hoje não se vê pelo mundo exemplos como o do filme O senhor das armas. Isso está acabando”, acrescenta o delegado.
De olho nos mais pobres
O filme, estrelado por Nicolas Cage, conta a história de um negociante de armas que fica rico vendendo para países pobres ou em conflitos étnicos. O personagem é Yuri Orlov, um russo que se muda para os Estados Unidos, torna-se integrante da ONU e entra para o tráfico de armas. Porém, começa a rever seus negócios quando passa a ser perseguido pela Interpol.
O que circula no Brasil
Os levantamentos feitos pela Polícia Federal indicam que as armas que entram clandestinamente no Brasil são de segunda mão, mas muitas delas de extrema precisão. A maioria é de origem europeia e americana. O custo varia de acordo com o traficante. As principais armas em circulação ilegal no país são as seguintes:
FUZIS
Sig Sauer – Fabricado na Suíça e na Áustria, é comum nos morros e favelas do Rio de Janeiro. É um fuzil de assalto com uma cadência de 700 tiros por minuto. Seu preço pode variar também de acordo com seu estado de conservação.
AK-G3 – Também fuzil de assalto, é fabricado na Alemanha. É um dos preferidos do crime organizado no Brasil. Sua cadência é de 750 tiros por minuto e o preço também varia de acordo com sua conservação.
AK-47 – Um dos fuzis de assalto mais conhecidos do mundo, o Avtomat Kalashnikov já não tem muita aceitação no Brasil por um motivo: o preço. Seu custo no mercado negro subiu de R$ 8 mil para R$ 40 mil.
AR-15 – Era um dos fuzís preferidos do crime organizado, mas hoje é considerado obsoleto e até ganhou um apelido pejorativo dos usuários: Melissinha. Custa em torno de R$ 25 mil e tem cadência de 750 tiros por minuto.
CZ – Originário da antiga Tchecoslováquia, é um dos preferidos dos criminosos, principalmente no Rio, onde houve várias apreensões. É a arma usada pelo exército da Bolívia, de onde é desviado para o Brasil.
M-16 – É a arma que vem substituindo o AR-15. Fabricado nos Estados Unidos, tem precisão e calibre maiores.
Morinco – A arma é mais uma versão do AK-47 de fabricação russa. Porém, é de origem chinesa e nos últimos anos tem sido contrabandeado para a América do Sul. Cerca de 3,5 mil fuzis foram apreendidos na Colômbia.
Ruger – O fuzil americano também é encontrado no Brasil, mas em pequena escala, principalmente no Rio de Janeiro. É uma das marcas mais tradicionais no mercado de armamento em todo o mundo.
Barretts – É uma das armas mais poderosas que entra no Brasil ilegalmente. O fuzil é o mesmo usado pelas forças americanas que atuam contra o terrorismo no Afeganistão. O artefato chega no país a cerca de R$ 280 mil.
Revólveres e pistolas
Além das marcas brasileiras de revólveres — maioria entre as que são encontradas no mercado negro —, algumas estrangeiras fazem parte do arsenal dos criminosos. As principais são:
Glock – É considerada uma das melhores pistolas do mundo. De origem austríaca, é a marca utilizada pela Polícia Federal brasileira.
Lhama – De fabricação espanhola, a pistola é hoje encontrada principalmente nos morros e favelas do Rio de Janeiro.
Ruger – A pistola é uma das mais tradicionais do mundo. É fabricada nos Estados Unidos e muitas vezes chega ao Brasil pelos aeroportos.
Fuzis caros e populares
Um fuzil AR-15, que em 2005 chegava aos morros e favelas do Rio de Janeiro e a outros estados por R$ 5 mil, passou a custar R$ 20 mil em 2008, e este ano seu preço é de R$ 25 mil. Armamento antes apreciado pelos traficantes, o AR-15 hoje é o produto que tem menos valor no mercado negro, onde chega a ser chamado pejorativamente de “Melissinha”. Apreciado em todo mundo pela sua precisão, o fuzil russo AK-47, que antes era vendido por R$ 8 mil, chega ao Brasil por R$ 40 mil. Mesmo assim, alguns deles são similares fabricados na Ucrânia. Pela mesma quantia se adquire em M-16, um dos preferidos dos criminosos.
