67 anos da conquista de Monte Castelo, em 21 fev 1945, reunindo alguns dos últimos veteranos da Força Expedicionária Brasileira que seguiram para a Itália incorporados à unidade.
O cume da montanha foi atingido após 4 ataques repelidos pelos nazistas, entre os quais veteranos de Stalingrado. Os alemães detinham a vantagem da altura, entricheirados no alto da montanha coberta de neve.
Presentes ex-combatentes daquela época, entre eles o mais antigo, General Ruy Leal Campello, 94 anos, que recordou os seus antigos companheiros, os irmãos Tenentes Moyses e José Alberto Chahon, já falecidos e que com ele participaram das lutas em Monte Castelo, integrando as fileiras do Regimento, que leva o nome do Patrono da Arma de Infantaria, Brigadeiro Sampaio.
O Gen Campello é o atual detentor do Bastão de Comando da FEB, sucedendo o saudoso Marechal Levy Cardoso, falecido em 13 Maio 2009, aos 108 anos.
A solenidade aconteceu no Campo de Parada do Regimento Sampaio, sendo presidida pelo Cmt da 1ª. DE, Gen ABREU, ladeado pelo Ten Israel Rosenthal, Vice Presidente do Conselho Deliberatvo da ANVFEB, Gen Div Marcio Rosendo de Melo, Presidente da ANVFEB, Gen Ruy Leal Campello, e Cel Fernando Montenegro, Cmt do Regimento Sampaio.
Presentes ainda sete Oficiais Generais da Ativa, oficiais e convidados. Foi executada uma salva de 17 tiros por uma Bateria de Obuses 105 mm do 31 GAC – Grupo-Escola FEBiano, seguindo-se aposição de flores ao busto do Cmt da FEB, Marechal Mascarenhas de Moraes e o desfile de representações das Unidades FEBianas da Guarnição da Vila Militar.
Foi uma cerimonia singela e altamente significativa, pelo capital simbólico desta conquista, que representou um grande feito dos soldados de um pais sul-americano ainda rural, que soube fazer frente a agressão de uma das maiores potencias militares da época, enfrentando em inferioridade tecnológica dos então ultra-modernos U-Boats, e ainda realizando posteriormente um fantástico deslocamento de 25 mil homens através do oceano para lutar pela democracia na Itália, o que ainda hoje seria uma empreitada de vulto.
Na verdade, em 21 de fevereiro comemoramos algo mais que uma grande batalha vencida. A memória dos feitos das armas nacionais na 2ª. GM é uma das glórias da Cidadania Brasileira. Passado histórico de lutas a ser lembrado pelos professores de escolas de todos os graus, escritores, jornalistas, formadores de opinião. Manifestação da garra e coragem do brasileiro, servindo de paradigma para a sociedade. O BRASIL NA 2ª GUERRA MUNDIAL
A Campanha da FEB
A
campanha da FEB [Força Expedicionária Brasileira] durou sete meses e dezenove dias: de
16 de setembro de 1944, quando um batalhão do 6º Regimento de Infantaria iniciou a
marcha na frente do rio Serchio (entre Pietrassanta e Luca), com a conseqüente conquista
de Camaiore, até 2 de maio de 1945, dia em que a ordem de cessar fogo, vinda do comando
do 4º Corpo do Exército norte-americano, deteve a marcha do 3º Batalhão do 11º
Regimento de Infantaria, na localidade de Verselli, no vale do Pó, nas proximidades de
Novara.
Nesses quase oito meses de
guerra, a 1ª Divisão Expedicionária (FEB) lutou em duas frentes. A primeira, a do rio
Serchio, durante o outono de 1944; a Segunda, muito mais ingrata, a do rio Reno (não
confundir com o Reno alemão), ao norte de Pistóia, em plena cordilheira apenina. Aí,
por mais de dois meses, os combatentes brasileiros atravessariam a fase mais cruel do
inverno da montanha, com temperatura que, às vezes, chegava a 15ºC abaixo de zero, e sob
a constante hostilidade do fogo inimigo.
E daí, tendo como ponto de
partida o Quartel-General avançado de Porreta-Terme, avançaria para a conquista dos seus
maiores feitos: a vitória de Monte Castelo, a 21 de fevereiro de 1945; a de Montese, a 14
de abril de 1945; até o aprisionamento de toda a 148ª Divisão Alemã e remanescentes de
uma Divisão de Infantaria italiana, bem como de forças blindadas do antigo "Afrika
Korps", sucesso que teve lugar a 28 de abril de 1945, ou seja, no mesmo dia em que,
quilômetros adiante, na região do lago de Como, Benedito Mussolini caia nas mãos dos
"partigiani".
Os heróis brasileiros
Nessa Guerra, a FEB perdeu 443
homens, entre soldados e oficiais; mais 8 aviadores do 1º Grupo de Caça da FAB,
comandado pelo então coronel-aviador Nero Moura, que foram abatidos em combate no Norte
da Itália e no Sul da Áustria; e mandou para os hospitais da retaguarda perto de 3.000
feridos. Por outro lado, fez 20.573 prisioneiros, inclusive dois generais: o general Otto
Fretter Pico, comandante da 148ª Divisão de Infantaria alemã, e o general Mário
Carloni, comandante do que restava da desbaratada Divisão de Bersaglieri Itália.
