Desses sete bilhões de seres humanos, cerca de 1 bilhão sobrevive com menos de um dólar por dia e metade vive com menos de 2 dólares. Um bilhão não tem acesso à água potável. Dois bilhões não sabem o que é saneamento básico. E o mundo ainda tem 1,3 bilhão de moradores sem luz elétrica. Enquanto isso, do outro lado da cerca, os 20% mais favorecidos (1,4 bilhão) estão consumindo 80% dos recursos naturais. Nesse ritmo, em 2030, a humanidade vai precisar de uma segunda Terra para atender o seu apetite e absorver os seus rejeitos.
E eu com isso? O Brasil deve estar, por volta do ano 2040, com uma população estabilizada em torno de 220 milhões, ou menos. Um país com água abundante, terras férteis, florestas, um povo jovem, talvez até mais educado e saudável. Se não errarmos muito, tem tudo para ser uma das maiores economias do mundo. Quase um paraíso.
E, como tal, pode virar sonho de consumo para os refugiados ambientais que, nos próximos anos, serão cada vez mais numerosos. Essas vantagens comparativas não nos livram de problemas comuns. A miséria de uns e o consumo exacerbado de outros estão levando o planeta para um impasse, sem solução simples. Dizem que o otimista não passa de um pessimista mal-informado, mas a melhor maneira de enfrentar o pessimismo da razão é com o otimismo da vontade. Falta é encontrar a vontade política para mudar essa realidade.
O que realmente conta não é o número de pessoas, mas o seu impacto no planeta. Se estas sete bilhões de pessoas estivessem em armazenamento criogênico, sem comer ou metabolizar, elas não causariam problemas ambientais
Jared Diamond, geógrafo americano
A ILHA DO FUNDÃO já é um dos principais pólos de tecnologia da América Latina. Ali estão a Coppe, o Centro de Pesquisa da Petrobras (Cenpes) e está chegando a General Electric, com investimentos de US$500 milhões. Enquanto isso, a falta de saneamento impera, como na Praia do Catalão (foto), com o Cenpes ao fundo. O esgoto sai Faculdade de Educação Física e vai direto para a Baía de Guanabara.
A longa estrada até um planeta mais sustentável pode começar no seu banheiro. Um levantamento realizado pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), durante um mês, numa das estações de tratamento, mostrou que os vasos sanitários recebem muito mais do que seria razoável supor. É tanto lixo que entre janeiro de 2007 e janeiro de 2011, o sistema sofreu em média três paralisações por mês. A lista de objetos jogados indevidamente no esgoto vai desde embalagens de biscoito até chinelos e bonecas, passando por cuecas, calcinhas e cápsulas de drogas. Entre os itens mais comuns estão pedaços de fraldas descartáveis, cotonetes e embalagens de salgadinhos. Como as pessoas conseguem mandar essas coisas descarga abaixo é que é um grande mistério.
Miséria de uns
As dúvidas sobre o tamanho da população mundial até o fim do século se concentram em mais ou menos 30 países, todos eles localizados na África e na Ásia. Enquanto a taxa média mundial é de 2,52 filhos para cada casal, na Somália, esse índice chega a 7 filhos. O professor José Eustáquio Diniz, demógrafo do IBGE, estima em 215 milhões o número de mulheres no mundo que não têm acesso a métodos contraceptivos. Na maioria das vezes, por razões econômicas, religiosas ou por ignorância. Para ele, não é tarefa impossível resolver o problema. Basta investir em educação e inclusão social: "a cidadania é o melhor contraceptivo".
Sobra de outros
Enquanto a população ficou 7 vezes maior nos últimos 200 anos, a economia aumentou 50 vezes. Mas esse crescimento, além de ser desigual, trouxe impactos ao planeta. Uma forma de dimensionar esse ônus é a pegada ecológica. Ela calcula quanto cada pessoa ou país usa de recursos naturais. Varia de acordo com o nível de consumo. Em 2010, a Global Footprint Network estimou que um americano médio usava 7,9 hectares globais (gha), contra 4,7 gha de um europeu e só 1,4 gha de um africano. Se o mundo adotasse o padrão de vida dos EUA, a população teria que ser inferior a dois bilhões de pessoas.
Dados do Banco Mundial indicam: os desastres naturais, como furacões e enchentes atingiram 2,6 bilhões de pessoas na última década. A média foi de 15 registros por ano para 370. Para a revista Scientific American, a relação entre mudanças climáticas e "eventos extremos" já é um fato comprovado.
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