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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Mubarak propõe antecipar eleições no Egito e diz que não vai concorrer

Em discurso transmitido pela TV estatal, o ditador do Egito, Hosni Mubarak --que está há quase 30 anos no poder-- confirmou nesta terça-feira que não concorrerá a reeleição. Ela disse também que irá ordenar que o pleito presidencial seja antecipado, mas ficará no poder até que um novo governo seja eleito pelo voto popular.

"A realidade egípcia mudou", disse. Nas ruas do Cairo a multidão inicialmente comemorou a notícia. Pouco depois, no entanto, os manifestantes indicaram que não devem interromper seus protestos até que Mubarak renuncie.

De acordo com o jornal espanhol "El País" entre a multidão ouve-se gritos de "fora, fora", e os manifestantes já indicam que devem convocar um novo megaprotesto na quarta-feira.

Entre os principais temas do segundo pronunciamento do ditador desde o início da crise, há oito dias, estão o anúncio de que sairá da cena política egípcia, o pedido para que as eleições sejam antecipadas e o governo de transição que já está sendo formado.

Mubarak disse ainda que dois importantes artigos da Constituição devem ser alterados.

O artigo 76, que praticamente torna impossível que um candidato consiga vencer o oponente nomeado pelo partido do ditador, e o artigo 77, que determina que um presidente pode se reeleger de forma indeterminada no país.

"Eu não vou concorrer às eleições porque já passei tempo suficiente no poder no Egito. Nos próximos meses que me faltam no governo, quero que a polícia proteja as pessoas", afirmou.

A data exata para quando o pleito presidencial deve ser antecipado, no entanto, não foi revelada por Mubarak.

Outro ponto crucial para os manifestantes que o ditador não comentou diz respeito à possibilidade de que seu filho Gamal concorra a presidente.

Mubarak disse que a situação atual no país faz com que seja necessário escolher entre "o caos ou a estabilidade".

Dando a indicar que não deve abandonar o comando do país enquanto a crise não chegar a um fim, dise que sua responsabilidade agora é "garantir a segurança da nossa terra, e garantir a seguranca de um novo governo de transição, que o nosso povo vai escolher nas próximas eleições".


Falando ao povo egípcio, Mubarak classificou os protestos como vandalismo. "Tudo começou com pessoas inocentes, que têm o direito de manifestar suas preocupações, mas moveram-se de uma maneira civilizada de praticar a liberdade de expressão para tristes confrontos organizados por grupos politicos", disse.

Para ele os protestos deram lugar a "saques, destruição, incêndios, bloqueios de ruas, ataques a propriedades privadas e públicas, além de embaixadas".

O ditador disse ainda que o governo de transição deve implementar as reformas pedidas pelos jovens.

Dizendo que é um "homem do Exército" e que já lutou para defender o país, Mubarak deixou claro que pode "até morrer pelo Egito" e que sua missão é defender o povo.

INFLUÊNCIA DOS EUA

O presidente americano, Barack Obama, pediu ao ditador do Egito, Hosni Mubarak, para não concorrer nas próximas eleições presidenciais de setembro, tornando público a retirada do apoio de Washington ao regime, informaram diplomatas americanos ao "The New York Times".

A emissora de TV Al Arabiya, citando fontes não identificadas, antecipou a notícia de que Mubarak faria um discurso anunciando que ficaria de fora da disputa à Presidência.
A informação chegou horas depois de o enviado especial dos EUA ao Egito, Frank G. Wisner, reunir-se com o ditador.

De acordo com a reportagem do "Times", diplomatas informaram que Wisner teria levado ao ditador egípcio a mensagem direta de Obama pedindo que ficasse à margem do pleito de setembro.

O pedido não menciona uma renúncia imediata, diz o jornal.

Ainda de acordo com a reportagem do "Times", as informações repassadas pelos diplomatas não deixam claro como o governo americano pretende influenciar a política egípcia até que as eleições ocorram.