Da conquista de Camaiori, na
frente do rio Serchio, à rendição da 148ª Divisão de Infantaria alemã, em
Collechio-Fornovo, a divisão brasileira não deixou de cumprir uma só das missões que
lhe foram atribuídas pelo general Willys Dale Crittemberger, comandante do 4º Corpo de
Exército norte-americano, ao qual a FEB estava incorporada. Mas nem sempre foi fácil, ou
teve êxito imediato, a execução das missões recebidas do 4º Corpo do Exército
norte-americano, ao qual a FEB estava incorporada, como foi o caso da conquista de Monte
Castelo, só alcançada depois de quatro tentativas rechaçadas pelos alemães.
Durante a maior parte do inverno
apenino, os alemães dominaram as posições da FEB no cume do Monte Castelo, do monte de
la Torraccia e de Soprassato, obrigando a tropa brasileira, que hibernava no vale do Reno,
a encobrir seus movimentos sob a proteção do nevoeiro artificial produzido pela queima
de óleo diesel.
Entre 2 de julho de 1944, data da
partida do 1º Escalão, e 8 de fevereiro de 1945, quando seguiu o 5º e último
contingente, os navios-transporte norte-americanos "General Mann" e
"General Meigs" desembarcaram na Itália, no porto de Nápoles, um total de
25.334 expedicionários brasileiros, entre oficiais e soldados. Era o efetivo de uma
Divisão.
Dados estatísticos
Dos oficiais superiores de nosso
Corpo expedicionário, 98% pertenciam à ativa do Exército, como da ativa eram 97% de
seus capitães. Em compensação, 49% dos subalternos da tropa pertenciam à reserva, isto
é, eram civis convocados nas mais diferentes partes do Brasil para completar os quadros
da Força Expedicionária Brasileira.
No seu conjunto, a 1ª Divisão
de Infantaria Expedicionária compunha-se do 1º Regimento de Infantaria (Regimento
Sampaio), sediado no Rio de Janeiro; do 6º Regimento de Infantaria, de Caçapava; do 11º
Regimento de Infantaria, com sede em São João del Rei; de quatro Grupos de Artilharia;
do 9º Batalhão de Engenharia de Aquidauana (Mato Grosso); de um Esquadrão de
Reconhecimento (Cavalaria); do 1º Batalhão de Saúde, organizado em Valença, além das
chamadas "tropas especiais" e de "corpos auxiliares", inclusive 67
enfermeiras.
Na relação dos soldados
tombados na Itália, o 1º Regimento de Infantaria (Sampaio) vem em primeiro lugar, com
152 mortos. O 11º Regimento de Infantaria (São João del Rei) perdeu 134 homens e o 6º
Regimento de Infantaria (Caçapava) teve mortos 109 soldados.
As mortes, por Estado
Todos os Estados brasileiros se
achavam representados na FEB e, entre todos, São Paulo foi o que teve maior número de
mortos: 92. Minas Gerais perdeu 80 homens; o Estado do Rio, 63.
O então Distrito Federal chorou
a morte de 50 cariocas; 29 paranaenses e 28 catarinenses ficaram no cemitério de
Pistóia, ao lado de 21 gaúchos, 17 goianos, 13 pernambucanos, 12 capixabas. 11 baianos,
6 cearenses, 6 paraibanos, 6 riograndenses do norte, 6 sergipanos, 5 alagoanos, 4
paraenses, 2 piauienses, 1 acreano e 1 amazonense.
Apenas um Estado, o Maranhão,
foi mais feliz: não teve um só morto na campanha da Força Expedicionária Brasileira.
O campo de batalha
No dispositivo militar aliado,
atuando na frente italiana, onde operavam o 5º Exército norte-americano e o 8º
Exército Britânico, a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária, ou Força
Expedicionária Brasileira, estava incorporada ao 4º Corpo de Exército americano, o
qual, por sua vez, além da Divisão brasileira, compunha-se de uma Divisão Blindada
norte-americana, uma Divisão sul-africana e outra inglesa, e ainda da 10ª Divisão de
Montanha norte-americana, que lutou junto aos brasileiros, em 1945, quando da tomada de
Monte Castelo.
A ação do 4º Corpo cobria uma
frente de 80 quilômetros e, nessa frente, a FEB ficou responsável, a partir de novembro
de 1944, quando se deslocou para o "front" apenino, por um setor de extensão de
mais ou menos 10 quilômetros.
Algumas vezes, no entanto, como
quando da ofensiva de abril de 1945, a frente guarnecida pelos soldados brasileiros chegou
a estender-se por 20 quilômetros, bastante ampla para a ação de uma Divisão. Na frente
apenina, a FEB instalou o seu Quartel General avançado em Porreta-Terme, 30 quilômetros
a norte de Pistoia.
Porreta Terme, onde os
brasileiros passaram a longa e, por vezes, asfixiante noite, que se estendeu de dezembro
de 1944 a 22 de fevereiro de 1945, fica no vale do pequeno rio Reno italiano, emparedada
entre as montanhas. Em seu tempo de paz, é uma agradável e requintada estação termal,
cujas fontes sulfurosas são famosas em toda a Itália.
