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quinta-feira, 25 de abril de 2013

Brasil absorve 87% da exportação de carros argentinos

A presidente Dilma Rousseff reuniu-se com Cristina Kirchner nesta quinta-feira para tratar, entre outras coisas, do acordo entre Brasil e Argentina do setor automotivo

Dilma e Cristina Kirchner durante encontro do Mercosul, em Brasília
Dilma e Cristina Kirchner vão conversar nesta quinta-feira à tarde (Ueslei Marcelino/Reuters)
A Associação de Fabricantes de Automóveis da Argentina (Adefa), anunciou na quarta-feira que o Brasil está absorvendo 87% das exportações de veículos do país vizinho. Segundo dados da Adefa, no primeiro trimestre deste ano a Argentina fabricou 176 mil unidades, 7,4% mais do que no mesmo período de 2012. Destas, 90 mil foram exportadas, a imensa maioria ao mercado brasileiro. O volume exportado pela Argentina nos três primeiros meses representou 7% a mais do que no mesmo período do ano passado. Em março, as exportações cresceram 43,1%.
Analistas argentinos destacam que a saúde da indústria automotiva do país depende, em grande parte, das compras brasileiras dos veículos fabricados no país. Segundo eles, a Argentina foi amplamente beneficiada com a decisão do governo brasileiro de prorrogar o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) até dezembro deste ano.
Nesta quinta-feira a presidente Dilma Rousseff desembarca em Buenos Aires para uma reunião com a presidente Cristina Kirchner na Casa Rosada, o palácio presidencial à tarde. O encontro em Buenos Aires estava previsto para 7 de março. Mas, foi cancelado devido ao velório do presidente venezuelano Hugo Chávez.
A estadia em solo portenho, que vai durar menos de 24 horas, tem como objetivo a discussão de uma série de assuntos pendentes na agenda bilateral. De acordo com o comunicado oficial do Itamaraty, a agenda bilateral da reunião "é composta por projetos de cooperação em ciência, tecnologia, inovação e sustentabilidade, incluindo iniciativas em energia nuclear, defesa, empreendimentos hidrelétricos, construção de satélites, indústria naval e educação." Além disso, as presidentes discutirão "a defesa da integração regional".
Contudo, um dos temas que deve ser discutido é a revisão do acordo automotivo entre os países, que vence no fim de junho. No acordo vigente ainda hoje, assinado nos termos da Associação Latino-americana de Integração (Aladi), em 2006, e não do Mercosul, consta um dispositivo que tornaria o acordo bilateral neste setor livre de qualquer barreira tarifária a partir de 1º de julho de 2013, como são os outros contratos estabelecidos no âmbito do Mercosul.
Negociadores brasileiros e argentinos estão com reuniões pendentes desde o segundo semestre de 2012 para definir os parâmetros do novo regime automotivo Brasil-Argentina. Na avaliação argentina, a perda de validade de tal documento poderia implicar numa queda de arrecadação que o país não está disposto a aceitar.
O acordo atual prevê que o comércio de veículos entre os vizinhos se baseie no chamado índice flex: um coeficiente de proporção das exportações e importações que significa que, para cada 100 dólares importados, cada país tem direito de exportar 195 dólares sem qualquer imposto. Com o livre-comércio, a Argentina teme acabar importando muito mais do Brasil do que o contrário. Em março Cristina Kirchner já havia mostrado sua intenção de renovar os termos atuais do contrato e manter a situação como está - a balança pendendo muito para o lado argentino.
O encontro das duas presidentes promete ser embalado pelos problemas existentes entre os dois países, como as barreiras protecionistas do governo Kirchner, que limitam a entrada de produtos do Brasil. As medidas estão em crescimento desde 2009.
Balança comercial - A inúmeras barreiras comerciais que o governo argentino têm imposto provocaram uma queda nas exportações do Brasil para a Argentina. Em 2012, as vendas brasileiras para a Argentina despencaram 22%. No primeiro trimestre deste ano, o mercado argentino comprou 10% a menos do Brasil. O primeiro trimestre marcou pela primeira vez em uma década a volta do superávit comercial para o lado argentino da balança, em 87 milhões de dólares.
Além dos conflitos comerciais, acumulam-se os problemas que as diversas empresas brasileiras estão tendo na Argentina. Esse é o caso da Vale do Rio Doce, que cancelou o mega investimento de 6 bilhões de dólares de uma mina de potássio na província de Mendoza.
Os analistas argentinos afirmam que o governo Kirchner provocou o fim da denominada "paciência estratégica" brasileira. Segundo o ex-secretário de Indústria, Dante Sica, diretor da consultoria Abeceb, o caso da Vale pode ser a "gota d'água" que faltava para provocar uma mudança do "velho formato" no qual estava embasada a relação bilateral: "poderia começar uma nova etapa entre o Brasil e a Argentina, na qual os métodos e mecanismos de intercâmbio bilateral e de investimentos teriam que ser redefinidos".
Segundo Sica, depois da partida da Vale, o anúncio de retirada da Deca, que estava instalada na Argentina desde 1995, "parecem dar sinais que reforçam os rumores sobre possíveis decisões em uma direção similar de outras empresas brasileiras, que um tempo atrás pareciam sólidas no país, mas que agora poderiam retirar-se da Argentina".
(com Estadão Conteúdo)

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