A largada para 2014 começou fora do tom. Dilma
diz que os anos de presidência dos tucanos foram um "desastre" e Aécio
fala de "fracasso" do governo do PT. E, assim, ambos ignoram a
trajetória de sucesso e estabilidade do Brasil nos últimos 18 anos
Alan Rodrigues
DE OLHO NA REELEIÇÃO
Ao lado de Lula, durante festa em comemoração aos 10 anos
do PT no poder, Dilma Rousseff se colocou como candidata
Antecipada em mais de um ano, a campanha
presidencial de 2014 foi para a rua na última quarta-feira 20 num tom
enviesado. Sem apresentar propostas que os diferenciassem aos olhos do
eleitor, a presidenta Dilma Rousseff, anunciada como candidata à
reeleição durante a festa de comemoração dos 10 anos do PT no poder, e o
senador Aécio Neves (PSDB-MG), pré-candidato tucano ao Planalto,
descreveram em seus discursos um País que vai do desastre “neoliberal”
ao fracasso “petista”. Da tribuna do Senado, Aécio desfiou 13 argumentos
destinados a desqualificar a gestão do PT. “Os pilares da economia
estão em rápida deterioração, colocando em risco avanços que o País
levou anos para implementar, como a estabilidade da moeda. A grande
verdade é que, nestes dez anos, o PT exaure a herança de FHC”, disse o
tucano. Horas depois, em evento do PT na capital paulista, Dilma
respondeu dizendo ouvir na oposição “ecos dissonantes, com timbres de
atraso”. Na mesma linha adotada pelo oponente, tentou desmontar a tese
de que o governo tucano construiu as bases econômicas que permitiram os
avanços sociais alcançados na gestão do PT. “Nós não herdamos nada. Nós
construímos”, devolveu Dilma.
MIRANDO A PRESIDÊNCIA
Da tribuna do Senado, Aécio Neves tentou resgatar as conquistas do governo FHC
Desde 1967, quando o intelectual francês Guy Debord (1931-1994) criou
a expressão “Sociedade do Espetáculo” é recorrente entre os cientistas
sociais a analogia da política com o teatro. Para Debord, em tempos
dominados pela imagem, o indivíduo passa a ser e a viver alienado em um
mundo no qual a ficção se mistura à realidade, e vice-versa. Sem
recortes, a política é assim. Uma realidade em que os eleitores surgem
como meros espectadores de cenas muitas vezes fictícias protagonizadas
por políticos. Na quarta-feira 20, PT e PSDB deram corpo à teoria do
filósofo francês. Nesse embate, o PT, em cartilha batizada “O decênio
que mudou o Brasil” produzida pela Fundação Perseu Abramo, classificou a
década em que o partido esteve à frente do governo federal, 2003 a
2013, como indutora do crescimento e geração de empregos e minimizou as
realizações do governo tucano, 1995-2002. Já o PSDB afirmou que a
administração FHC ergueu os pilares que possibilitaram o País
desenvolver e acusou o PT de destruir o seu legado. A realidade é
distinta. Nos últimos 18 anos sob a gestão de PSDB e PT, o Brasil
avançou. As bem-sucedidas políticas dos dois períodos transformaram a
vida de milhões de brasileiros. Fernando Henrique herdou um quadro
econômico deteriorado. Inflação desenfreada, desconfiança internacional,
empregos em declínio, investimentos minguados, mas consolidou no País
uma moeda forte, que permitiu que os brasileiros controlassem suas
despesas e planejassem o futuro. A estabilidade econômica estabeleceu os
alicerces fundamentais para sustentar o crescimento e os avanços
sociais da era Lula e Dilma. Sob o PT, o Brasil acumulou 18,5 milhões de
novos postos formais de trabalho, a renda média dos trabalhadores
aumentou em 20,8%, o salário mínimo cresceu 70,7%, acompanhado da queda
da desigualdade de renda em 11,4% e a pobreza absoluta em 37,3%. Mas,
alheios à realidade dos fatos, os adversários na corrida presidencial
para 2014, da maneira mais conveniente para cada um deles, preferiram
avocar para si a paternidade das políticas públicas e econômicas que
nortearam os progressos do Brasil nas últimas décadas. Para analistas,
porém, os projetos de PSDB e PT se complementam. O professor de economia
da PUC-Rio, José Márcio Camargo considera “uma bobagem” contrapor um
modelo de política neoliberal a um modelo desenvolvimentista. “No fim
dos anos 80, o Brasil era desorganizado, com inflação de mais de 1.000%
ao ano e extremamente fechado. A revolução começou em 1990 e foi até
2006. Até meados da década passada, os governos eram muito parecidos. O
resto é retórica política”, diz Camargo. Ernesto Lozardo, professor de
Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo, também reconhece
que os feitos de PSDB e PT devem ser analisados em conjunto. “A
economia mundial cresceu muito nos anos Lula e, com a economia arrumada,
seu governo se beneficiou disso. Em dez anos, o PT tirou 36 milhões de
pessoas da miséria e as inseriu na economia. É como tirar da miséria uma
Espanha inteira”, afirma Lozardo.