O inferno astral dos "pracinhas"
Como acontece com toda unidade
combatente, a história da FEB, na campanha da Itália, está repleta de datas, não
apenas gloriosas, mas também amargas. Se alguém tivesse perguntado ao general
Mascarenhas de Morais, comandante da Força Expedicionária Brasileira, qual foi, no seu
entender, o dia mais negro da campanha na Itália, a sua resposta, certamente, teria sido
esta: "12 de dezembro de 1944."
Foi um momento profundamente
triste para os soldados brasileiros, que naquele dia viram frustrada, pela terceira vez, a
esperança de conquistar Monte Castelo antes do inverno.
O general Mascarenhas, naquela
mesma noite, no Quartel General do 4º Corpo do Exército, explicou ao general Crittemberg
os motivos do insucesso dessa operação. E ainda, na madrugada daquele dia, no seu
pequeno quarto do Quartel General, em Porreta-Terme, escreveria longa carta ao comandante
do 4º Corpo, detalhando os motivos, já expostos verbalmente na noite anterior, pelos
quais a FEB não vinha conseguindo desalojar do cume de Castelo a poderosa guarnição que
lá se mantinha.
Dizia ele, num trecho de sua
carta, hoje arrolada entre os documentos capitais da história da FEB:
"Antes de tudo, eu desejo
apresentar a minha resposta na seguinte compreensão: a capacidade ofensiva de uma tropa
repousa no aparelhamento dos meios, na sua instrução, num poderoso esforço adequado à
frente de combate e na experiência de guerra. Os meios materiais da divisão estão,
hoje, em situação normal. A sua instrução foi simplificada mediante a condição de
que poderia completá-la em situações apropriadas de combate.
"Recebeu, no vale do Reno,
um grande setor defensivo, onde cerrou ativamente o contato com o inimigo. Logo em
seguida, atacou por duas vezes, nas condições seguintes: posições organizadas; -
terreno exclusivamente favorável ao inimigo (grandes alturas, em qualquer parte, na mão
do inimigo); - em virtude da grande frente, não pôde, nas duas vezes, fazer uma
concentração de esforços para uma ação ofensiva correspondente à missão
recebida."
E rematava, o comandante dos
"pracinhas":
"Não posso, portanto, dizer
a V. Exa. Que a minha divisão não tem capacidade ofensiva."
Não basta ter, é preciso mostrar
Mas era preciso eu a Divisão
brasileira mostrasse a sua capacidade ofensiva, e aquele 12 de dezembro de 1944, arraigou
ainda mais no marechal general Mascarenhas a convicção de que a conquista de Monte
Castelo era uma questão de honra para os soldados do seu comando. Os alemães de Monte
Castelo tinham de ser derrotados, de qualquer maneira, pelos "pracinhas", e
somente por eles.
Do alto de seus cumes, mais de
uma divisão alemã tinha os olhos vigiando, dia e noite, os "pracinhas" acuados
lá embaixo. Entre os altos montes dominadas pelos alemães, um se destacava pela sua
posição estratégica: Monte Castelo. Não fosse ele tomado, e seria impossível às
forças do 4º Corpo de Exército prosseguir a marcha sobre Bolonha, objetivo que o
general Mark Clark, pretendia atingir, antes que começassem a cair as primeiras neves do
inverno próximo.
Vejamos, desde o princípio, a
odisséia do Monte Castelo.
24.11.1944 – O primeiro assalto
O general Mascarenhas instalou o
seu Quartel General em Porreta-Terme no dia 6 de novembro de 1944. Três dias depois, os
soldados brasileiros substituíam a 1ª Divisão Blindada norte-americana que, após meses
de luta, retirava-se para o descanso da retaguarda.
No dia 24, o Esquadrão de
Reconhecimento e o 3º Batalhão do Regimento de Infantaria da FEB juntavam-se à Task
Force 45, norte-americana, para a primeira ofensiva contra Monte Castelo.
A princípio, a operação foi
bem sucedida, chegando, mesmo, alguns elementos da Task Force, a alcançar o cume do Monte
Castelo, depois de se apoderarem do Monte Belvedere, ao lado. Mas a contra-ofensiva da
232ª Divisão de Infantaria alemã, que defendia Castelo e o monte della Torracia, foi
violenta, obrigando os soldados americanos e brasileiros a abandonar suas posições já
conquistadas. Somente o monte Belvedere não foi devolvido.
Os dias 24 e 25 de novembro de
1944, data da primeira tentativa de conquista do Castelo, assinalam o início da segunda
fase da luta da FEB na Itália.
A perda do Belvedere
Mas o segundo ataque a Monte
Castelo, planejado para o dia 29, apenas quatro dias após o primeiro, não iria, também,
ter êxito.
Para esse segundo ataque, o
comando da Divisão brasileira formou um grupamento constituído do 1º Batalhão do 1º
Regimento de Infantaria; do 3º Batalhão do 6º Regimento, já provado na primeira
investida; e do 3º Batalhão do 11º Regimento.
O grupamento foi colocado
sob o comando do general Zenóbio da Costa, comandante da Infantaria Divisionária, que
contaria com a cobertura de dois grupos de artilharia brasileiros e, possivelmente, com um
grupo de artilharia do 4º Corpo.
Um lamentável imprevisto,
entretanto, se verificaria, naquela noite do dia 28 de novembro, véspera do segundo
ataque a Monte Castelo: em inesperado e fulminante contra-ataque, as tropas da 232ª
Divisão de Infantaria alemã expulsaram os norte-americanos do Belvedere, tomado quatro
dias antes, deixando, assim, descoberto o flanco esquerdo das forças brasileiras.
