A leitura da História fica mais interessante quanto a narrativa é pontuada por cenas carregadas de simbolismo.
Por exemplo: a Idade Clássica teve o seu epílogo no incêndio da biblioteca de Alexandria.
Se a era Lula se restringisse ao primeiro reinado, seu resumo seria a degradação ética simbolizada pelo escândalo do mensalão.
Para sorte de Lula, o eleitor lhe deu a sobrevida de um segundo reinado. Agora, inebriado pela popularidade, ele tenta reescrever a história, higienizando-a.
Santificado pelas pesquisas, Lula fala ao seu povo como um Jesus Cristo que aparece aos gentios, na figura dos Reis Magos.
A celebração a aparição do filho do Padre Eterno é celebrada com a festa litúrgica da Epifania. Caía no dia 6 de janeiro. Porém...
Porém, com a reforma do calendário litúrgico, de 1969, passou a ser comemorada no segundo domingo depois do Natal.
Pois bem. Nesta quinta (30), a poucas horas do segundo domingo pós-natalino de 2010, Lula pôs-se a reescrever a epifania de seu evangelho.
Em entrevista veiculada pela TV Brasil, referiu-se ao companheiro José Dirceu com palavras enaltecedoras:
"Dirceu é um dos políticos mais competentes que o Brasil tem. Tem pouca gente com a competência de formação política que ele tem...”
Para o neo-Cristo, o único “erro” daquele que o Ministério Público chamou de “chefe da quadrilha” foi “trazer para a Casa Civil todas as tensões políticas da República".
Semanas atrás, ao sair de um café da manhã com Lula, o próprio Dirceu dissera que, fora do governo, o presidente se dedicaria a desmontar “a farsa do mensalão”.
Antes mesmo de “desencarnar”, Lula executa a promessa. Já disse, por exemplo, que o mensalão foi uma “tentativa de golpe”.
Diante das câmeras da emissora oficial, declarou que, de pijamas, vai esmiuçar o caso “com mais carinho”. Deu de ombros para a denúncia do ex-procurador-geral Antonio Fernando de Souza, convertida em ação penal pelo STF.
Preferiu realçar os desdobramentos da encrenca no Congresso: "O cidadão que acusou [Roberto Jefferson] foi cassado porque não provou a acusação...”
“...Se eu não provo a acusação, porque a acusação vai ser considerada? (...) Se tudo é verdade, não sei...”
“...Se tudo é mentira, não sei. Quero conversar muito e ler muito sobre o que aconteceu, conversar com as pessoas".
É como se Lula chamasse de levianos os investigadores da Polícia Federal, responsáveis pela coleta dos dados que recheiam a denúncia.
É como se tachasse de néscio o doutor Antonio Fernando, que enxergou crime nas “valerices” detectadas no inquérito.
É como se classificasse de imbecis os ministros do Supremo, que viram na peça do procurador-geral indícios suficientes para levar 40 pessoas ao banco dos réus.
Lula talvez devesse iniciar o seu ciclo de “conversas” por Duda Mendonça. Seu ex-marqueteiro reproduziria o depoimento que deu no Senado.
Relembraria que parte da verba que custeou sua vitoriosa campanha de 2002 veio na forma de “valerianas” depositadas clandestinamente no exterior.
Lula dedicou parte da entrevista à TV Brasil à desqualificação da imprensa, vitrine do strip-tease moral do petismo, levado ao paroxismo nos idos mensaleiros de 2005.
Repisou o lero-lero de que, para evitar a azia, parou de ler o noticiário. “Tomei a atitude de não ficar com a raiva que eles [repórteres] pensam que eu vou ficar...”
“...Pensam que eu vou ler, vou ficar com azia. Disse ao Franklin [Martins]: 'vou parar de lê-los, não vou ficar com azia. E não perdi nada".
Tomado pelas palavras, Lula livrou-se da acidez estomacal, mas ganhou uma amnésia. Esqueceu, por exemplo, do que disse numa cadeia de TV em 2005.
Coisas assim: “Quero dizer a vocês, com toda a franqueza, eu me sinto traído. Traído por práticas inaceitáveis das quais nunca tive conhecimento”.
Ou assim: “Estou indignado pelas revelações que aparecem a cada dia, e que chocam o país. O PT foi criado justamente para fortalecer a ética na política”.
Hoje, no papel de historiador de si mesmo, diz que a mídia “exagera”, faz denúncias sem provas. Afora o mensalão, sublimou os aloprados, o caseirogate, a Erenicegate...
"Se for ver algumas manchetes dos jornais, esse governo não existiu [...]. A imprensa se acha onipotente e que pode criticar todo mundo...”
“...E eu não posso dizer que está errado. Responsabilidade vale para o presidente, jornalista e dono de jornal. Não posso dizer coisas sem ter que provar nada".
Em meio à celebração dos “feitos”, Lula olhou para o pedaço degradante de sua gestão com olhos de bandido de anedota antiga.
Um sujeito que, depois de matar o pai e a mãe, pediu no julgamento misericórdia para um pobre órfão.
Lula, presidente de um governo que, noves fora os êxitos, assassinou a ética e a moral, roga por clemência para um pobre cego que não viu os discípulos tocarem fogo na biblioteca de sua Alexandria.Josias de Souza
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