A exumação de João Goulart, decidida pela Comissão da Verdade, pode dirimir de uma vez por todas, 36 anos depois, as dúvidas sobre a morte do ex-presidente deposto em 1964
por Sérgio PardellasAlém de espionado, Goulart sofria constantes ameaças. Em agosto de 1973, seu escritório em Buenos Aires foi invadido, mas o imóvel estava vazio. Em recente depoimento a jornalistas do PDT, Maria Tereza contou que a família recebia telefonemas anônimos. “Uma vez ouvi de um homem: ‘Sai daí porque daqui a pouco nós vamos chegar e levar você e seus filhos para o fim do mundo!’”O cineasta Silvio Tendler, diretor do documentário Jango, de 1984, revela ter ouvido de funcionários do hotel Liberty, onde o ex-presidente se hospedava em Buenos Aires, que, quando Goulart ligava o carro, todos se afastavam. “Tinham medo de bomba”, diz Tendler.
João Goulart temia por sua vida. Em 1973,
três anos antes de morrer, em carta enviada aos filhos que moravam em
Londres, o ex-presidente manifestou o desejo de se mudar para Paris. Mal
sabia Jango que, enquanto escrevia a carta, ele era monitorado pelo
agente uruguaio Mario Neira Barreiro. O uruguaio é o autor da principal
denúncia sobre o assassinato do ex-presidente. Ele está detido desde
2003 na Penitenciária de Charqueadas, no Rio Grande do Sul, por assalto a
banco e tráfico de armas. Sob o codinome Tenente Tamuz, pertenceu ao
grupo Gama, do serviço de inteligência uruguaio. De acordo com Barreiro,
ele espionou Jango de 1973 até o dia de sua morte. Segundo ele, João
Goulart teria sido envenenado com um tipo de cloreto desidratado
transformado em comprimido e colocado em meio aos medicamentos que ele
tomava para o coração. O veneno seria capaz de acelerar o fluxo
sanguíneo, provocando hipertensão. Horas depois da ingestão, leva a um
derrame ou a um infarto. O responsável pela adulteração dos remédios de
Jango, segundo Barreiro, teria sido Héctor Rodríguez, um agente
argentino. Há, no entanto, contradições em seus depoimentos prestados
desde 2002. A um colegiado da Câmara, afirmou que o frasco havia sido
trocado. Em entrevista à imprensa, ele sustentou que vários comprimidos
foram misturados a diversos frascos. Em conversa com o filho de Jango,
João Vicente, disse que uma cápsula foi incluída. O embaixador e
cientista político Moniz Bandeira, que esteve com Jango no Uruguai e na
Argentina, classifica a versão de Barreiro de “charlatanice”. “Podem até
pesquisar. O que não é admissível é apresentar como verdade uma versão
que não pode ser comprovada por documentos”, questiona Moniz. A riqueza
de detalhes sobre o cotidiano de Jango, apresentada no depoimento do
uruguaio Mario Barreiro, porém, impressionou a família. “Sempre achei
que meu marido morreu de forma natural, mas, depois de anos de
falatório, nosso pensamento vai se transformando. Agora, já tenho
dúvidas se Jango teria morrido mesmo de infarto”, disse a viúva quando
soube da exumação pela imprensa.
Em duas semanas, uma força-tarefa – formada pelos integrantes da Comissão da Verdade, da Polícia Federal, da Ordem dos Advogados do Brasil e do Ministério Público Federal no Rio Grande do Sul – se reunirá com os peritos para definir a data exata da colheita dos restos mortais de João Goulart. Já está decidido que a exumação será administrativa. Ou seja, não haverá necessidade de uma medida judicial para consumá-la, bastando um pedido administrativo ao cemitério municipal para ter acesso ao corpo. Os custos serão bancados pela Secretaria de Direitos Humanos, órgão vinculado à Presidência da República. Em São Borja, a notícia provocou alvoroço. Na última terça-feira 14, a prefeitura do município gaúcho, na fronteira com a Argentina, reforçou a segurança no cemitério onde o ex-presidente está enterrado há 36 anos. Um vigia de uma empresa terceirizada prioriza a guarda junto ao túmulo.
Em duas semanas, uma força-tarefa – formada pelos integrantes da Comissão da Verdade, da Polícia Federal, da Ordem dos Advogados do Brasil e do Ministério Público Federal no Rio Grande do Sul – se reunirá com os peritos para definir a data exata da colheita dos restos mortais de João Goulart. Já está decidido que a exumação será administrativa. Ou seja, não haverá necessidade de uma medida judicial para consumá-la, bastando um pedido administrativo ao cemitério municipal para ter acesso ao corpo. Os custos serão bancados pela Secretaria de Direitos Humanos, órgão vinculado à Presidência da República. Em São Borja, a notícia provocou alvoroço. Na última terça-feira 14, a prefeitura do município gaúcho, na fronteira com a Argentina, reforçou a segurança no cemitério onde o ex-presidente está enterrado há 36 anos. Um vigia de uma empresa terceirizada prioriza a guarda junto ao túmulo.
Fotos: Claudio Gottfried/Agência RBS e Divulgação/Caliban; Adriano Machado, ARQUIVO/AGêNCIA ESTADO/AE e Arquivo/Agência O Globo
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