O comando da FEB pensou em adiar
o assalto para os dias seguintes, na esperança de que o Belvedere fosse reconquistado,
mas isso seria desaconselhável, visto que as tropas já se achavam nas posições das
quais iniciariam o ataque.
29.11.1944 – O segundo assalto
Às 7 horas da manhã do dia 29
de novembro, tinha início a Segunda ofensiva brasileira contra o Monte Castelo. As
condições de tempo não podiam ser piores: chuva, céu encoberto, o que dificultou e
chegou a impedir a atuação da força aérea; havia também muita lama, o que
praticamente anulava ou, pelo menos, reduzia ao mínimo a participação dos tanques e
viaturas pesadas.
Cerca de uma hora depois de Ter
iniciado o ataque, as tropas brasileiras foram contidas pelos soldados alemães dos
1.043º, 1.044º e 1.045º Regimentos de Infantaria inimigos.
Assim, no fim da tarde, os dois
batalhões brasileiros voltaram às duas posições anteriores, sem que, durante toda a
luta, devido às condições de tempo, tivessem podido intervir eficazmente os tanques e
os aviões.
12.12.1944 – O terceiro assalto
No dia 5 de dezembro de 1944,
chegava ao Quartel General avançado da Divisão brasileira, em Porreta-Terme, a ordem do
4º Corpo americano, ao qual estávamos subordinados:
"Cabe à Divisão de
Infantaria Expedicionária capturar e manter a crista do monte della Torracia: Monte
Belvedere." Significava dizer que Monte Castelo, situado no centro da linha
Belvedere-Torracia, seria, mais uma vez, objetivo principal da próxima ofensiva
brasileira, que teria início no dia 12.
Às 6h30 do dia 12 de dezembro de
1944, tinha início o terceiro assalto dos expedicionários brasileiros a Monte Castelo. A
luta não demorou mais de cinco horas.
Contra a ofensiva dos
brasileiros, voltaram a se conjurar os mesmos fatores negativos que haviam frustrado as
tentativas anteriores: o céu fechado aos aviões, o frio intenso, a chuva persistente, o
lamaçal escorregadio em que se transformara a terra-de-ninguém, entre Gaggio Montano e
Castelo, impedindo a progressão dos tanques.
Mesmo assim, as vanguardas
brasileiras conseguiram chegar além da metade do caminho que levava a Monte Castelo. À
esquerda, os "pracinhas" comquistaram Zolfo, a apenas 200 metros do cume e, ao
centro, chegaram a Abetaia, onde foram detidos por cerrado fogo da artilharia alemã.
Uma vez mais, a derrota
Ali, em Abetaia, antessala do
Castelo, mais de 20 brasileiros tombariam, mortos, naquele 12 de dezembro, e seus
cadáveres, enrijecidos e enegrecidos pelo frio, só seriam retirados no dia 22 de
fevereiro, depois da conquista de Monte Castelo.
Esse terceiro ataque a Castelo,
mais uma vez rechaçado, provou que os planos táticos para a conquista da posição
teriam de ser inteiramente modificados. Era evidente que Monte Castelo não poderia ser
arrebatado aos alemães apenas com o concurso de algumas unidades da 1ª Divisão de
Infantaria Expedicionária (DIE), mas sim com o empenho de toda a divisão brasileira na
ofensiva.
Isso se fazia mais presente
agora, quando os alemães, alertados pela insistência do comando na conquista de Monte
Castelo, perceberam que aquela era uma posição que não deveriam entregar. A prova disso
é que, após o segundo ataque a Castelo, o inimigo tratou de reforçar suas tropas no
cume e no lado norte do morro, substituindo os regimentos que o defendiam por unidades
novas e descansadas, trazidas da retaguarda.
Estabeleceu-se, então, entre
brasileiros e alemães, uma determinação paralela: por parte dos brasileiros, a de que
Castelo teria de ser conquistado de qualquer maneira; por parte dos alemães, a de que o
monte não deveria ser abandonado em hipótese alguma.
Tinham sido difíceis e cruentos
os três primeiros ataques a Monte Castelo e, somente no dia 12 de dezembro, havia
desfalcado os batalhões brasileiros em mais de 150 homens. O quarto ataque, e que seria o
último, prometia ainda ser mais difícil e mais sangrento.
Pausa para a neve
Enquanto isso, o inverno, que se
apresentou como um dos mais rigorosos registrados nos últimos cinqüenta anos ma região
apenina, começou a estender o seu lençol branco por toda a frente italiana.
Na cordilheira, os termômetros
baixaram subitamente dez, quinze, e até dezenove graus abaixo de zero. E a neve, que
começara a cair antes de 24 de dezembro, já cobria todo o setor onde operavam os nossos
soldados.
Viram-se, assim, os combatentes
brasileiros, diante de um outro inimigo igualmente impiedoso e, para eles, até então
desconhecido. Como seria possível aos expedicionários brasileiros, gente dos trópicos,
enfrentar o mar branco e gelado que os cercava e os fazia tiritar ?
