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sexta-feira, 30 de abril de 2010

SOBRE AS FORÇAS ARMADAS

Comemora-se em 8 de maio o Dia da Vitória, data do término da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). É um excelente ensejo para a sociedade brasileira refletir sobre a realidade de nossas forças armadas, porquanto a próxima guerra se avizinha. Se por um lado o Brasil se orgulha de ser um país pacifista, de honrar os lemas “ordem e progresso” da sua bandeira nacional e de se tornar uma potência mundial, por outro lado se esquece que a soberania nacional tem um elevado custo e a história demonstra que o povo que não for disposto a lutar pela sua paz, não a merece.
"Si vis pacem, para bellum” é uma antiga e sábia expressão latina que significa “se queres a paz, prepara-te para a guerra" – porque ela sempre vem. Infelizmente, nossos governantes ao longo da nossa história se embriagaram com a estupidez de achar que o pacifismo e o não imperialismo nacionais imunizariam o Brasil contra as guerras, como se essa fosse uma decisão exclusivamente unilateral.
Desde o término da guerra do Paraguai (1870), o destino nos tem proporcionado o usufruto de um período sem guerras, que estamos retribuindo com a ingratidão de mais de um século com as nossas Forças Armadas, lançadas ao ostracismo operacional. Nesse interregno, tivemos na segunda guerra mundial um evidente episódio do despreparo militar nacional, pois a participação da nossa Força Expedicionária Brasileira (FEB) naquele conflito armado foi salva exclusivamente pela bravura e heroísmo dos nossos pracinhas. Entretanto, se são eles os únicos brasileiros em mais de 100 anos que realmente combateram na guerra em defesa do país, hoje não recebem sequer a devida reverência da pátria amada.
Atualmente, sob o ponto de vista de emprego militar para a defesa nacional, as Forças Armadas brasileiras são não operacionais. Isto significa que são capazes de lutar, mas não de vencer, porque tropas operacionais são forjadas nas lides do emprego em combate, e não dentro dos quartéis. Esse é o contexto das Forças Armadas brasileiras, cuja situação é idêntica ao cirurgião que nunca operou, ao engenheiro que nunca construiu, e pior, ao militar que nunca combateu, pois os nossos atuais comandantes militares, em suas longas carreiras profissionais, sequer viveram o “bom combate” como os nossos queridos e corajosos pracinhas, conquanto ostentem medalhas, muitas medalhas.
Inúmeros são os problemas desse quadro de falência múltipla como: destinação às forças armadas de ínfimos recursos orçamentários, majoritariamente empregados em despesas com pessoal e custeio; política nacional de defesa historicamente desencontrada e retórica; defasagem doutrinária de emprego militar; sucateamento do arsenal e indústria bélicos; crescente defasagem e dependência tecnológicas; vultosos e obscuros gastos com aquisição de equipamentos militares exclusivamente à mercê de critérios políticos e personalistas; deficiências de integração tático-operacional no emprego em conjunto dos elementos de combate das três forças; desvio funcional e priorização de atividades subsidiárias em detrimento das operacionais; cultura de valorização da atividade-meio e esvaziamento da atividade-fim; poder militar nacional superdimensionado, estruturado exclusivamente em ilhas de excelência das Forças Armadas; grave evasão, notadamente dos quadros de oficiais; e fuga da carreira militar por parte dos jovens brasileiros promissores que, embora vocacionados, acertadamente não se submetem a uma vida indigna de baixos vencimentos.
A comemorar, apenas o patriotismo exacerbado dos militares brasileiros, submetidos aos imperativos de uma vida totalizante, de renúncia e dedicação exclusiva ao país, embora marcada por indesejáveis privações impostas à família militar. Portanto, há muito por fazer, a começar pela rediscussão do papel constitucional das Forças Armadas brasileiras e do assistencialista serviço militar obrigatório, pois guerras não são vencidas apenas com o patriotismo de bravos soldados, mas por forças armadas profissionais e operacionais.

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