A Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, onde permanece o presidente deposto, Manuel Zelaya, teve a eletricidade, a água e o telefone cortados, informou a chancelaria em Brasília. A embaixada também pediu apoio do governo dos EUA."A eletricidade está sendo mantida com gerador", disse uma fonte consultada pela agência de notícias AFP. O Brasil solicitou apoio à Embaixada dos EUA para que, "em caso de necessidade", ofereçam segurança e diesel para o gerador", disse a chancelaria.Militares de Honduras cercaram na manhã desta terça-feira (22) a embaixada brasileira em Tegucigalpa, onde permanece o presidente deposto, Manuel Zelaya, e obrigaram a retirada dos manifestantes que passaram a noite em frente ao edifício.
Soldados e policiais hondurenhos, muitos com o rosto coberto por gorros, chegaram ao local por volta das 6h (9h, horário de Brasília) e lançaram gás lacrimogêneo e atacaram com cassetetes cerca de 4.000 simpatizantes de Zelaya.O governo interino de Honduras declarou toque de recolher em todo o país, após a confirmação de que Zelaya tinha retornado a Tegucigalpa. Inicialmente, o toque de recolher foi estabelecido das 16h às 7h00 no horário local (entre 19h e 10h, no horário de Brasília), segundo comunicou o governo golpista em cadeia de rádio e televisão. Pouco depois, a medida foi estendida até às 18h locais da terça-feira (22).O porta-voz do Departamento de Segurança, Orlin Cerrato, disse que a área em torno da embaixada está sob controle das autoridades desde a manhã desta terça-feira (22). Não foi informado se há presos ou feridos.Cerca de 70 pessoas acompanham o Zelaya na embaixada. Por parte do Brasil, está o encarregado de Negócios, Francisco Resende, responsável da representação, já que o embaixador brasileiro havia sido chamado de volta ao país. Os demais funcionários da embaixada "foram aconselhados a não ir trabalhar", disse uma fonte consultada pela AFP.A embaixada brasileira também confirmou que cerca de 5.000 manifestantes favoráveis Zelaya foram dispersados pelas forças de segurança de Honduras, mas não especificaram se houve lançamento de bombas de gás lacrimogêneo ou invasão das instalações.Após expulsar os manifestantes, a polícia colocou amplificadores voltados em direção à embaixada brasileira e tocaram o hino nacional de Honduras de forma estridente, disse Zelaya. "Os militares colocaram sons estridentes para tentar enlouquecer as pessoas que estão dentro da embaixada", acrescentou.Zelaya, que retornou na segunda-feira (21) a Tegucigalpa em um movimento surpresa, recebeu autorização da chancelaria do Brasil para se abrigar na embaixada brasileira em Honduras. Toda embaixada possui status de território estrangeiro, e por isso a polícia e o exército hondurenhos não podem entrar no local sem autorização.Lula pede para Zelaya não dar pretexto para invadir a embaixada-O presidente Luiz Inacio Lula da Silva disse a Zelaya que não dê um pretexto para que os líderes do golpe de Estado possam invadir a embaixada brasileira. Lula disse que falou com o presidente deposto por telefone nesta terça-feira (22)."O normal que deveria acontecer é que os golpistas deveriam dar um lugar a quem tem direito de estar nesse lugar, que é o presidente eleito democraticamente pelo povo", disse Lula à imprensa em Nova York, onde se encontra para participar da Assembleia Geral da ONU.O presidente brasileiro também pediu ao governo interino de Honduras para aceitar uma solução "negociada e democrática" que permita o regresso de Zelaya ao poder. "Nós esperamos que os golpistas não entrem na embaixada brasileira", acrescentou.O chanceler Celso Amorim disse na tarde desta segunda-feira (21) que o Brasil espera uma solução rápida para a crise política em Honduras, após o regresso do presidente deposto."Esperamos que isso [o retorno de Zelaya] abra uma nova etapa nas discussões e que uma solução rápida, baseada no direito constitucional, possa ser alcançada", declarou Amorim a jornalistas em Nova York.Segundo o chanceler, "o Brasil não teve nenhuma interferência" na volta de Zelaya, limitando-se a conceder-lhe a permissão para entrar na embaixada brasileira em Tegucigalpa, que foi "solicitada uma hora antes de sua chegada"."O presidente disse que chegou a Honduras por meios próprios e pacíficos", indicou Amorim, acrescentando que não tem maiores detalhes sobre como o presidente deposto retornou ao país.Amorim também disse ter conversado com o secretário-geral da OEA e com o governo norte-americano para que fosse garantida toda a segurança para Zelaya e para os funcionários da embaixada brasileira em Tegucigalpa.Governo interino vai responsabilizar Brasil por violênciaO governo interino de Honduras disse nesta segunda-feira que responsabilizará o Brasil por possíveis atos de violência como consequência de ter dado refúgio ao presidente deposto, Manuel Zelaya, em sua embaixada na capital Tegucigalpa."A tolerância e a provocação que se realiza desde o local dessa representação do Brasil são contrárias às normas do direito diplomático e transformam a mesma e seu governo nos responsáveis diretos dos atos violentos que possam suscitar dentro e fora dela (embaixada)", disse a chancelaria do governo interino, em nota.Zelaya diz ter tido contato com governo interinoO presidente deposto hondurenho, Manuel Zelaya, afirmou na madrugada desta terça-feira ter estabelecido os primeiros contatos para iniciar o diálogo com as autoridades do governo interino lideradas por Roberto Micheletti."Estamos começando a fazer as aproximações de forma direta. Sempre tem sido por meio de intermediários e diferentes componentes que apresentaram para este assunto", afirmou em entrevista ao Canal 11."Quando tivermos uma proposta específica vamos divulgá-la, porque ele pediu um diálogo e estamos nos comunicando", disse.Zelaya se negou a revelar os nomes das pessoas, mas disse que no golpe Estado estiveram envolvidos setores "muito determinantes do Estado".Ele não informou se falou com o presidente interino, Roberto Micheletti, e os comandantes militares. "Mas sim, estamos tendo diferentes mecanismos de comunicação com os setores responsáveis por este golpe de Estado com o fim de que recapacitem e busquem uma solução para o povo".Zelaya entrou em Honduras de forma surpreendente, o que causou euforia entre seus simpatizantes. Ele foi deposto no dia 28 de junho.
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