Em nota oficial, a Caixa Econômica Federal nega que poupanças inativas tenham sido encerradas e contraria parecer do Banco Central. Ministério Público vai abrir ações criminal e cível e a oposição cobra explicações
Claudio Dantas Sequeira e Mário Simas FilhoNa sexta-feira 10, o Banco Central enviou à Caixa Econômica Federal o ofício 005/2014. Trata-se do resultado da inspeção sobre a operação que encerrou 525.527 poupanças e transferiu R$ 719 milhões para o balanço da CEF em 2012. O documento de três páginas e um anexo contradiz as notas oficiais emitidas pela Caixa e pelo próprio BC no domingo 12, informando que apenas contas irregulares e com problemas cadastrais haviam sido encerradas. Na sua nota, a CEF afirmou que é categoricamente falsa a informação de que contas sem movimentação foram encerradas, reiterando que nenhuma conta inativa havia sido cancelada. Como nos pareceres anteriores, publicados na última edição de ISTOÉ, no resultado da inspeção o Banco Central afirma que contas poupança inativas foram encerradas (leia documentos 1,2,3 e 4), que a Caixa transferiu indevidamente os saldos para o resultado e que nem os titulares nem o BC foram informados sobre a operação. Segundo o documento, que lista oito irregularidades e três deficiências identificadas durante a investigação, houve “encerramento de contas de depósitos que não apresentavam inconformidade cadastral”. O relatório também afirma que foram constatados “alguns casos de contas encerradas cujos clientes apresentavam CPF\CNPJ regularizado e alguns casos de contas encerradas de clientes que possuíam outras contas com informações cadastrais regularizadas junto à Caixa”. Ainda de acordo com o BC, numa amostra das poupanças analisadas pelos auditores foram identificadas 54 contas de depósitos cujos titulares “apresentavam CPF/CNPJ regular junto à Receita Federal”. O relatório, no entanto, não especifica a quantidade de contas analisadas.
Apesar dos esforços para tratar o encerramento irregular das poupanças apenas na esfera administrativa, na quarta-feira 15 o governo escalou a Advocacia-Geral da União para avaliar o caso e buscar uma resposta jurídica para os processos que deverão surgir. A decisão de recorrer à AGU foi tomada logo depois que o Ministério Público Federal anunciou que vai promover investigações tanto no âmbito criminal como no cível. Dois procuradores já foram selecionados para comandar essas apurações: Vinicius Fermino e Paulo José Rocha Júnior. Ainda nesta semana eles terão acesso a todos os relatórios feitos pelo Banco Central e pela Controladoria-Geral da União, bem como aos documentos fornecidos pela Caixa. Com todos esses dados, poderão convocar dirigentes da CEF para esclarecimentos a fim de analisarem os indícios de crime e quais os possíveis enquadramentos.
INVESTIGAÇÃO
Dois procuradores do Ministério Público Federal foram escalados para
comandar as apurações: Vinicius Fermino (à esq.) e Paulo Rocha (acima)
Na semana passada, o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) também analisou o caso. De acordo com a advogada Mariana Alves Tornero, um detalhado estudo da legislação brasileira foi feito e o Idec, assim como os técnicos do Banco Central, concluiu que a Caixa errou ao incorporar em suas receitas créditos de cadernetas de poupança encerradas. “Caderneta de poupança é um contrato bilateral, que não pode ser cancelado unilateralmente”, diz Mariana. Ela explica que mesmo em casos de poupanças com mais de 25 anos de inatividade o dinheiro nunca poderia ser incorporado à receita do banco. “Foi uma apropriação indevida. O dinheiro nunca deveria ter ido para a Caixa. Mesmo nos encerramentos de contas feitos dentro das normas, a lei determina que o saldo vá para o Tesouro e depois para a Receita da União”, afirma.
"Trata-se de um crime de apropriação indébita.
O banco tinha que ter feito uma chamada
pública, com ampla divulgação, para que
os clientes regularizassem sua situação"
Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor do Banco Central
Fotos: ROBERTO CASTRO/Ag. Istoé; Daniel Ferreira/CB; ANDRE DUSEK
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