Depois da crise envolvendo o cônsul-geral do
Brasil em Sydney, a Comissão de Direitos Humanos do Senado vai
investigar centenas de casos similares na diplomacia brasileira
Depois de muita resistência, a cúpula do
Itamaraty decidiu afastar de seus respectivos cargos o cônsul-geral do
Brasil em Sydney (Austrália), Américo Fontenelle, e seu adjunto, Cesar
Cidade. A exoneração foi publicada na semana passada no Diário Oficial,
por recomendação do Palácio do Planalto. Denunciados por assédio moral,
sexual e até homofobia contra funcionários, os dois diplomatas, que se
dizem inocentes, responderão a um processo administrativo disciplinar
cuja conclusão deve sair em um mês. A medida, considerada rara num
ambiente extremamente corporativista, tornou-se inevitável após a
convocação do chanceler Antonio Patriota para prestar esclarecimentos à
Comissão de Direitos Humanos do Senado. A audiência foi marcada para o
dia 24 de junho. Até lá, Patriota espera já ter em mãos uma “resposta”
para apresentar aos parlamentares. O objetivo é tentar mostrar que se
tratou de um caso isolado e tentar pôr um ponto final à crescente onda
de queixas de servidores que trabalham no Exterior.
ESCÂNDALO
Funcionários do serviço diplomático protestam contra os abusos
e o cônsul Américo Fontenelle, exonerado na semana passada
A estratégia do ministro, porém, pode ter efeito limitado. O
Sindicato dos Servidores do Ministério das Relações Exteriores
(Sinditamaraty), a Associação de Oficiais de Chancelaria (Asof) e a
Associação dos Funcionários Locais do Serviço Exterior (Aflex) prometem
levar à audiência uma lista com mais de uma centena de casos. Entre as
denúncias, constam abusos e agressões e desrespeito às leis
trabalhistas. As queixas têm origem especialmente no quadro de
funcionários de apoio administrativo, como oficiais e assistentes de
chancelaria, secretárias, motoristas e garçons, tratados pelos
diplomatas como profissionais de nível inferior. Também estão na lista
dos sindicalistas as queixas de que o Itamaraty não deposita fundo de
garantia de trabalhadores contratados por embaixadas e consulados mundo
afora. “As pessoas trabalham por anos, décadas, e ficam sem saber a quem
recorrer na hora da aposentadoria”, afirma Lilian Maya, advogada da
Aflex. Maya estima que existam mais de 3,5 mil funcionários contratados
em representações brasileiras, mas o Itamaraty se nega a fornecer o
número real. “Eles me cobraram procuração de cada um desses funcionários
para poder representá-los, mas não me fornecem a lista com os nomes”,
diz. A falta de transparência, ao lado do corporativismo, parece ser a
tônica da atual gestão no Itamaraty. Só depois de pressão da mídia, por
exemplo, o MRE passou a divulgar o salário de diplomatas no Portal da
Transparência. A partir daí, descobriram-se diplomatas remunerados sem
função e até super-salários. Sabe lá o que virá à luz na audiência do
dia 24.
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