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terça-feira, 16 de março de 2010

O chicote “democrático” do governo Lula

Zapata não poderia ter feito isso. Quase três meses em greve de fome e cismou de morrer logo no dia em que Lula chegou a Cuba para abraçar Fidel Castro. Como disse o ministro dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, foi muito azar do presidente.
Dá para compreender por que o novo Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), coordenado pelo mesmo Vannuchi, prevê garrotes e mordaças à imprensa. As notícias às vezes são muito inconvenientes.
Só servem para atrapalhar o governo popular, em sua marcha rumo ao paraíso social.
Orlando Zapata, operário, prisioneiro da ditadura de Fidel, morreu no colo de Lula. Isso foi o que indignou o representante máximo dos direitos humanos no governo brasileiro. Poderia ter morrido uma semana antes, uma semana depois, sem atrapalhar a agenda do filho do Brasil – e seu silêncio sorridente ao lado de Fidel e Raúl Castro. É mesmo muito azar.
Essa sofisticada concepção de direitos humanos serve para explicar muita coisa, inclusive a nova filosofia de “controle social” da mídia.
A candidatura presidencial da ministra Dilma Rousseff – a enteada do filho do Brasil – vem aí para botar a imprensa nos eixos. O PNDH-3 é um dos chicotes “democráticos” que vêm dizer como os veículos de comunicação devem tratar a pessoa humana. Como disse o presidente do PT, José Eduardo Dutra, é a reação à “guerra de extermínio” da mídia burguesa contra seu partido – iniciada em 2005, no escândalo do mensalão. Aliás, a descoberta do valerioduto também foi muito azar.
Lula e Dilma estão fazendo sua parte. Em recente comício na Favela da Rocinha – ou seria melhor não dizer comício, porque eles ficam zangados –, o presidente disse aos pobres que a mídia só dá notícia ruim. Ou notícia que não existe.
Com a nova filosofia de “controle social” da mídia, o governo quer botar a imprensa nos eixos
Nunca antes na história deste país se viu um presidente da República democraticamente eleito dizer ao povo que ele não deve confiar na imprensa.
De fato, a imprensa brasileira anda muito estranha. Passou os últimos anos tentando descobrir quem é Dilma Rousseff, e não conseguiu. Alguma coisa está errada aí. Quem sabe a razão não está com o coronel Chávez, parceiro de Lula, que deixou de conversa mole e saiu censurando os veículos insensíveis a seu governo maravilhoso? É bem verdade que a Venezuela, com aquele petróleo todo, está indo para a ruína econômica, com a maior inflação do planeta. Mas isso foi muito azar.
Dilma é a “gerentona”, mulher de pulso firme – uma espécie de Margaret Thatcher da esquerda. Pelo menos era essa a instrução que vinha na embalagem. Não é simpática? Paciência. Uma grande gestora não precisa ter sorriso doce. Aí surgiu o problema.
Os jornalistas, esses insatisfeitos, quiseram conhecer as obras completas da grande gestora. Não encontraram nem as incompletas. Ela teve passagens opacas pela burocracia estatal gaúcha e foi ministra de Minas e Energia. Nesse cargo, implantou um modelo tarifário populista, ao estilo argentino, numa gestão que até hoje divide os especialistas do setor elétrico: uns a consideram medíocre, outros a julgam desastrosa.
Impertinentes, os repórteres continuaram à procura das façanhas administrativas de Dilma Rousseff. Encontraram o que se sabe: disputa partidária, conchavo, manejo de dossiês, teoria conspiratória. Lula tinha razão: só notícia ruim.
Uma pesquisa feita pelo governo mostrou que a mãe do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a dama do pré-sal e outras placas colocadas no poste não colaram. O povo ignorou. O que funciona mesmo é o mantra “Dilma é Lula”. Chato é quando a imprensa se aproxima para ver se é ou não é. A candidata ruge um “meu filho” ou um “tem dó”, combinando uma intolerância de Zélia com um olhar apavorado de Pitta. Será Dilma o Celso Pitta de Lula? Bem, o que a imprensa disser não interessa. Eles se entendem diretamente com o povo. E o povo acha que Dilma é Lula. Até a eleição, pode até descobrir que Dilma é José Dirceu. Mas aí será muito azar.Guilherme Fiuza

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