De acordo com o presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) e da CPAL, o deputado Dinis Pinheiro (PSDB), a proposta pretende fortalecer os legislativos estaduais, ao mesmo tempo que desafoga o excesso de pautas do Congresso. “Existe hoje um excesso de temas importantes no seio do Congresso, que fica impossibilitado de conceder uma resposta mais rápida à sociedade. Daí a necessidade de ampliar a competência das assembleias”, afirma.
Além disso, para Pinheiro existem particularidades de cada estado que, por vezes, não são levadas em conta pelo Congresso. “O que é importante para o estado do Acre não é o mesmo que é essencial para São Paulo, por exemplo. Por isso é necessário que os estados façam exames mais profundos para obter o consenso sobre certos temas”, afirma. “Não podemos admitir que uma legislação federal consiga atender os anseios de um Brasil tão grande, heterogêneo e diverso”.
Entretanto, para o cientista político da UFPR Ricardo Oliveira, o engessamento das assembleias não se deve apenas ao fato de existirem poucas atribuições para o Legislativo estadual. Falta vontade política para que a maioria dos deputados estaduais brasileiros use todo seu poder, fiscalizando os governos estaduais e interferindo diretamente nas políticas públicas. “As assembleias não avançam sobre temas que desagradam o governo, dada sua subordinação ao executivo estadual. Elas deixam passar o que vem do governo ou legislam sobre o que interessa a suas clientelas eleitorais, ao invés de discutirem políticas públicas”, explica.
Já para a cientista política da UFBA Celina Souza, a desconcentração seria positiva para o sistema político do país. “Do ponto de vista do federalismo enquanto sistema que prevê conciliar unidade com diversidade, é uma medida salutar.” De acordo com ela, o poder efetivo de legislar dos parlamentos estaduais é muito limitado, o que favorece uma certa apatia entre os deputados de todo o Brasil. “Os estados não têm autonomia para legislar quase nada. Essa medida daria vida às assembleias legislativas”, afirma.
Ela destaca, porém, uma ressalva: a possibilidade de a lei ser aprovada no Congresso, mas ser considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF). “Todas as vezes que alguém entra na Justiça com uma ação por conflito de competência entre algum estado e a União, a decisão do STF tem sido a favor da União. A interpretação do Supremo é de que todo direito positivo é um direito federal”, explica.
Um exemplo foi a decisão tomada sobre o piso salarial dos professores, em abril deste ano. Cinco estados, incluindo o Paraná, entraram com uma Ação de Inconstitucionalidade contra a União, alegando que a lei, que estabelece um piso nacional para a categoria, seria de prerrogativa dos estados, por afetar seus orçamentos. Por oito votos a um, o STF decidiu que a lei era constitucional e que deveria ser respeitada por todos os estados.Custos altos
Poder limitado, gastos nem tanto
Apesar do poder esvaziado e da atuação contestada, as 26 assembleias legislativas brasileiras e a Câmara Legislativa do Distrito Federal custam caro. No total, R$ 7 bilhões podem ser gastos pelos legislativos estaduais e distritais em 2011 – o equivalente a R$ 36,84 por habitante. No Paraná, o custo dos deputados estaduais é de R$ 324 milhões – valor maior do que o orçamento de prefeituras como Guarapuava, Paranaguá e Apucarana. Os recursos são tantos que a Casa estima que vá economizar 12% de seu orçamento.
Em alguns estados, o custo anual das Assembleias por habitante supera os três dígitos, como, por exemplo, no Amapá (R$ 219,73 per capita), em Roraima (R$ 202,22) e no Acre (R$ 111,86). Já no Distrito Federal, unidade da federação com menor área, o orçamento da Câmara é de R$ 348 milhões – o equivalente a R$ 135,40 por cidadão brasiliense. Estado mais populoso do Brasil, a Casa de São Paulo tem também o menor custo per capita: R$ 16,48.
Centralização reflete formação histórica
Apesar de ser o quinto maior país do mundo, com imensas desigualdades regionais, o Brasil é uma república federativa essencialmente centralizadora. No âmbito legislativo, muitos assuntos são de competência exclusiva da União, deixando aos estados e municípios poucos temas sobre os quais legislar – ao contrário, por exemplo, dos Estados Unidos, onde os estados podem ter políticas próprias até mesmo em assuntos delicados como a pena de morte, o aborto e o uso de drogas. Além disso, a União concentra a maior parte da arrecadação e do gasto público. Até agora, em 2011, 59,8% do dinheiro arrecadado pelo Estado foi para os cofres federais – segundo dados do Impostômetro, da Associação Comercial de São Paulo.
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