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sábado, 11 de janeiro de 2014

120 anos da resistência que salvou a República

O Cerco da Lapa durou menos de um mês, deixou centenas de mortes e deu tempo para que o governo no Rio de Janeiro organizasse sua reação
  Diego Antonelli As tropas do coronel Gomes Carneiro estavam a postos. A qualquer momento os maragatos, como eram chamados os soldados rebeldes da Revolução Federalista, poderiam atacar a cidade de Lapa. Era dezembro de 1893 e Carneiro acabava de assumir o posto no lugar do general Francisco de Paula Argolo. Enquanto isso, as tropas federalistas avançam pelo Sul do Brasil com o objetivo de chegar à então capital nacional, Rio de Janeiro, e derrubar o governo do presidente marechal Floriano Peixoto.
Em janeiro de 1894, os maragatos chegaram ao Paraná e atacaram pelo mar e por terra. Praticamente ao mesmo tempo em que Paranaguá e Antonina se renderam, Tijucas do Sul e Lapa sofreram ofensivas. Entre os dias 11 e 12 de janeiro, 1,5 mil homens das tropas de líder federalista Gumercindo Saraiva atacaram Tijucas do Sul, defendida por 400 homens. Em menos de uma semana, a cidade capitulou.
Reprodução
 
Decreto transferiu a capital do estado para Castro
Reprodução / Decreto transferiu a capital do estado para Castro
Tiro fatal
Há rumores de que o tiro fatal no então coronel Carneiro (depois elevado à patente de general) teria sido dado por alguém de sua tropa que estava já cansado do cenário de guerra que tomou conta de Lapa. “Mas isso é apenas suposição”, afirma o pesquisador Abelardo Neto.
10 mil pessoas morreram durante a Revolução Federalista no Sul do país. Os maragatos, que defendiam um governo parlamentarista, queriam chegar até o Rio de Janeiro, mas foram parados após o Cerco da Lapa.
Combates
O historiador Romário Martins, no livro História do Paraná, descreve que o primeiro grande combate entre as tropas legalistas e as federalistas na Lapa, no dia 17 de janeiro de 1894, durou cerca de quatro horas. Entre os dias 18 e 21, os dias foram quase de paz. No dia 22 “três cavaleiros, um deles agitando uma bandeira branca procuraram parlamentar. O coronel (Carneiro) gritou-lhes que retrocedessem”, escreve Martins.
Na Lapa, no dia 14, Carneiro já havia trocado os primeiros tiros contra os rebeldes. Mas foi no dia 17 que um grande combate deu início ao chamado Cerco da Lapa. Foram 26 dias em que ninguém entrava e ninguém saía da cidade. Um verdadeiro rio de sangue correu pelas vielas lapeanas. O pesquisador e chefe de divisão de museus da cidade, Abelardo Padilha Neto, conta que, antes das batalhas se intensificarem, um trem foi disponibilizado para que mulheres e crianças não ficassem no município. “Mas elas ficaram e atuaram como cozinheiras e enfermeiras.”
Com apenas 940 homens, poucas armas e falta de alimentos, o coronel Carneiro tinha a missão de conter os federalistas. Os maragatos cercaram a cidade. Há 120 anos, Carneiro e sua tropa, chamados de pica-paus, resistiram bravamente aos ataques dos 3 mil combatentes federalistas.
Com um saldo de aproximadamente 500 mortos, muitos corpos ficaram ao léu. “O cemitério estava tomado pelos maragatos, o que impossibilitou o enterro das vítimas”, afirma Neto. Epidemias das mais diversas doenças se alastraram pela Lapa. “A cidade cheirava a carniça.”
Os piores dias de combate se deram em fevereiro, quando os rebeldes chegaram ao centro de Lapa. Entre os dias 4 e 7, as ruas do município viraram uma praça de guerra e muitos inocentes perderam suas vidas.
Foi no decorrer de um desses combates que na madrugada do dia 7 o coronel Gomes Carneiro foi atingindo por um tiro que provocou sua morte dois dias depois. Não havia mais saída. A Lapa estava derrotada e a rendição foi oficializada no dia 11. O caminho estava aberto para que os rebeldes tomassem de vez Curitiba e almejassem continuar a saga rumo ao Rio de Janeiro.
Porém, o tempo gasto para derrotar as forças de Gomes Carneiro foi suficiente para que o presidente Floriano organizasse suas tropas e inibisse o avanço dos maragatos. “O Cerco da Lapa contribuiu para que a República fosse ‘salva’”, constata Neto.
Federalistas tomaram Curitiba com facilidade
Quando as tropas federalistas avançavam pelo Paraná, no começo de janeiro de 1894, o então governador do estado, Vicente Machado, fugiu de Curitiba em direção a Castro. Ele chegou a transferir a capital do Paraná para aquela cidade. Isso deixou Curitiba à mercê dos ataques dos maragatos.
Por mar, Custódio de Melo foi responsável pela tomada de Paranaguá, que aconteceu em janeiro de 1894. Por terra, Gumercindo Saraiva avançou em direção à capital do Paraná.
Com a tomada de Paranaguá, Tijucas do Sul e Lapa, e a ausência de governador e força militar no Paraná, os rebeldes entraram facilmente em Curitiba. Gumercindo Saraiva e Custódio de Melo chegaram a nomear um governador – coronel Teófilo Soares Gomes, que ficou somente quatro dias no poder. Depois, nomearam outro governador, João Menezes Dória, que permaneceu até março. Depois dele, foram nomeados outros dois governadores.
Para não saquear Curitiba, os federalistas exigiam “empréstimos de guerra”. Foi neste período que Ildefonso Pereira Correia, o Barão do Serro Azul, “libertou” Curitiba dos maragatos. Ele tomou a decisão de cuidar de Curitiba por meio de uma junta governativa. Considerava desnecessário derramar mais sangue. Por isso, decidiu negociar. Em troca da paz, o barão emprestou, com o apoio de alguns comerciantes, dinheiro a Gumercindo Saraiva.
A negociação, contudo, foi vista como uma traição por parte dos defensores de Floriano. Os maragatos saíram do município e em maio Vicente Machado retornou ao poder. Serro Azul e mais cinco companheiros foram presos sob a alegação de que deveriam ser julgados pelo Conselho Militar pela “ajuda” que teriam dado aos maragatos. Foram levados de trem, em direção a Paranaguá, sob o pretexto de que embarcariam em um navio com destino ao Rio de Janeiro onde receberiam a sentença. Mas era uma emboscada. O Barão de Serro Azul e seus companheiros foram fuzilados no meio do caminho.

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