Depois de gastar R$ 696 milhões, o Distrito Federal terá construído um estádio sem cobertura, sem telão, sem cabos de internet ou de transmissão de TV.Até mesmo sem gramado.
Nenhum dos itens foi incluído na licitação para a construção do Estádio Nacional de Brasília, arena que receberá partidas da Copa do Mundo de 2014. Só serão orçados, comprados e instalados perto do próximo Mundial.
"Nenhuma das empreiteiras produz esses produtos. Teríamos que pagar os impostos em duplicidade sobre cada um deles", diz Sérgio Graça, diretor da agência para a Copa do DF. "E teremos tecnologias melhores para esses itens no futuro."
Não é uma exceção. Orçamentos incompletos, projetos insuficientes e condições de pagamento complexas mostram que o gasto das arenas será superior ao previsto.
A conta atual das arenas é de R$ 5,839 bilhões --quase o triplo da estimativa inicial da CBF, de R$ 1,95 bilhão, feita na candidatura brasileira.
TECNOLOGIA
É a tecnologia da informação que deve gerar maiores acréscimos ao preço das arenas. O argumento é o mesmo de Brasília: reduzir custos.
"A Fifa vai passar as exigências de TI (tecnologia da informação). Por isso, nosso projeto não atende isso", declara o diretor da Agência da Copa de Mato Grosso, Yênes Magalhães. "A Europa, por exemplo, pede anel de fibra metálica em volta do estádio [utilizado para conexões de banda larga e transmissão de TV]. Teremos que atender."
Incluindo os assentos, ele estima em R$ 50 mi (ou 15%) o aumento do valor da construção da Arena Pantanal.
O Castelão, em Fortaleza, não incluiu a estrutura para internet de banda larga (mais R$ 8,9 milhões). E duas torres de energia eólica somarão R$ 12,7 milhões à conta.
Algumas cidades dizem já incluir todas as exigências da Fifa. É o caso de Itaquera, cujo projeto ainda nem foi divulgado. "Quando sair [o projeto], vai contemplar todas as necessidades, gramado, tudo", diz Antônio Paulo Cordeiro, um dos responsáveis pelo projeto paulistano.
Em Manaus, o orçamento tem tudo para deixar a arena pronta. Mas a intenção de apressar a obra, com duração de 36 meses (até março de 2013), pode encarecê-la.
Queremos 30 meses para participarmos da Copa das Confederações. Vamos negociar com a Andrade Gutierrez [empreiteira da obra]", diz o secretário de Planejamento do Amazonas, Marcelo Lima.
SERVIÇOS EXTRAS
Há sedes em que o preço divulgado está abaixo do valor real devido às condições de pagamento e aos serviços extras das construtoras.
Na Bahia, oficialmente, a construção da Arena Fonte Nova custará R$ 591,7 milhões. Mas, no total, o Estado da Bahia deve pagar em torno de R$ 1,6 bilhão.
Pela operação montada, o governo começará a quitar sua dívida apenas em 2013, em 15 prestações anuais de R$ 107 milhões cada uma.
Segundo a assessoria do governo, esse valor inclui o custo das obras, "despesas pré-operacionais, encargos financeiros, tributos e remuneração do privado".
De acordo com o Estado, em valores atuais, isso significaria R$ 930 milhões.
Realidade parecida vive o Mineirão. O preço para a reforma é de R$ 426 milhões. Mas o contrato assinado com a empreiteira irá prever um desembolso do Estado de até R$ 743,4 milhões, incluindo obras no entorno, manutenção, operação e seguro.
O valor será ainda maior por conta dos juros, já que Minas Gerais só começará a pagar a obra em 2013, em parcelas anuais, por 25 anos.
No Rio, também há custos que não aparecem na licitação do Maracanã, como os de três consultorias contratadas por cerca de R$ 250 mil.
Há ainda casos de sedes com projetos embrionários ou com pouco detalhamento, cujos custos ainda podem ter grandes variações.
O projeto final para o estádio de Itaquera não está pronto e não há orçamento.
O custo inicial para a construção da arena do Corinthians, com capacidade para 48 mil pessoas, era de R$ 330 milhões. Mas o número de assentos subiu para 65 mil para receber a abertura da Copa, e a estimativa de gastos foi para R$ 600 milhões.
O COL (Comitê Organizador Local) tem acompanhado a adaptação dos planos do estádio paulistano. Suas observações, invariavelmente, geram aumento de custos.A Arena da Baixada tem orçamento fechado: R$ 145 milhões. Só que nem houve uma licitação nem uma definição detalhada da reforma.
Mais avançado nas obras, o Internacional não tem um orçamento para a reforma do Beira-Rio. Problemas políticos e discussões técnicas atrasaram o acerto final.
A estimativa atual é de R$ 155 milhões, mas o COL entende que chegará a R$ 200 milhões. "Eles [COL] vão ver que não precisa de tudo isso. Se precisar, não vai ser problema", declara o presidente do time, Vitório Piffero.
Já em Natal, o Estado estima gastar R$ 400 milhões com a construção da Arena das Dunas, por meio de uma parceria público-privada.
Uma nova licitação deve ser lançada ainda este ano. Na anterior, nenhuma empresa se interessou em assumir a obra. Assim, pelo estágio atual do projeto, é impossível dizer quando o estádio terá equipamentos de tecnologia, cobertura ou gramado.
Em paralelo ao processo de aumento dos gastos, há a diminuição dos custos por conta de isenções tributárias aos estádios da Copa --já foram concedidas, mas ainda não estão contabilizadas nos orçamentos. Essa redução será paga pelos cofres públicos --governos federal, estadual e municipal, que abrem mão de suas arrecadações.
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