Washington ainda não indicou se favorecerá um governo interino composto por membros do atual regime --liderados pelo vice-presidente Omar Suleiman-- ou se dará preferência a um governo de transição formado por novas forças políticas, provavelmente sob o comando do líder da oposição Mohamed ElBaradei.

CONTATOS

Em meio ao maior protesto registrado nos últimos oito dias nas ruas do Cairo o líder da oposição egípcia, Mohamed ElBaradei, conversou com Margaret Scobey, embaixadora dos EUA no país, e o secretário de Defesa americano, Robert Gates, falou com Hussein Tantawi, encarregado das Forças Armadas egípcias.

As conversas ocorrem "como parte de nosso esforço público para transmitir nosso apoio a uma transição ordenada no Egito, a embaixadora Scobey falou hoje com Mohamed ElBaradei", disse o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, P.J. Crowley, em sua conta no Twitter.

Já o Pentágono esclareceu que os chefes da Defesa dos dois países conversaram ao telefone na manhã desta terça-feira.

O contato "é parte de um esforço em curso para manterem-se mutuamente atualizados sobre a situação", disse o porta-voz do Departamento da Defesa, o coronel Dave Lapan.

PROTESTOS

Ao menos 200 mil pessoas se aglomeram na praça Tahrir, a principal do Cairo nesta terça-feira, no megaprotesto contra o ditador Hosni Mubarak, que está há quase 30 anos no poder. Ativistas esperam reunir cerca de 1 milhão nas ruas. Apesar do grande número de manifestantes, não há registro de violência até o momento.

Apesar dos violentos confrontos entre manifestantes e as forças de segurança nos últimos dias, as Forças Armadas do Egito divulgaram um comunicado nesta segunda-feira admitindo o direito dos manifestantes de reivindicarem suas demandas e disseram que não usarão a força para conter os protestos. O saldo de mortos nos confrontos está em 138, segundo a agência Reuters. No entanto, não há confirmação oficial sobre as vítimas da violência dos últimos dias.

Organizadores disseram que a manifestação se limitaria à praça, e que evitariam entrar em confronto com soldados. Helicópteros militares continuam sobrevoando a cidade e os soldados mobilizados na capital desde sexta-feira controlam os pontos de acesso. Mas as cenas são bem diferentes de sexta-feira passada (28), quando a polícia não poupou cassetetes, gás lacrimogêneo e jatos de água para conter os manifestantes.

O ato começou na madrugada desta terça-feira, quando mais de 5.000 pessoas chegaram à praça para passar a noite, violando o toque de recolher. Há boatos de que os manifestantes marchariam até o Palácio Presidencial, mas com o número de manifestantes cada vez maior, a concentração continua a praça Tahrir.
Estradas que ligam o Cairo a cidades como Alexandria, Suez, Mansoura e Fayoum foram fechadas. No entanto, muitos moradores dessas e de outras regiões conseguiram chegar até a capital. Hamada Massoud, advogado de 32 anos, disse ter viajado ao lado de outras 50 pessoas em carros e microônibus da província deBeni Sweif, ao sul do Cairo. "Hoje o Cairo é todo o Egito. Quero que meu filho tenha uma vida melhor e não sofra como sofri. Quero poder escolher meu presidente", disse o manifestante.

Dezenas de milhares também saíram às ruas de Alexandria, Suez e Mansoura (norte), assim como em Assiut e Luxor, ao sul do país. Bancos, escolas e muitos comércios permaneceram fechados no Cairo pelo 3º dia consecutivo. Longas filas se formaram em frente a supermercados, e o preço dos alimentos disparou.

A internet continua fora do ar no país pelo 5º dia consecutivo.

AEROPORTO

O Aeroporto Internacional do Cairo está aberto, mas os voos podem sofrer atrasos e cancelamentos devido às manifestações antigoverno.
O clima é de caos, com cerca de 18 mil passageiros tentando deixar o país. Ao menos 35 voos fretados deixaram o país nesta terça-feira, levando milhares de turistas para a Europa e para outros países do Oriente Médio.

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