Foi, portanto, com alívio, e
até mesmo com alegria, que a vanguarda da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária
(DIE), estendida por quinze quilômetros, recebeu a notícia de que o comando do 5º
Exército norte-americano havia voltado atrás na sua decisão de "chegar a Bolonha
antes do Natal"; e que, por conseguinte, ficava suspensa a ofensiva geral planejada
para os próximos dias.
A frente italiana entrava em
recesso, numa longa trégua branca. Até fevereiro, na frente apascentada pela neve, os
transidos homens que a defendiam, limitaram sua guerra dos dois lados, a operações de
patrulha e a uma modorrenta vigilância nas trincheiras, nos postos de observação e nos
"fox-holes" avançados.
Durante dois meses e dez dias, o
compasso de espera impôs, na frente italiana, o ritmo de guerra, num intervalo que só
seria interrompido no dia 19 de fevereiro de 1945, data estabelecida pelo comando do 5º
Exército norte-americano para o começo da nova e derradeira ofensiva que levaria as
tropas aliadas, e entre elas a FEB, para além do vale do Panaro, além do vale do Pó,
até as fronteiras com a França.
O Plano Encore
O plano chamava-se
"Encore" [bis, repetição]. Nele seriam empregadas todas as forças do 4º
Corpo do Exército e seu objetivo seria o de expulsar o inimigo do setor do Reno italiano,
e persegui-lo, depois, através do vale do rio Panaro.
No Plano Encore, a tarefa dos
brasileiros seria, mais uma vez, a de desalojar os alemães de Monte Castelo. Agora, no
entanto, a tática seria outra, exatamente aquela que o general Mascarenhas de Morais
sempre defendera, ou seja, a que partia da premissa de que a poderosa posição alemã,
situada no setor mais agressivo e mais íngreme do espinhaço apenino, só poderia ser
comquistada se, no seu assalto, fosse empenhada toda a Divisão brasileira.
E foi exatamente esse ponto de
vista do comandante da FEB que se impôs na reunião prévia dos comandantes do 4º Corpo
do Exército.
Chegou a hora de a onça beber água
No dia 20 de fevereiro de 1945, as tropas
brasileiras se colocaram em posição de combate, com os três regimentos da Divisão
prontos para convergir na direção de Monte Castelo.
À esquerda dessas forças, a
10ª Divisão de Montanha norte-americana, experimentada tropa de elite. Devia apoderar-se
do monte della Torracia, garantindo, assim, o flanco mais vulnerável do setor defendido
pelos soldados brasileiros.
A FEB, na sua totalidade, seria
convocada para o último assalto a Castelo, mas coube aos três batalhões do 1º
Regimento de Infantaria a missão de avançar sobre Castelo, dominá-lo, e, de lá,
expulsar os integrantes da 232ª Divisão de Infantaria alemã.
O ataque teve início na hora
prevista: seis horas da manhã. E, às 17h50 da tarde daquele 21 de fevereiro de 1945, eu
me encontrava no Posto de Comando do general Cordeiro de Faria, comandante da Artilharia
Divisionária, quando escutei a voz do tenente-coronel, pelo rádio de campanha:
"Estou no cume do
Castelo."
Os "pracinhas" tomam posição
Na véspera do dia 21 de
fevereiro de 1945, eu havia pedido um jipe ao major Sousa Junior, encarregado dos
correspondentes de guerra, para ir a Nápoles, esperar o 4º Escalão das Tropas
brasileiras, que chegaria a 23. O major, então, me perguntou:
"Você prefere esperar o
Escalão ou uma coisa melhor?
A "coisa melhor" era a
ofensiva brasileira do dia 21 sobre o Monte Castelo. Manhã cedo, no Quartel General
recuado, em Pistóia, fomos avisados de que nossa artilharia abriria cerrado fogo, naquela
noite, conta posições inimigas nas montanhas que, há três meses, nos barravam o
caminho.
Tomamos um café apressado,
enchemos os bolsos de chocolate e chicletes, e dirigimos nossos jipes, sob uma temperatura
de 5ºC abaixo de zero, para o Quartel General avançado em Porreta-Terme, já nos
Apeninos.
Minutos depois, eu já tomava de
assalto o Posto de Observação Avançado do general Cordeiro de Faria, que comandava a
nossa Artilharia, e lá me instalei por todo o dia.
Eram 8 horas da manhã quando o
general me cedeu seu lugar diante da luneta binocular e me disse:
"Começamos a atacar às 6 horas
da manhã. As tropas em ofensiva constituem o 1º Regimento de Infantaria, o Sampaio. Os
seus batalhões avançam na seguinte ordem: o 1º Batalhão, comandado pelo major Olívio
Gondim de Uzeda, segue pela esquerda; o 2º Batalhão, comandado pelo major Siseno
Sarmento, vai pelo centro; e o 3º Batalhão, comandado pelo tenente-coronel Emílio
Rodrigues Franklin, partirá da direita.
"Nossa intenção"
prosseguiu "é envolver todo o morro e, em coordenação com a ofensiva americana que
já conquistou Belvedere, e arrancá-lo das mãos nazistas até o fim da tarde de
hoje."
Como num filme
Vejo, com a ajuda da luneta, os
nossos "pracinhas" agachados lá na frente, grupos aqui e ali rastejando em
direção ao cume, de onde as terríveis metralhadoras alemãs (as "lurdinhas")
atiram, imitando curtas e sinistras gargalhadas.
