As declarações do advogado chegam depois da audiência em que o ex-diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), que estava há um mês e meio em prisão domiciliar, foi libertado sem fiança --o que indicaria que as acusações são menos graves do que as inicialmente apresentadas.
Em um ambiente hostil, o advogado da acusação tentou barrar as revelações sobre o comportamento e o passado da vítima, que prejudicaram sua credibilidade segundo a promotoria, apesar de no final ter admitido que as informações veiculadas pela imprensa não eram falsas.
Thompson reagiu à carta enviada pelos promotores do caso à corte, na qual detalharam as mentiras admitidas pela camareira. "A autora da queixa, desde então, admitiu que o depoimento era falso e que, logo depois do incidente no quarto 2086, passou a limpar um quarto próximo e só depois fez o mesmo no 2086, antes de denunciar o caso a seus supervisores", indica o documento.
"É fato que a vítima cometeu alguns erros, mas isso não quer dizer que não seja vítima de estupro", disse Thompson, que utilizou um duro discurso no qual fez um relato explícito do suposto ataque sexual ocorrido em 14 de maio.
"Sua credibilidade é importante. A credibilidade de qualquer vítima de estupro é importante, mas não pode ofuscar a evidência física", insistiu, antes de admitir que sua cliente "mentiu" em seu relato sobre a cronologia exata dos fatos por medo de "perder seu trabalho".
"Não sabia o que fazer e não queria perder seu trabalho", explicou, em referência à omissão em sua declaração aos promotores de que limpou outro quarto antes de transmitir ao supervisor do hotel o ocorrido, em vez de denunciar imediatamente o suposto ataque sexual.
MAIS MENTIRAS
Entre os pontos obscuros do comportamento e declarações da mulher, o "New York Times" indicou que policiais tinham detectado suspeitas relacionadas com sua solicitação de asilo e o fato de uma suposta denúncia de estupro em seu país de origem. Segundo Thompson, a suposta vítima mentiu quanto à sua solicitação de asilo para evitar ser deportada. "Não queria ser deportada porque tem muito medo de ter que voltar para a Guiné", afirmou.
As revelações do jornal mencionavam também vínculos não confirmados com o crime, como a participação em lavagem de dinheiro e tráfico de drogas.
"Todas essas declarações que foram vazadas pela promotoria do distrito sobre o fato de estar envolvida em drogas, isso é mentira", reagiu Thompson.
O advogado teve, no entanto, mais dificuldades para negar outras informações vazadas à imprensa sobre indivíduos que depositaram dinheiro na conta bancária da mulher nos últimos dois anos em um total de US$ 100 mil, e uma conversa por telefone com um preso na qual a suposta vítima "discutiu sobre o interesse de continuar as acusações" contra Strauss-Kahn.
Sobre o dinheiro, Thompson limitou-se a dizer que "não se trata de US$ 100 mil".
Quanto à ligação com o preso, o advogado admitiu que ocorreu.
"Quando estava no telefone com este homem, que ela não sabia que era um traficante de drogas, disse o que aconteceu no quarto do hotel e foi consistente com o que havia contado ao júri e aos promotores desde o primeiro dia", afirmou.
De acordo com o advogado da acusação, esses vazamentos e a decisão de sexta-feira de libertar Strauss-Kahn sob palavra mostram que o promotor Cyrus Vance "tem muito medo de tratar desse caso".
Por último, o advogado indicou que sua cliente já não se ocultará e enfrentará a imprensa "em breve".
"Ela não vai mais se esconder. Vai sair diante de todos vocês e vai dizer o que Dominique Strauss-Kahn fez contra ela".
REVIRAVOLTA
Caso a nova versão do depoimento seja confirmada em audiência, a tese defendida pela defesa do ex-chefe do FMI (Fundo Monetário Internacional) --de que a relação sexual teria sido consensual-- deve ganhar força.
Na carta enviada pela promotoria, afirma-se que a suposta vítima deixou o quarto e limpou outro cômodo antes de denunciar a suposta agressão, ao invés de, em pânico, ter corrido imediatamente à gerência, como antes afirmara.
Segundo Benjamin Brafman, um dos advogados de defesa do francês, Strauss Kahn será declarado inocente.
CASO
Strauss-Kahn, 62, foi preso em 14 maio sob suspeita de abuso sexual, tentativa de estupro, ato sexual criminoso, aprisionamento ilegal e toque violento contra uma camareira de 32 anos do luxuoso Hotel Sofitel, em Nova York. Ele nega as acusações.O escândalo o levou a renunciar ao cargo no FMI e acabou com suas chances de concorrer à Presidência francesa em 2012, à qual era um dos favoritos.
A camareira alega ter entrado no quarto achando que não havia ninguém e que Strauss-Kahn saiu do banheiro nu, em sua direção. Ele a teria agarrado e tentado colocar seu pênis na boca da camareira por duas vezes, além de impedir que ela deixasse o local.
Após ser detido em um avião quando se preparava para voltar à França, Strauss-Kahn passou duas noites em uma delegacia do Harlem e quatro na prisão de Rikers Island, antes de conseguir mudar para a prisão domiciliar em um luxuoso apartamento de Manhattan, depois de pagar uma fiança de um milhão de dólares.
Além de pagar US$ 1 milhão de fiança e mais US$ 5 milhões em caução, o ex-diretor do FMI foi obrigado a usar uma tornozeleira eletrônica, restringir-se a um regime de saídas e visitas muito rígido e entregar todos seus documentos de viagem.
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