Após perder o controle da região leste do país e também o apoio de pilotos da Força Aérea, o ditador da Líbia Muammar Gaddafi viu-se forçado a enviar mais soldados e mercenários à capital Trípoli e à região oeste, onde a oposição diz já ter conquistado a importante cidade de Misratah. Nos EUA, o presidente Barack Obama fechou o cerco ao regime e chamou o mundo à uma "ação conjunta" enquanto a Europa teme a chegada de até 1,5 milhão de imigrantes ilegais da região.
Em um breve discurso em Washington, o presidente dos EUA, Barack Obama, voltou a condenar os atos "ultrajantes" de violência do regime do ditador Muammar Gaddafi contra os civis e disse que seu país estuda várias medidas contra a Líbia --desde sanções unilaterais até ações conjuntas com outras nações.
O presidente americano condenou fortemente o "banho de sangue inaceitável" que ocorre no país após os repetidos ataques militares contra a própria população e disse que o mundo precisa "falar com uma só voz".
As declarações de Obama chegam horas após relatos sobre a perda de controle de Gaddafi da região leste da Líbia --onde está a cidade de Tobruk e grande parte dos campos produtores de petróleo-- e em meio a relatos de que mais de 640 já morreram no país, de acordo com grupos de direitos humanos.
O número representa mais que o dobro do balanço oficial do governo líbio de 300 mortos. A FIDH menciona 275 mortos em Trípoli e 230 na cidade de Benghazi, epicentro dos protestos.
Em Trípoli moradores indicaram que a presença de membros de milícias e mercenários estrangeiros contratados pelo governo aumentou consideravelmente e que as trocas de tiros nas ruas têm ficado mais violentas.
Obama destacou ainda que os protestos na Líbia e na região são gerados pelo próprio povo e que não têm influência alguma de Washington ou de qualquer outro país e destacou uma frase de um líbio como emblemática para caracterizar os motivos das revoltas: "só queremos viver como seres humanos".
Entre as medidas concretas que o governo americano já tomou em reação à crise estão o alerta às suas embaixadas e consulados para dar total assistência aos americanos que tentam deixar a Líbia; o envio do sub-secretário do Departamento de Estado, Bill Burns, a diversos países da região e da Europa para debater as revoltas; e a presença de Hillary Clinton em Genebra na segunda-feira (28) para debater uma "ação multilateral" junto a outros países que integram o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.
PILOTOS DESERTAM
Moradores da capital relataram clima de tensão em meio às novas investidas do regime contra os civis. "Muitas pessoas estão com medo de deixar suas casas em Trípoli já que atiradores de milícias pró-Gaddafi estão nas ruas ameaçando qualquer um que se junte em grupos", disse o tunisiano Marwan Mohammed, logo após cruzar a fronteira com a Tunísia.
As manobras de Gaddafi, que chegam horas após dois pilotos terem se ejetado de um jato de guerra que caiu em Benghazi, são vistas pela mídia internacional como "desesperadas" e indicam que a perda de controle do país tende a aumentar.
Um avião da Força Aérea da Líbia caiu perto de Benghazi (leste) depois que sua tripulação se recusou a obedecer as ordens de bombardear a cidade e se ejetou da aeronave --uma Sukhoi-22 de fabricação russa--, caindo em segurança em terra firme com a ajuda de paraquedas.
A recusa dos militares mostra que o ditador Muammar Gaddafi está cada vez mais isolado até mesmo dentro das suas Forçar Armadas.
ÊXODO
O governo italiano revelou nesta quarta-feira o temor de que a queda do ditador líbio Muammar Gaddafi possa estimular a partida de milhares de imigrantes ilegais rumo à Itália e outros países europeus como a Grécia. Já a Agência Europeia de Gestão da Cooperação Operacional nas Fronteiras Externas (Frontex) estima que entre 500 mil e 1,5 milhão de líbios possam pedir refúgio do outro lado do Mediterrâneo.
O chanceler da Itália Franco Frattini alertou em entrevista ao jornal "Corriere della Sera" que a fuga de líbios pode se converter num "êxodo bíblico", sendo uma onda até dez vezes maior do que a crise registrada em 1997 quando refugiados da Albânia migraram rumo ao país.
"Na Líbia, um terço da população não é originária do país, mas subsaariana. Estamos falando de 2,5 milhões de pessoas que, no caso da queda do sistema do país, escaparão porque ficarão sem trabalho. Nem todos [virão] à Itália. Grécia está muito mais perto de Cirenaica e Benghazi", avaliou o chanceler, acrescentando que a parte leste do país é "terra de ninguém".
"Na Cirenaica, como se sabe, existem tribos e nós não temos ideia de quem são", revelou, destacando que o que se sabe deles é que são perigosos e contam com integrantes da rede terrorista Al Qaeda, e que por isso no fim de 2006 a Itália decidiu fechar seu consulado na região.
EUROPA EM ALERTA
A agência da União Europeia (UE) encarregada de guardar as fronteiras do bloco manifestou preocupação com o êxodo de imigrantes ilegais que pode ser ocasionado em meio à crise no norte da África.
"Trata-se de pessoas de origem subsaariana que trabalham na Líbia e o norte da África" e que "se dirigiriam principalmente à Itália, Malta e Grécia", alertou a Frontex em comunicado.
Os ministros de Interior da UE se reunirão na quinta-feira em Bruxelas para debater pela primeira vez as consequências na imigração das revoltas do norte da África.
Além disso, a Comissão Europeia, Frontex e o governo italiano informarão ao resto dos estados-membros sobre a operação Hermes em Lampedusa.
A agência dedica atualmente a maior parte de sua capacidade nessa operação após as revoltas na Tunísia chegaram ao redor de 5,5 mil imigrantes.
"Será a primeira oportunidade que terão os 27 [países integrantes da UE] de discutir em conselho a crise da imigração e avaliar os seguintes passos a serem dados", informou um porta-voz da Presidência húngara que atualmente comanda o bloco.
LAMPEDUSA
Após a queda do ditador da Tunísia Zine el Abidine Ben Ali, na metade de janeiro, mais de 5.000 imigrantes já tentaram entrar na ilha de Lampedusa, na Itália, e barcos com egípcios também já foram apreendidos.
A Itália, porta de entrada por questão geográfica, quer dividir a responsabilidade com o resto da Europa e já pediu a criação de fundo de 100 milhões de euros para cuidar do problema.
O país alega que esses imigrantes não desejam ficar na Itália, mas ir para a França, onde têm família. Há também a facilidade da língua: o país foi colônia francesa, e a maioria dos tunisianos fala o idioma.
Acordo entre os países da União Europeia determina que imigrantes em busca de asilo devem ficar no país a que chegaram até a solução de seu caso.
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