Agora mesmo, um de nossos
soldados encostou-se num pedaço de muro destruído e aponta sua Thompson para qualquer
lugar, lá em cima. Os morteiros alemães rebentam nas faldas do sul, mas nossa artilharia
reinicia seu canhoneio sistemático e certeiro, como fizera toda a noite. Escuto o silvo
das granadas passando sobre nós, vejo-as explodirem lá adiante, numa coroa de fumaça
que vai envolvendo o Castelo numa aura cinzenta.
Uma de nossas baterias parece que
perdeu a mira, e seus tiros caem muito aquém, quase num dos setores brasileiros. O
general Cordeiro dá ordens secas e rápidas e, durante alguns minutos, seus
ajudantes-de-ordens procuram. Servindo-se dos cinco telefones de campanha e dos dois
rádios, localizar o canhão de má pontaria.
Finalmente, o capitão
Durval de Alvarenga Souto Maior, comandante da 1ª Bateria do 1º Grupo de Artilharia
descobre que o canhão pertence à sua unidade. Dá uma ordem rápida pelo rádio e os
tiros, agora, estão perfeitamente ajustados no eficiente conjunto de toda a artilharia.
À esquerda, sobre posições
americanas além do Belvedere, cinco ou seis aviões Thunderbolt descem em picada,
rápido, e metralham impiedosamente, os nazistas, lá embaixo.
Ataque conjugado
Quando cheguei ao Posto de
Observação do general Cordeiro, pouco depois de iniciada a ofensiva, a situação era
mais ou menos esta: os batalhões já haviam avançado, com exceção do 2º Batalhão,
comandado pelo major Siseno, que partiria de Gaggio Montano às 11h35.
Os alemães tentavam impedir a
progressão dos brasileiros, insistindo num fogo concentrado de seus morteiros. Eu sabia
que a conquista de Monte Castelo só seria consumada depois que os americanos, que haviam
partido de Belvedere, tivessem se apoderado de Torraccia, um pico que, mais atrás,
dominava todo o morro sobre o qual avançavam nossos homens.
O ataque americano, que começara
na noite anterior, estava sendo efetuado por uma Divisão especializada, a 10ª Divisão
de Montanha, recentemente chegada àquele setor. Às 10 horas da manhã, os americanos se
encontravam além de Menzacona, meio caminho entre Belvedere e Toraccia.
Menzacona havia ficado em poder
de um dos batalhões brasileiros, com o qual os americanos haviam feito ligação nos
primeiros instantes da ofensiva. Então, o avanço combinado, no lado direito, tomou o
seguinte aspecto: os brasileiros deixaram alguns homens em Menzacona e seguiram em
direção a Castelo, pela esquerda, comandados pelo major Uzeda; os americanos
deslocaram-se pela frente, avançando em direção a Toraccia.
Diário de Campanha
Daí por diante, os
acontecimentos se sucederam nesta ordem, conforme me diziam os quase indecifráveis
apontamentos que fui tomando naquele momento, e que, vinte e cinco anos depois, volto a
consultar:
Ao meio-dia, o general Mark
Clark, comandante-chefe aliado na frente italiana; o general Truscott, comandante do 5º
Exército americano; o general Clittenberg, comandante do 4º Corpo do Exército
americano, ao qual estava incorporada a FEB; e o comandante-chefe das Forças Aéreas do
Mediterrâneo, estiveram em visita ao general Mascarenhas de Morais, no seu Posto de
Observação, localizado a três quilômetros à direita do Posto de Observação do
general Cordeiro.
Às 12h30, o major Uzeda, que
avançava pela esquerda, pedia proteção da Artilharia para alcançar um ponto à sua
frente, e o general Cordeiro ordenou às baterias: "Cinco rajadas de morteiro sobre a
cota 813."
Às 23:55, um dos batalhões
avisava que haviam sido avistados reforços alemães que começavam a chegar a Castelo. Do
lado direito, o coronel Franklin fora detido com seu 3º Batalhão. O major Uzeda prevenia
pelo rádio que iria tentar envolver Castelo pela esquerda.
Às 14h20, o major Uzeda
avisou que ia atacar a cota 920, penúltimo ponto antes da crista de Castelo. Pediu mais
um tiro ao general Cordeiro, que logo transmitia novas ordens às baterias.
O major Uzeda se encontrava
precisamente a cinco quilômetros do Posto de Observação, tendo realizado, já, uma
progressão de mais de dois quilômetros.
O diálogo entre Alma 1, Alma 2 e
Alma 3 (nome de código dos observadores junto aos batalhões) e Lata 1, Lata 2 e Lata 3
(oficiais de ligação nos batalhões), repete-se, de minuto a minuto.
Às 15 horas, o major Uzeda já
se encontrava firme em 930, mas seu avanço foi detido pelas metralhadoras alemãs. Seu
objetivo final será a cota 977, ou seja, o cume do Castelo, onde tencionava chegar às
16h30.
Então, ficou combinado que, às
16h20, quando seu batalhão iniciasse o definitivo arranco sobre a crista do Castelo, toda
a artilharia divisionária concentraria seus fogos sobre as encostas e o cume do monte.
Estávamos disparando com canhões 105, 155, e com morteiros.
