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domingo, 14 de abril de 2013

Maravilhoso mundo impermeável

Empresas usam pesquisa de ponta e nanotecnologia para transformar celulares, tablets e outros objetos comuns em verdadeiras fortalezas à prova de água, lama, óleo e até tinta

Juliana Tiraboschi
Deixar o celular cair na água ou derramar líquido sobre o aparelho são descuidos corriqueiros. Segundo uma pesquisa da HzO, empresa americana que produz revestimentos impermeáveis para circuitos eletrônicos, 58% dos entrevistados já perderam aparelhos dessa maneira e 63% topariam pagar US$ 99 extras por um smartphone à prova d’água. Outro estudo, da provedora de telefonia Sprint, também dos Estados Unidos, mostrou que a resistência à umidade é a capacidade mais desejada pelos consumidores de celulares. Para atender a essa demanda, empresas correm atrás de novas técnicas baseadas em nanotecnologia para impermeabilizar os mais variados produtos (leia quadro). “Os consumidores carregam seus gadgets para todo lado, e o custo de repor um equipamento danificado é alto. A maioria dos tablets, smartphones e tocadores de música não está protegida corretamente para o estilo de vida dos clientes”, diz Ryan Moore, diretor de marketing da HzO.
O resultado é que um número cada vez maior de fabricantes busca proteção contra as ameaças dos líquidos. “Estamos vendo uma demanda crescente, conforme os clientes descobrem as opções à disposição”, diz Stephen Coulson, fundador da empresa inglesa P2i, que fabrica uma espécie de tinta invisível que protege eletrônicos. Já existem alguns celulares à prova d’água no mercado, como o Sony Xperia Go, o Lenovo A660 e o Samsung B2100 Xplorer. Eles contam com uma proteção eficiente, porém limitada, e aguentam submersões de até um metro de profundidade por 30 minutos, suficiente para prevenir danos em caso de exposição acidental a líquidos. Mas ainda não dá para mergulhar e levar o telefone no bolso para fotografar o fundo do mar, por exemplo. “Quanto maior a profundidade, maior a pressão. A água penetra com mais facilidade”, afirma Ugo Dias, professor de engenharia elétrica da Universidade de Brasília.
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REPELENTE
Mark Shaw, da UltraTech, usa tinta para demonstrar substância
super-hidrofóbica durante a conferência de tecnologia TED nos EUA
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A demanda por impermeabilização eficiente vai além dos eletrônicos, alcançando roupas, sapatos, ferramentas e janelas. Começam a surgir também no mercado produtos chamados de super-hidrofóbicos, como o revestimento Ultra-Ever Dry. Ele pode ser aplicado a quase qualquer superfície, como tecido, vidro e concreto. Esse químico, fabricado pela americana UltraTech, é formado por duas camadas: a de baixo adere à superfície em que é aplicada e a de cima, feita de nanopartículas, forma “montinhos” de bilhões de moléculas intercaladas por espaços vazios. “O ar fica aprisionado e cria uma barreira que repele a umidade”, diz Mark Shaw, copresidente da empresa.
Além de proteger contra a corrosão e sujeira causadas por água, lama, tintas e óleos, tecnologias como a do Ultra-Ever Dry podem impedir o congelamento de estruturas e ter função bactericida, já que, sem umi dade, os micro-organismos não sobrevivem. No caso de produtos eletrônicos, porém, ainda há algumas barreiras à super-hidrofobia – e isso limita o tipo de abuso que eles podem tolerar. Um dos obstáculos é a espessura de smartphones e tablets, que se tornam mais finos a cada geração, deixando menos espaço para os circuitos eletrônicos. Essa característica os torna mais suscetíveis a um fenômeno chamado migração eletroquímica, um tipo de corrosão que acontece quando o líquido permite que íons metálicos trafeguem de um ponto a outro em um circuito, criando uma ponte para a eletricidade flutuar desordenadamente. “Esse é o resultado quando alguém derruba água no celular: ele sofre um curto-circuito e apaga”, diz Stephen Coulson, da P2i. “Os revestimentos com nanotecnologia permitem que os fabricantes adicionem proteção sem terem que mudar o design”, afirma.
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Como ocorre muitas vezes na indústria da tecnologia, o nanorrevestimento da P2i tem origens militares. Coulson desenvolveu sua tecnologia de repulsão de líquidos durante um doutorado na Universidade de Durham, na Inglaterra. Em uma parceria com o governo inglês, o produto foi aplicado em uniformes de soldados, que ficaram menos suscetíveis a ataques com armas químicas. Hoje, a empresa vende a substância para fabricantes de eletrônicos, que ainda buscam soluções para tornar seus produtos totalmente impermeáveis. “Um grande desafio é proteger os conectores do carregador de bateria e do fone de ouvido. Eles não podem ser revestidos porque precisam transmitir eletricidade”, diz o engenheiro Ugo Dias. Por isso, a tendência para o futuro é que os celulares à prova d’água venham com carregadores e fones sem fio. Quem sabe assim, um dia, os consumidores possam fazer ligações, tirar fotos, ver vídeos e navegar na internet de dentro da banheira, da piscina e até do mar.

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