O presidente venezuelano Hugo Chávez desembarca em Brasília na segunda-feira 6 para realizar sua primeira visita oficial ao Brasil desde que a presidente Dilma Rousseff assumiu o cargo. Além da animação que demonstra todas as vezes que visita o País, Chávez chega disposto a conquistar com Dilma o mesmo espaço que teve durante os oito anos do governo Lula. Mas os tempos são outros. O Itamaraty já recomendou ao Planalto não fechar novos acordos com a Venezuela fiando-se apenas nas conversas do loquaz comandante bolivarianista. Dilma tem a tarefa de apertar o colega para que os compromissos já firmados sejam honrados.
O Itamaraty chegou a encaminhar uma lista de pendências ao Planalto. A expectativa é de que Dilma faça Chávez passar por situação semelhante à de Barack Obama, intimado publicamente a suspender as históricas barreiras às exportações brasileiras para os Estados Unidos. No caso venezuelano, serão cobradas as promessas de investimento, nunca cumpridas, feitas por Chávez em visitas semelhantes. Encabeçam a lista a participação da Venezuela na refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, e a encomenda de dez navios petroleiros feita ao estaleiro carioca Eisa. Por exigência de Chávez, a refinaria pernambucana foi batizada com o nome do general brasileiro que lutou ao lado de Simon Bolívar na independência venezuelana.
Os dois projetos integravam uma lista de 22 acordos firmados entre o presidente venezuelano e Lula em 2006. Era um plano ousado, que hoje mais parece devaneio, e incluía a construção do chamado “Gasoduto do Sul”, uma extensa rede de tubulações para transporte de petróleo e gás que cortaria a Amazônia de alto a baixo. Depois de vários encontros bilaterais, em nome da segurança energética continental e ao custo de diárias e passagens, o projeto foi abandonado. Bem mais factível, e viável economicamente, o investimento na refinaria de Pernambuco também não se concretizou. Os venezuelanos criaram problemas desde o início. Primeiro não concordavam com a participação de 40% no empreendimento, orçado em US$ 13 bilhões. Depois condicionaram a parceria a uma parcela do mercado de distribuição de combustível no Nordeste. Recentemente, no entanto, ficou claro que o real motivo era a falta de dinheiro. Chávez chegou a pedir um empréstimo de R$ 500 milhões ao BNDES, mas não apresentou as garantias exigidas. “Se a PDVSA – a companhia estatal de petróleo da Venezuela – não entrar no negócio até agosto, entenderemos que ela perdeu o interesse em participar”, diz o diretor de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa.
Chávez será cobrado ainda por ter suspendido a encomenda de dez navios ao estaleiro Ilha AS (Eisa), no Rio de Janeiro, um negócio de US$ 670 milhões. Em novembro de 2009, o estaleiro entregou o primeiro navio, também batizado de Abreu e Lima a pedido do presidente venezuelano. Apesar de toda a festa, pouco tempo depois Caracas resolveu suspender os pagamentos e pediu tempo para renegociar o contrato. Até hoje, no entanto, não houve decisão. A direção do estaleiro brasileiro ainda tem esperança de que a encomenda seja retomada. “As negociações estão em curso”, afirma a assessoria de imprensa do Eisa. “Queremos encontrar a melhor solução para atender às necessidades da PDVSA diante do novo cenário internacional do mercado de petróleo.”
Paralelamente aos negócios com o Brasil, Chávez encomendou petroleiros mais baratos à China e decidiu construir um estaleiro próprio, o Nor-Oriental, na Venezuela. Curiosamente, esse projeto foi encomendado a uma empreiteira brasileira, a Andrade Gutierrez, que também seria responsável pela construção de uma siderúrgica venezuelana, num pacote de US$ 3,5 bilhões. Eles ainda não saíram do papel. O economista venezuelano José Manuel Puente, do Instituto de Estudos Superiores e Administração de Caracas, avalia que a queda do preço do petróleo entre 2009 e 2010 teve um impacto significativo na economia venezuelana.
Mas essa não é a única razão. Muitos projetos também não se concretizaram por ineficiência. “Há um problema grave de gestão no governo venezuelano. Um centralismo total, já que todas as decisões passam por Chávez. Qualquer acordo, pequeno ou grande, técnico ou político, precisa da aprovação final do presidente”, explica Puente.
Na semana passada, dez operários venezuelanos da empreiteira brasileira Consilux entraram em greve de fome em frente à embaixada do Brasil em Caracas. Eles cobram da empresa, contratada pelo governo Chávez para construir mil casas populares, o pagamento de salários e benefícios atrasados. No histórico da relação bilateral, um dos poucos projetos bem-sucedidos até agora foi o investimento de R$ 2 milhões no desfile da Vila Isabel em 2006, que rendeu à escola o título de campeã do Carnaval daquele ano. No melhor sentido da expressão, o resto, pelo menos até agora, terminou em samba.
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