Às 15h05, o general
Cordeiro virou-se para mim e me disse que, até aquele momento, calculava já haver
gasto "uns 8 milhões de cruzeiros de munição com seus disparos de
artilharia." (Feita a correção monetária, quanto seria hoje?)
Às 15h30, o major Uzeda
informava pelo rádio: "Meus homens estão prontos para atacar." Olhei pelo
binóculo que o coronel Miranda me emprestou por alguns minutos e vi, lá em cima, na cota
930, os soldados, em formação de ataque, esparsos pelos pequenos vales e depressões, ou
deitados no resto da neve que o sol ainda não havia limpado.
Entre 13h30 e 13h50,
estabeleceu-se uma relativa calma: somente os morteiros alemães, os aviões de bombardeio
que metralhavam as costas de Toraccia e um teco-teco brasileiro (que observava tranqüilo
e solitário, como um pássaro sem pressa, as posições da artilharia inimiga)
continuavam em ação.
O Posto de Observação
O Posto de Observação do
general Cordeiro situava-se numa elevação do terreno, e lá embaixo eu via todo o vale
e, a menos de um quilômetro distante de nós, um dos grupos de nossa artilharia. Quando
suas peças disparavam, toda a casa estremecia, e xícaras e copos tremiam na mesa, com um
barulho cristalino.
As pessoas que moravam ali, no
velho chalé de paredes amarelas, haviam sido expulsas pela guerra e, ao que parece, não
tiveram nem tempo para levar suas coisas. Os móveis estavam intactos, viam-se litografias
nas paredes, um Cristo muito pálido, e fotografias de homens fardados e mulheres em
trajes de inverno.
Num dos cantos da sala, onde o
general havia postado a sua luneta de grande alcance, descobri um "ricoordo
nuziale" [certificado de casamento] numa moldura dourada, e nele lembrava-se que, no
dia 11 de novembro de 1927, numa igreja de Bolonha, casaram-se Dino Bettochi e Caterina
Cioni.
Às 16h05, o coronel Franklin
informou pelo rádio que seus homens ocuparam Fornelo, à direita de Castelo e próximo do
seu cume. Tratava-se de um ponto de resistência do inimigo, ninho de metralhadoras, que
acabava de ser dominado pelos nossos soldados. Fornelo foi um dos pontos em que foram
barradas, em novembro e dezembro de 1944, os anteriores ataques brasileiros a Castelo.
Já se vão mais de dez horas de luta
Não
resta dúvida de que o ponto mais empolgante de toda a luta do dia 21 teve lugar às
16h20, quando toda a Artilharia Divisionária concentrou seus fogos sobre Castelo.
Começava a anoitecer. Noite de
inverno europeu chega cedo. Os obuses explodiam em chamas altas, e eu as via muito
próximas, com o auxílio do binóculo.
Negros buracos começaram a
aparecer na encosta do Castelo, e logo o cume ficava transformado numa espécie de cratera
de vulcão em atividade. O major Uzeda avançava, protegido pela fumaça intencional, e
nossas metralhadoras também trabalhavam ativamente.
No Posto de Observação, um
silêncio pesado: ninguém dizia nada. O general Cordeiro havia grudado os olhos em sua
luneta e seus dedos (até disso tomei nota) alisavam mecanicamente um pedaço da mesa.
Às 17:45,o general Cordeiro de
Faria deixou, por um instante, suas lunetas, e disse, voltando-se para mim: "Castelo
está praticamente conquistado."
Chegaram, também, naquele
momento, informações sobre a situação dos americanos, que não haviam conseguido,
ainda, tomar Toraccia, o que significava dizer que o avanço brasileiro sobre Castelo
teria de ser consumado com Toraccia, ponto tão estratégico, ainda nas mãos dos
alemães.
Chegando ao topo do monte
Às 17h50, a voz do coronel
Franklin chegava forte pelo rádio: "Estou no cume do Castelo." E pedia mais
fogos de artilharia sobre pontos em poder do inimigo, além do monte. "Castelo é
nosso," disse-me o general Cordeiro.
Mais três minutos, e as baterias
estavam canhoneando Caselina, Serra e Bela Vista. Os alemães responderam com morteiros,
mas essa reação de nada iria adiantar, porque, como me dizia, no dia seguinte, o coronel
Franklin, "estamos em Castelo e ninguém nos tira mais daqui."
Eram mais de sete e meia da
noite, noite hibernal, fechada, quando voltei a subir no meu jipe, que deixara ao lado do
Posto de Observação. Nossa artilharia continuava a castigar, incansável. E Monte
Castelo estava bem à minha frente, já domado.
Abetaia estava deserta
No dia seguinte, 22 de fevereiro
de 1945, o jipe me deixou, logo cedo, em Abetaia, um ajuntamento de meia dúzia de casas
destroçadas pelo canhoneio dos últimos quatro meses.
Abetaia é um nome que iria
ficar, definitivamente, na lembrança de todos os soldados da Força Expedicionária
Brasileira. Ali, a partir de novembro do ano anterior, a FEB sofreu alguns dos seus piores
instantes. E ali ficaram, para sempre, vinte e dois soldados brasileiros, atingidos
mortalmente pelos alemães que atiravam em cima de Castelo.
Durante muito tempo, Abetaia foi
"terra de ninguém". Sua pequena população camponesa foi expulsa de suas
casas, das quais só restam, agora, ruínas. Noite e dia, durante meses seguidos,
patrulhas brasileiras e alemãs ali se defrontavam em combates violentos.
