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segunda-feira, 16 de novembro de 2009

"Imposto de renda de Collor É Ficção"

Com a pensão atrasada há um ano, Rosane Malta pediu a prisão de seu exmarido, o ex-presidente e senador pelo PTB, Fernando Collor. O processo corre na Justiça de Alagoas, mas quatro juízes se afastaram do caso. "Ele é o único que eu conheço que não vai para a cadeia nessa situação", diz Rosane.
Ela também quer dividir os bens que conquistou enquanto assinava o sobrenome Collor, que são calculados por seu advogado, Joathas Lins de Albuquerque, em mais de R$ 100 milhões. Há três meses, Lins procurou o senador Pedro Simon (PMDB-RS), que havia discutido com Collor no plenário, para narrar "assuntos gravíssimos". Simon entendeu que o advogado oferecia um dossiê e não quis conhecer o conteúdo. Nesta entrevista à ISTOÉ, ela acusa Collor de sonegar bens nas declarações à Receita Federal. "O Imposto de Renda dele é ficção", diz.
ISTOÉ - A sra. tem um dossiê de acusações contra o senador Collor? Rosane Malta - Prefiro não responder a esta pergunta.
ISTOÉ - A sra. tem feito declarações contra ele e, em Brasília, pessoas ligadas ao ex-presidente acham que é chantagem. Rosane - Não fiz chantagem coisa nenhuma. Chantagem é se eu falasse coisas que atrapalhassem a eleição dele. Basta ver como vai minha casa: cheia de mato, cinco cachorros para cuidar, iluminação dando problema. Estou pedindo o mínimo para minha sobrevivência.
ISTOÉ - Os fatos que presenciou do ex-presidente, que ele não gostaria que viessem à tona, estão ligados a que assunto? Rosane - Há várias coisas sobre os anos em que ficamos juntos. Eu estava presente. Prefiro acreditar que Deus vai tocar no coração dele, fazê-lo se arrepender e vir conversar comigo.
Não nasci para destruir, nasci para construir. Nada fica oculto. Se ele ainda tem que pagar por alguma coisa do passado, vai pagar.
ISTOÉ - Sentiu-se prejudicada na divisão de bens? Rosane - Completamente. São quatro anos e meio que estou lutando. Fomos casados durante 22 anos e construímos um patrimônio. Esse pacto que ele fala que assinei, eu não sabia o que estava assinando. Se eu soubesse que tinha assinado uma coisa dessas, eu teria colocado bens no meu nome nesses 22 anos.
ISTOÉ - A sra. ficou só com a casa em Alagoas? Rosane - A casa está na briga na Justiça. Não tenho nada ainda.
ISTOÉ - Que bens vocês adquiriram após o casamento? Rosane - Ele hoje tem 100% das Organizações Arnon de Mello. Foram coisas que adquiriu depois de estar comigo
Ele comprou a parte do Pedro Collor, da Ana Luísa, da Ledinha e do Leopoldo com o dinheiro que tínhamos.
"Ele declarou à Justiça que tinha uma retirada de R$ 25 mil, mas pagava R$ 36 mil de aluguel"ISTOÉ - Qual o valor de todos os bens? Rosane - Não sei o valor das organizações, que são tevê, rádio, jornal, gráfica. Os bens que ele tem, muitos constam e outros não constam no Imposto de Renda.
ISTOÉ - O ex-presidente declarou ao Fisco, em 2002, um empréstimo de R$ 21 milhões de suas próprias empresas. Em 2006, declarou bens de R$ 4,8 milhões. Rosane - São coisas que questiono na Justiça. Quando eu recebia R$ 5 mil de pensão, ele declarou à Justiça que tinha só uma retirada de R$ 25 mil, mas somente de uma casa em São Paulo ele pagava R$ 36 mil mensais de aluguel. Mostrei à juíza, falei assim: 'Ou a Justiça é cega ou é louca'.
ISTOÉ - A sra. convenceu a juíza a aumentar a pensão? Rosane - Ela aumentou para R$ 13 mil. É pouco para mim, em relação ao que ele tem. Tenho um risco muito grande, porque a casa dá para uma favela.
ISTOÉ - Ele realmente atrasou as pensões? Rosane - Está atrasado. É o único caso que conheço que não dá cadeia. A gente vê Romário e outras pessoas famosas que não pagam pensão e vão para a cadeia.
ISTOÉ - O ex-presidente ficou com as joias da sra.? Rosane - São joias de 22 anos, que ele me deu, que minhas amigas me davam no aniversário. São uns R$ 3 milhões em joias, da Priscila Szafir, Bvlgari, Cartier, Tiffany. Os quadros ficaram com ele: Portinari, Frida Khalo, Tomie Otake, Fukushima, Fukuda, Scliar. Pintores famosíssimos e caríssimos. Só na casa de São Paulo tinha mais de R$ 2 milhões em obras de arte.
ISTOÉ - A Casa da Dinda, em Brasília, ainda é de vocês?Rosane - É sim, fizemos uma reforma, arrumamos tudo, está linda. Acredito que a casa vale mais de R$ 10 milhões.
ISTOÉ - Os carros importados entraram nessa divisão de bens? Rosane - Não entrou carro nenhum. Ele tem um agora que vale R$ 3 milhões, uma Maserati. O que tenho é um Chrysler antigo que não funciona, os pneus estão carecas. Ando num Fiesta 2006. Nos Estados Unidos ficou uma Lamborghini e minha Porsche Carrera, último ano.
ISTOÉ - Como é para uma mulher que andava num Porsche ter que usar um Fiesta? Rosane - Se eu falar que não é difícil estarei sendo hipócrita. O sofrimento não é pelo fato de você ter tido glamour e deixar de ter, o poder é efêmero, mas é você saber que dedicou a vida a uma pessoa. Quanto constrangimento passei. Em Araxá, uma pessoa jogou um prato de comida nele. Em São Paulo, uma mulher se levantou no restaurante e disse: "Meu marido morreu por causa de você."
ISTOÉ - Os quadros estão na declaração de bens? Rosane - Claro que não. Deveria, não é? Nem a compra e a venda da casa de Miami. A casa de São Paulo não está. O Imposto de Renda dele é uma coisa impressionante.
ISTOÉ - A sra. quer dizer que o Imposto de Renda dele é fictício? Rosane - Com certeza. Não tenho a menor dúvida que é ficção.
ISTOÉ - A sra. acredita que ele sonega muito? Rosane - Com certeza. As coisas vão vir à tona. É uma questão de justiça. Com que dinheiro comprou todas as partes dos irmãos? Como comprou a casa de Miami? Como é que constrói casa em Maceió? Ele tem cobertura em Maceió, tem não sei quantos apartamentos, é um patrimônio altíssimo. Com o salário que ele tem, é impossível. Ele construiu a nova Gazeta, que é uma maravilha. O prédio está lindo.
ISTOÉ - A sra. tem compreensão do real motivo da queda de Collor? Rosane - Ele foi imaturo. Ele tinha 40 anos, foi prefeito biônico, deputado federal, governador, presidente, não tinha tido derrotas. Ele se achou, como a irmã dele falava, o Rei Sol, o imperador. Ele é prepotente, é arrogante.

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