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sábado, 24 de abril de 2010

O senhor das armas

No sábado 17, a Aeronáutica apresentou em Porto Velho (RO) os três primeiros exemplares de um lote de 12 helicópteros MI-35 comprados da Rússia por US$ 363 milhões (R$ 635 milhões). Equipados com canhões, mísseis e bombas, são sofisticadas máquinas de guerra que vão operar no patrulhamento da Amazônia. Desde que o contrato começou a ser negociado em 2005 até o voo inaugural, a FAB manteve silêncio incomum sobre o negócio. O sigilo ajudou a encobrir a presença constante na mesa de negociações de um ex- membro da própria FAB: o brigadeiro da reserva Wilson José Romão, que, apenas dez anos depois de abandonar a farda, se tornou um dos mais poderosos comerciantes de armas do Brasil. Dono da empresa de assessoria Logitec, diretor da Abimde – o sindicato da indústria bélica – e com relações no Comando da Aeronáutica, Romão tem aproveitado como poucos o boom de investimentos no setor e a ampliação das ambições geopolíticas nacionais.
Além do contrato dos MI-35, feito com a ajuda de um mercador de armas paquistanês chamado Shehzad Shaikh, Romão está por trás da venda de 100 mísseis da Mectron para o Paquistão, num negócio de 85 milhões de euros (R$ 200 milhões). Ele acaba de intermediar a venda de paraquedas para a Venezuela e mantém conversações com Colômbia, Equador, Peru e Chile. Além da Mectron, Romão representa os interesses das empresas brasileiras CBC, Equipaer, Condor, Imbel e Engepron. O brigadeiro ainda tentou emplacar a venda para o Brasil de helicópteros de transporte MI-171 e torce pelo cancelamento do programa F-X2 para a compra de 36 aviões de combate, na esperança de reabilitar o caça russo Sukhoi na disputa. Nada mal para um brigadeiro duas estrelas. “Fui diretor da Divisão de Material Bélico da FAB. Estou apenas usando minha experiência. Se eu não trabalhar, morro”, argumenta.
Em tese, não há nenhum crime no fato de Romão ter constituído uma empresa especializada na venda de armas e equipamentos militares e ganhar dinheiro com os negócios que faz. O problema é que na própria Aeronáutica a atuação do militar da reserva é vista com desconfiança por seus ex-colegas de farda. Muitos admitem, abertamente até, que no caso da compra dos helicópteros de combate MI-35, o governo brasileiro poderia ter economizado, no mínimo, algo próximo a US$ 20 milhões, se não houvesse a participação de intermediadores.
A FAB não encontra explicação, por exemplo, para a triangulação feita por Romão com o comerciante paquistanês Shaikh na venda dos MI-35. “O Romão ficava calado e o Shaikh fazia umas ligações para Moscou. Sinceramente, não sei o que eles estavam fazendo ali”, questiona o brigadeiro Edgar de Oliveira Jr., chefe do Centro Logístico da Aeronáutica. Indicado pelo comandante Juniti Saito para coordenar e fiscalizar as negociações com os russos, Oliveira Jr. garante que “tudo poderia ter sido tratado diretamente com a Rosoboronexport”, a gigante estatal russa de defesa. Shaikh é um dos maiores comerciantes de armas do mundo, com ligações em praticamente todos os países interessados em equipar-se militarmente. Atuan do intimamente com a indústria bélica russa, esteve no Brasil na semana passada acompanhando o presidente Dimitri Medvedev. No Brasil seu parceiro de negócios é Romão.
As comissões para esse tipo de negócio variam entre 2% e 3%. Fazendo as contas, o contrato dos MI-35 teria rendido US$ 11 milhões (quase R$ 20 milhões) em comissões aos intermediários. “Isso é uma injustiça”, disse Romão à ISTOÉ., referindo- se às suspeitas levantadas sobre sua atuação “Tudo o que eu ganho está declarado. Pago meus impostos”, garante.

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