Na noite do dia 20 de fevereiro,
véspera do definitivo ataque a Monte Castelo, o segundo-tenente Cleber Gomes Ferreira, da
6ª Companhia do 1º Regimento de Infantaria, recebeu ordem de executar uma tarefa
difícil e penosa: com os trinta e oito homens da sua companhia, ele teria que ocupar
Abetaia, tão próxima da vanguarda alemã. Seria, aquela, uma operação diversionista,
uma manobra visando fazer com que os alemães acreditassem que o ataque brasileiro
partiria dali, de Abetaia.
À meia-noite do dia 20, o
tenente Cleber começou a deslocar-se com seus homens e, logo depois, chegavam a Abetaia.
"Esperamos um choque com os nazistas, sempre atentos. Mas Abetaia estava
deserta".
Ainda assim, os homens tinham que
caminhar com muita cautela, devido às minas. Uma pisada em falso na grama dos lados, ou a
imprudência de recolher alguma coisa que os alemães haviam deixado, muitas vezes, de
propósito, poderia significar a morte.
E deram sua vida pela pátria
Depois que o ataque a Monte
Castelo chegou ao fim, às 17h30 do dia 21, o tenente Cleber pôde executar a tarefa
específica para a qual fora designado: recolher os cadáveres dos soldados brasileiros,
exatamente vinte e seis deles, que haviam tombado em Abetaia, quando do ataque frustrado a
Monte Castelo, em 12 de dezembro de 1944.
"Passamos toda a manhã
recolhendo os cadáveres. Também encontramos alguns alemães mortos, mas seus cadáveres
escondiam armadilhas fatais. É que os nazistas defendiam a tese de que um deles, morto,
ainda pode matar alguém."
Fechando o cerco
No dia 21, como já foi dito, os
brasileiros fincaram pé no cume do Castelo; passaram a noite lá em cima, intensamente
hostilizados pela artilharia alemã e, pela manhã, começaram a estender suas linhas de
comunicação.
A 23 de fevereiro, dois dias
após a tomada de Monte Castelo, o Regimento Sampaio, e o 2º Batalhão do 11º Regimento
de Infantaria, receberam a missão de se apoderar da região de La Serra, para desafogar
as tropas norte-americanas detidas em La Possione e adjacências.
A vitória brasileira de La Serra
possibilitou à FEB apoderar-se da linha Roncovecchio-Seneveglio e, com isso, terminava a
primeira fase do Plano Encore.
Castelnuovo
A 5 de março de 1945 teve lugar
o combate para a captura de Castelnuovo. Tomaram parte, nesse assalto, o 1º Batalhão do
6º Regimento de Infantaria; o 1º Batalhão do 11º Regimento de Infantaria; e o 2º
Batalhão do 11º Regimento de Infantaria. Naquele mesmo dia, Castelnuovo era tomado.
A 10 de março, a Divisão
brasileira recebia nova tarefa, transferindo-se para a bacia do Panaro, numa extensão de
quase quinze quilômetros.
Em Montese, trinta e quatro mortos
A ação ofensiva desencadeada
contra o maciço de Montese se realizou a 14 de abril de 1945, tendo sido dirigida do alto
do Observatório de Sassomolare. A operação estava integrada pelas seguintes divisões:
1ª Divisão de Montanha, comandada pelo major-general George P. Hays; 1ª Divisão
blindada, sob o comando do major-general Vernon Pritchard; 34ª Divisão de Infantaria,
comandada pelo major-general John Coulter; e 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária
(Força Expedicionária Brasileira), sob o comando do general Mascarenhas de Morais.
A primeira tropa brasileira que
chegou a penetrar em Montese, ainda no dia 1º de abril [portanto, 14 dias antes], foi um
pelotão pertencente ao 1º Batalhão do 11º Regimento de Infantaria. Mas os combates
para a conquista da importante posição se desenrolaram até o dia 18 de abril de 1945,
quando finalmente Montese foi conquistada, conquista que custou aos brasileiros 34 mortos,
382 feridos e 10 extraviados.
A FEB faz vinte mil prisioneiros
A 22 de abril, estava em poder
das tropas brasileiras toda a parte oriental do médio Panaro, após a conquista de Zocca.
E, finalmente, no dia 28, teria
lugar um dos mais importantes feitos de toda a campanha da FEB na Itália: a rendição da
148ª Divisão alemã, o restante da 90ª Divisão Blindada alemã e da Divisão
Bersaglieri Itália, que integravam o 14º Exército alemão, num total de cerca de 20 mil
prisioneiros, entre soldados e oficiais. (Durante toda a campanha da Itália, a FEB fez
20.753 prisioneiros.)
A 148ª Divisão Panzer,
comandada pelo general Fretter Pico, rendeu-se aos brasileiros em Collechio-Fornovo, entre
Milão e Alessandria, após demoradas tratativas entre o comando alemão e o então
tenente-coronel Nelson de Melo, comandante do 6º Regimento de Infantaria, negociações
essas que tiveram início na madrugada do dia 28 de abril, e que só terminaram com a
conseqüente rendição, às 11 horas do mesmo dia.Joel Silveira, correspondente de Guerra, em
trabalho realizado para a Revista "Enciclopédia Block" no ano de 1970
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