Em meio ao debate comparativo com o PSDB, PT e partidos da base
aliada deram início ao enfrentamento direto com a oposição e lançaram a
campanha de reeleição da presidenta Dilma Rousseff. Coube ao
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ditar o tom das comemorações ao
criticar nominalmente o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o
presidenciável tucano, senador mineiro Aécio Neves. Em uma fala repleta
de ironias, o ex-presidente Lula mandou um recado à oposição ao declarar
que os adversários “podem juntar quem quiser” que não irão derrotar
Dilma nas eleições presidenciais de 2014. “Eu não vou responder a eles. A
resposta que o PT deve dar a eles é que podem se preparar e juntar quem
eles quiserem, vamos dar como resposta a reeleição da Dilma em 2014. É
essa a consagração da política do Partido dos Trabalhadores”, afirmou
Lula. Da próxima quinta-feira 28 até o mês de maio, Lula percorrerá uma
dezena de cidades inaugurando uma série de seminários em que o PT
tornará a exaltar seus dez anos à frente do governo. Algumas viagens
serão realizadas ao lado de Dilma Rousseff, com o intuito de turbinar a
sua pré-candidatura à reeleição. Enquanto não combina sua agenda com a
de Lula, Dilma fará um périplo pelo Nordeste. Na terça-feira 26, estará
ao lado do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, na
inauguração de uma barragem no Ceará. Em seguida, em data ainda a ser
confirmada, os dois também irão à Paraíba. Do lado tucano, Aécio
participará na segunda-feira 25, em Belo Horizonte, da abertura de
seminário do PSDB ao lado de Fernando Henrique Cardoso. Em março,
acompanhará em uma palestra o governador do Pará, Simão Jatene (PSDB).
Os eventos têm o objetivo de manter o senador na mídia até a convenção
nacional do PSDB marcada para 18 de maio. O giro pelo País de Aécio, no
entanto, só será intensificado no início de junho, depois da exibição
das inserções do PSDB na tevê.
Enquanto PT e PSDB se digladiam, o governador de Pernambuco, Eduardo
Campos, outro nome com pretensões eleitorais para 2014, corre por fora.
Na quinta-feira 21, um dia depois da antecipação do debate eleitoral por
tucanos e petistas, Campos pediu que não se “eleitorize” tanto a
política brasileira e sugeriu que não se mantenham as “velhas rinhas”,
numa referência ao antagonismo PT x PSDB. Disse ainda que o Brasil
precisa de “um novo debate”. As declarações foram dadas durante
cerimônia com 184 prefeitos pernambucanos, no seminário “Juntos por
Pernambuco”, no município de Gravatá, a 80 quilômetros da capital do
Estado. Apesar de seu discurso, no entanto, o evento acabou ganhando
ares de pré-candidatura. Durante seu pronunciamento, Campos foi
interrompido seis vezes por aplausos e aclamado aos gritos de
“presidente”.
Foto: Marcos Alves/Ag. O Globo; Adriano Machado
FOTO: CELSO JUNIOR/AE; Marco Ankosqui; Adriano Machado
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