As amargas lembranças deixadas pelo Sucatão, o carinhoso apelido do Boeing 707 que serviu à Presidência da República entre 1986 e 2005, parecem mesmo ter ficado no passado e na memória daqueles que voaram no avião, fabricado no fim da década de 60. Após quase ter matado de susto o então vice-presidente Marco Maciel quando uma de suas turbinas simplesmente pegou fogo em pleno voo para a China, em 1999, o Sucatão foi finalmente trocado por um moderno Airbus 319. Depois de correr o mundo levando o presidente Lula e sua comitiva nos últimos oito anos, a aeronave, que também ganhou um simpático apelido – Aerolula –, não vai poder voar pelo menos nos próximos 30 dias, por conta de manutenções. Dilma, no entanto, não precisará recorrer aos préstimos do Sucatão nem de seus primos menores, os Sucatinhas, em suas viagens pelo Brasil ou mundo afora. A Embraer emprestou, sem nenhum custo para a Presidência da República, um de seus aviões mais caros, o Lineage 1000, uma aeronave preparada para servir xeques árabes, bilionários russos ou magnatas do mundo dos negócios. Repleto de luxos, extravagâncias e conforto, o avião mais se parece com um palácio voador. Trata-se de uma ação que promove a empresa brasileira no Exterior e ao mesmo tempo não traz gastos ao governo.
Durante a manutenção do Aerolula, Dilma até poderia usar outros dois jatos executivos da Presidência. Trata-se de duas aeronaves da Embraer, modelo ERJ 190, uma espécie de primo pobre do Lineage 1000. Os dois aviões, no entanto, também estão com manutenção programada para este ano e, em algum momento, terão que ir para o hangar. Para não causar contratempos aos deslocamentos de Dilma, o Grupo de Transporte Especial, uma divisão da Força Aérea Brasileira dedicada a prestar serviços ao governo, ficará com o Lineage 1000, uma aeronave de mais de US$ 50 milhões, por quase um ano. Com este jato executivo, Dilma poderá fazer viagens internacionais de média duração sem escalas. Com os tanques cheios, o Lineage pode levar a presidente e sua comitiva de Brasília a Paris, por exemplo. Com ele, a presidente também poderá participar da abertura da Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, sem precisar parar em nenhum país da América Central para reabastecer.
Mas o que realmente impressiona no Lineage 1000 não são suas características técnicas, seu desempenho ou mesmo o fato de tudo isso ter sido fabricado aqui mesmo no Brasil. É na configuração interna que o avião que Dilma agora tem a sua disposição se destaca. Com capacidade para apenas 19 pessoas, a aeronave é uma espécie de suíte presidencial voadora. Tendo cinco áreas privativas, a decoração foi feita com o que há de mais luxuoso no mundo: tapetes de lã de carneiro, sofás de lã irlandesa, mesas de madeira de lei e televisores de cristal líquido sensíveis ao toque. São quatro salas, todas com conexão de alta velocidade à internet: uma de jantar, uma de estar, uma apenas para reuniões e até um escritório particular. Quando se cansar de discussões complexas com sua equipe, Dilma ainda poderá dormir em uma cama tamanho king-size ou relaxar tomando uma ducha. Por enquanto, Dilma é a primeira brasileira a desfrutar de toda essa mordomia. Até agora, apenas oito unidades dos Lineage 1000 foram entregues pela Embraer.
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