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sexta-feira, 19 de março de 2010

Aeronáutica diz que não lhe cabe decisão política sobre caças

Após dois dias de reuniões em Brasília, o Alto Comando da Aeronáutica entregou ontem ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, um ofício-resposta em que diz que não é da competência da Força Aérea a decisão política de escolher o novo caça. Na mesma resposta, a FAB reitera que, nos aspectos operacionais e logísticos, os três modelos que participam da concorrência - Gripen, F-18 e Rafale - atendem à Aeronáutica.
Dessa forma, a FAB endossa a possibilidade de o governo escolher o Rafale, da Dassault, mesmo sendo o mais caro dos três concorrentes. Tanto Lula quanto Jobim já disseram em público que a preferência é pelo caça francês porque a Dassault oferece o melhor pacote de transferência de tecnologia.
Depois de avaliar o relatório da comissão da FAB, que analisou os três caças finalistas e pontuou o Gripen em primeiro lugar, o F-18 em segundo e o Rafale em terceiro, Jobim decidiu fazer uma avaliação própria, dentro da estratégia da política de defesa. Sua análise tem como premissa básica a necessidade de o País se capacitar e desenvolver tecnologicamente, o que só é possível com transferência de tecnologia (oferecida de forma irrestrita pela França).
Para os oficiais, o importante é que a questão seja resolvida o mais rapidamente possível, com a opção de compra de qualquer um dos três modelos. Os brigadeiros temem que a decisão acabe sendo atropelada pela campanha eleitoral e o desfecho seja adiado mais uma vez - o assunto se arrasta desde o segundo mandato do governo Fernando Henrique Cardoso (1999-2002).
Ontem mesmo o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, entregou ao ministro da Defesa a resposta da FAB. Jobim vai agora preparar um relatório, que será entregue ao presidente Lula - ele volta da viagem ao Oriente Médio neste fim de semana. O relatório será levado ao Conselho Nacional de Defesa, a ser convocado pelo presidente Lula.

Jobim recomendará caça francês a Lula
Com a decisão política tomada, a Força Aérea pacificada e uma redução de 10% no preço do pacote, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, vai encaminhar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nos próximos dias, uma exposição de motivos, acompanhada de um relatório assinado por ele, recomendando a compra de 36 caças franceses Rafale para equipar a FAB.
O impasse foi encerrado depois que uma comissão especial criada no Brasil pelo ministro Jobim, integrada pelos Ministérios da Defesa, da Fazenda e da própria Aeronáutica, foi à França e cobrou do governo francês a promessa feita pelo presidente Nicolas Sarkozy de redução de 10% do preço apresentado na última proposta, que não havia sido cumprida pela Dassault, fabricante do Rafale. Além disso, pediu novos esclarecimentos técnicos em relação a preço e transferência de tecnologia. Antes dessa fase de negociação, os franceses só tinham reduzido o preço do pacote, estimado em US$ 10 bilhões, em apenas 1,8%.
Do processo de seleção participam também o Gripen, da sueca Saab, e o F-18, fabricado pela norte-americana Boeing.
Acertados os ponteiros entre os dois países, Jobim dirá na exposição de motivos que o Rafale é mesmo o melhor produto para atender às demandas da Estratégia Nacional de Defesa (END).
E mais: agora, com o endosso dado pela Aeronáutica, o governo entende que todos os problemas estão superados. Na reunião de seu Alto Comando, na terça-feira, o assunto foi discutido e na ocasião foi preparada uma resposta ao questionamento do ministro se o Rafale atendia às premissas da Estratégia de Defesa, obtendo o aval da FAB.
Similares. Os militares reiteraram que os três modelos em disputa eram considerados similares, que todos atendiam a Força Aérea e o Rafale era o mais consistente em relação à END, mas reiteravam que não cabia a eles a decisão política. Os militares têm interesse em que o assunto seja resolvido o mais rapidamente possível.
Depois de receber o relatório da Comissão Coordenadora do Programa de Aeronaves de Combate da FAB (Copac), que colocava o Gripen em primeiro lugar, o F-18 em segundo e Rafale em terceiro, o ministro da Defesa decidiu pedir um parecer de suas secretarias - de Logística e de Mobilização e de Política Estratégica e Assuntos Internacionais - sobre as propostas das três empresas concorrentes.
Jobim queria que fosse checado, em detalhes, se as propostas apresentadas correspondiam às afirmações feitas pelas empresas, principalmente no tocante à transferência de tecnologia, ponto fundamental para o governo, que queria cumprir a Estratégia Nacional de Defesa.
Argumentos. As secretarias concluíram que, embora o preço do Rafale fosse o mais alto, a transferência de tecnologia mais consistente é a dos franceses. O mesmo parecer reitera ainda argumentos que vêm sendo usados pelo governo para questionar a transferência de tecnologia proposta pelos norte-americanos, considerada falha. E, em relação aos suecos, o relatório fala da dependência na transferência que o Gripen tem em relação a outros países, já que muitos de seus componentes vêm de diferentes fornecedores.

Barganha
Dassault cumpre promessa do presidente Sarkozy
10%
foi o desconto no pacote do Rafale


Depois do voo, o 'lobby'

Depois de o Alto Comando da Aeronáutica lavar as mãos sobre a compra de caças, entra em cena um dos principais aliados do presidente Lula, o prefeito de São Bernardo do Campo e ex-ministro do Trabalho e da Previdência, Luiz Marinho (PT). Ele está desde sábado na Suécia e ontem afirmou que a escolha do caça Gripen, fabricado pela empresa Saab, "trará impacto positivo para a indústria brasileira".
A empresa disputa o contrato de aquisição de 36 caças pelo governo brasileiro com a americana Boeing (F-18 Super Hornet) e a francesa Dassault (Rafale).
Marinho viajou à Suécia a convite do Conselho de Comércio Exterior sueco, com os custos bancados pela Saab, e disse ter agora uma clara visão da proposta para o Brasil da empresa sueca.
"Acredito tratar-se de uma oportunidade única para uma real transferência de tecnologia para o Brasil e de ampla geração de empregos voltados à alta tecnologia", declarou Marinho, que voou no caça sueco, na terça-feira.
A defesa de Marinho deve ter peso na decisão do governo. Ele é chamado de "menino de ouro" do presidente Lula, que não poupou esforços, na campanha eleitoral de 2008, para que o ex-ministro vencesse a disputa pela Prefeitura de São Bernardo, feito que o PT não conseguia desde 1988.
Nesta semana, o prefeito visitou as instalações da Saab em Linköping e conheceu a proposta sueca para o Projeto F-X2, no qual concorre o Gripen NG.
Marinho também visitou um centro tecnológico da Scania na Suécia, responsável pelo desenvolvimento de motores a etanol e biocombustível. O país já importa etanol brasileiro e acordos econômicos nessa área são uma das expectativas com a visita do rei Gustaf ao Brasil, marcada para a próxima semana.
Na quarta-feira, o prefeito visitou um parque tecnológico e universitário nas áreas de defesa e aeronáutica, em Linköping.

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