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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Em local secreto, Google experimenta o futuro

Em um laboratório secreto em local não revelado da região de Bay Area – em São Francisco, Califór­­nia –, no qual robôs andam à solta, o futuro está sendo imaginado.

É um lugar onde geladeiras po­­dem se conectar à internet para fa­­zer um pedido de compras quan­­do estiverem ficando vazias. Pratos podem postar numa rede social o que você está comendo. Um robô pode ir trabalhar, en­­quan­­to seu dono fica em casa de pijamas. E onde talvez seja possível tomar um elevador para o espaço.

Esses são apenas alguns dos sonhos em gestação no Google X, o laboratório clandestino no qual o Google trabalha numa lista de 100 idéias de outro mundo. Em entrevistas, uma dúzia de pessoas aceitou falar sobre essas idéias; algumas trabalham no laboratório ou em outro departamento da empresa, outras têm informações sobre o projeto. Mas nenhuma quer ser identificada, pois o Google guarda tal sigilo sobre essas pesquisas que muitos de seus funcionários sequer sabem da existência do laboratório.

Embora a maioria das idéias da lista se encontre em estágio conceitual, longe da realidade, duas pessoas informadas sobre o projeto afirmam que um dos produtos seria lançado no final do ano, ainda que não digam qual.

“São coisas para um futuro bem distante de hoje”, diz Rodney Brooks, professor emérito de ciência da computação no laboratório de inteligência artificial do Massa­­chusetts Institute of Technology (MIT) e fundador da Heartland Ro­­botics. “Mas o Google não é uma empresa comum, de modo que nunca se sabe.”

Na maioria das empresas do Vale do Silício, inovação significa o desenvolvimento de aplicativos ou anúncios online, mas o Google se considera especial. Mesmo tendo se tornado uma grande corporação, e com empresas de tecnologia novatas em seu encalço, o laboratório reflete a ambição da em­­presa de ser o lugar em que pesquisa e desenvolvimento inovadores estão acontecendo, na tradição da Xerox PARC, criadora do moderno computador pessoal nos anos 70.

Uma porta-voz do Google, Jill Hazelbaker, mesmo se recusando a fazer comentários sobre o laboratório, afirma que investir em projetos de pesquisa é parte im­­portante do DNA do Google. “Ain­­da que as possibilidades sejam incrivelmente animadoras, é preciso ter em mente que as somas en­­volvidas são muito pequenas, comparando-se com os investimentos que fazemos nos carros-chefes do negócio”, observa.

Para o Google, que utiliza técnicas de inteligência artificial e aperfeiçoamento de máquinas em seu algoritmo de busca, alguns daqueles projetos de outro mundo po­­dem não estar tão fora de alcance quanto parecem à primeira vista, mesmo que testem os limites da atividade principal da empresa, o serviço de busca na web.

Por exemplo, elevadores espaciais, uma fantasia de longa data dos fundadores do Google e de outros empresários do Vale do Silício, poderiam coletar informações ou transportar coisas para o espaço. (Em teoria, envolveriam viagens espaciais prescindindo de foguetes, feitas por meio de um cabo ancorado à Terra.) “O Google coleta informações sobre o mundo e, com isso, poderia passar a co­­letá-las em todo sistema solar”, descreve o professor Brooks.

Carro sem motorista

É possível que uma das idéias em desenvolvimento – os carros auto-pilotados testados nas estradas da Califórnia no ano passado – se transforme num novo negócio. Pouco impressionado com o espírito inovador das montadoras de Detroit, o Google considera fa­­bricar esses automóveis nos Esta­­dos Unidos, conta uma pessoa in­­formada sobre as pesquisas.

O Google poderia vender tecnologia de navegação ou informação para os carros, e teoricamente seria capaz de exibir anúncios conforme um automóvel cruzasse as imediações das empresas locais sendo anunciadas, enquanto os passageiros estariam jogando Angry Birds até mesmo ao volante.

Um dos chefes do Google X é Se­­bastian Thrun, um dos grandes es­­pecialistas mundiais em robótica e inteligência artificial, que leciona ciência da computação em Stan­ford e inventou um dos primeiros carros auto-pilotados do mundo. Também trabalha no laboratório Andrew Ng, outro professor de Stanford, especialista na aplicação da neurociência em inteligência artificial para ensinar robôs e má­­quinas a operar como pessoas.

Johnny Chung Lee, especialista na interação entre homem e computadores, saiu da Microsoft para o Google X neste ano, depois de lá ajudar a desenvolver o Kinect, videogame que responde a co­­mandos de movimento e voz. No Google X, onde trabalha na relação entre web e objetos, de acordo com pessoas informadas sobre suas funções, Lee tem o misterioso título de “avaliador rápido”.

Como o Google X é um terreno fértil para grandes apostas, que po­­dem se transformar em fracassos colossais ou no próximo grande negócio da empresa – e talvez só cheguemos a saber qual dos dois num intervalo de anos –, a sim­­ples idéia desses experimentos aterroriza alguns acionistas e analistas.

“Esses projetos malucos são bem a cara do Google”, opina Co­­lin W. Gillis, analista da BGC Part­ners. “As pessoas não os amam, exatamente, mas toleram porque o carro-chefe, que é o mecanismo de busca, está bombando.”

Larry Page tem tentado apaziguar os analistas dizendo que projetos malucos são uma pequena parte do trabalho do Google.
Automatização

Robôs são parte central do projeto

Robôs são parte importante de muitas das idéias em desenvolvimento no Google X. Eles têm cativado a imaginação de engenheiros do Google, incluindo Sergey Brin, que já mandou um robô a uma conferência, em vez de comparecer em carne e osso.

Tropas de robôs poderiam ajudar o Google a coletar informações, substituindo os seres humanos que fotografam ruas para o Google Maps, sugerem as pessoas com acesso ao Google X. Os robôs nascidos no laboratório serviriam a casas e

escritórios, onde poderiam ajudar com tarefas cotidianas ou permitir às pessoas trabalhar remotamente, afirmam os mesmos informantes.

Dentre os itens que poderiam funcionar assim estão: um robô-jardineiro (que pudesse regar as plantas a distância); uma cafeteira (que colocasse o café para passar remotamente); ou uma lâmpada (que seria possível desligar de qualquer lugar). O Google anunciou, em maio, que até o fim deste ano outra equipe da empresa planejava lançar uma lâmpada conectada via web e que permitiria comunicação sem fio com dispositivos equipados com Android.

Um engenheiro do Google que conhece o Google X afirma que sua operação é tão misteriosa quanto a da CIA – com dois escritórios, um sem mais atrativos, para a logística, localizado na sede da empresa em Mountain View, e outro para os robôs, este em local secreto.

Enquanto os engenheiros de software trabalham duro em outros departamentos, o laboratório está cheio de especialistas em robótica e engenheiros elétricos. O Google foi buscá-los em lugares como Microsoft, Nokia Labs, Stanford, MIT, Carnegie Mellon e Universidade de Nova York.

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