Em casos mais ousados, o traficante faz entrar no Brasil armamentos de grande poder de destruição, como a metralhadora antiaérea .50, usada para abater aviões e que está sendo usada pelas forças americanas no Afeganistão. A Barrets custa no mercado ilegal cerca de R$ 280 mil e estava em poder do assaltante de bancos João Ferreira Lima, preso em Minas Gerais em fevereiro passado. A arma normalmente era usada para grandes roubos no Nordeste. (EL)
ARMAS
Rota ainda passa pelo Paraguai
País vizinho tenta endurecer combate ao tráfico de fuzis e metralhadoras, mas o caminho do comércio clandestino é bem maior no Sul
O Paraguai continua sendo o maior fornecedor de armas de fogo para o Brasil, apesar dos acordos bilaterais assinados entre os dois países, no qual as autoridades vizinhas se comprometiam a controlar a comercialização clandestina. Quase todos os artefatos vêm dos Estados Unidos, da Europa e do território paraguaio e seguem também para a Colômbia, onde abastecem a guerrilha e grupos paramilitares. As estimativas são de que existam pelo menos 850 milhões de armas em todo o mundo, sendo que 200 milhões de uso militares, justamente o tipo preferido do crime organizado.
Durante muitos anos o tráfico de armas não foi tratado como um sério problema pelas autoridades paraguaias. Armamento pesado, como o fuzíl AR-15, era comprado para ser utilizado na caça, mas passou a ser um grande negócio para os criminosos. “Sempre há uma modificação nos negócios. Quando o valor da droga está alto no Brasil, enfraquece o do tráfico de armas, e vice-versa. Agora, por exemplo, estão apostando na droga”, conta um delegado da área de inteligência da Polícia Federal.
As autoridades brasileiras estão otimistas com a nova política adotada pelo Paraguai, que impediu a venda de livre de armas de fogo. Lojas em Ciudad del Leste e Pedro Juan Caballero, entre outras, tinham os produtos expostos em suas vitrines e qualquer um podia comprar, sem ser questionado, sendo brasileiro ou paraguaio. Hoje, a situação mudou. O comércio é feito às escondidas, quando há armamentos de grosso calibre envolvidos. “Isso não quer dizer que o tráfico ou venda de armas pequenas tenham acabado”, observa um delegado da Polícia Federal ligado às investigações sobre o tema. Normalmente o destino final era São Paulo, Rio de Janeiro e Nordeste, enquanto que hoje o foco é o Sudeste, inclusive cidades do interior paulista e fluminense.
Formiguinhas
Mas a preocupação das autoridades brasileiras e de outros países da América do Sul é com a entrada de armamentos chineses de alta potência, como os fuzis Norico, uma imitação do russo AK-47, o mais usado nas guerras civis existentes em várias partes do mundo. Além de ter entrado no Brasil algumas vezes, e apreendido pela Polícia Federal, a arma está sendo enviada em massa para a Colômbia, via África, onde também abastece as Farc que, em contrapartida, fornece cocaína aos traficantes. No ano passado, foram descobertos dois carregamentos de 3.500 fuzis.
Se na fronteira sul do país a preocupação é maior, o Norte do Brasil ainda não requer cuidados especiais. A PF tem observado um tráfico de armas em pequena escala. “São os chamados traficantes formiguinhas que carregam revólveres ou pistolas de pequeno porte”, afirma um delegado da Polícia Federal. “Os usuários de armas pesadas no Brasil utilizam mesmo é a rota do Paraguai”, acrescenta. Entretanto, investigações da PF já identificaram carregamentos feitos pelos rios, por onde também são contrabandeados remédios para as Farc. Normalmente, os barcos retornam com droga fornecida pelos guerrilheiros. “Mas o armamento que vai para o grupo não passa pelo Brasil”, diz o delegado.
Em 2005, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara que investigou o tráfico de armas apontou pelo menos 140 pontos de entrada na fronteira brasileira. Segundo o deputado Raul Jungmann (PPS-PE), a situação segue preocupante, inclusive com a ação do narcotráfico. “Em vários estados, estamos verificando esse tipo de problema”, diz o parlamentar.
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