Chanceleres e ministros de Defesa do bloco se reúnem para debater acordos de cooperação e compra de material bélico que despertam receios de corrida armamentista.O clima de desconfiança evidenciado na última cúpula da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), há duas semanas, deve se repetir em Quito, hoje. Só que agora não só a Colômbia terá de prestar esclarecimentos sobre um acordo militar. Governos da região já anunciaram que vão querer mais detalhes sobre as recentes compras militares de Brasil, Venezuela e Chile. Na reunião entre chanceleres e ministros de Defesa dos 12 países que compõem o grupo, Brasil, Equador e Peru apresentarão propostas para monitorar acordos de defesa com países de fora da região.
De acordo com o Itamaraty, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, vai sugerir aos colegas um tratado que estabeleça a obrigatoriedade de cada país informar as movimentações militares e os acordos fechados com terceiros países. A ideia é criar um cenário mais “transparente”, para evitar conflitos diplomáticos como o gerado pela revelação de que os Estados Unidos passariam a usar sete bases militares no território colombiano. Amorim também insistirá para que sejam colocadas em um documento as garantias dadas pelo governo de Álvaro Uribe de que o acordo com Washington tem por finalidade apenas combater o “terrorismo interno” e o narcotráfico.
Por sua vez, os dois ministros brasileiros levarão a disposição do governo em esclarecer qualquer dúvida dos vizinhos em relação ao acordo com a França para aquisição de 50 helicópteros e cinco submarinos — um deles nuclear. Quem primeiro pediu explicações foi o chanceler colombiano, Jaime Bermúdez, alegando que “devem ser discutidos na Unasul todos os temas de interesse regional”. “A Colômbia é muito respeitosa das decisões tomadas por outros países, mas qualquer consideração sobre esse tema deve ser discutida no marco da Unasul”, argumentou.
A posição foi defendida pelo ministro da Defesa boliviano, Wálker San Miguel, há 10 dias. “Certamente, o Conselho de Defesa vai tocar no tema Brasil-França, e seguramente o Brasil dará uma informação adequada”, disse o ministro à agência EFE. A reunião nem será, tecnicamente, do Conselho de Defesa da Unasul, apesar de reunir todos os representantes máximos de cada governo na área. O Paraguai também está preparado para criticar a “corrida armamentista” na América do Sul. “Obviamente, o investimento desproporcional (em segurança) tem consequências no bem-estar da população”, disse o chanceler Héctor Lacognata, às vésperas do encontro.
Venezuela
O embaixador da Venezuela na Colômbia, Gustavo Márquez, revelou em entrevista ao jornal El Tiempo, de Bogotá, qual será a mensagem dos representantes de Hugo Chávez em Quito. “Que todos coloquem as cartas sobre a mesa. Você tem um acordo com a Rússia? Então, coloque sobre a mesa. Você, com os Estados Unidos? Ponha-o sobre a mesa. É uma mostra de confiança”, afirmou Márquez. A delegação venezuelana também terá muito a explicar. Só no último fim de semana, depois de uma viagem a Moscou, Chávez anunciou a compra de 92 tanques, sistemas de mísseis antiaéreos e mísseis terra-terra com alcance de 300km — um pacote de US$ 2,2 bilhões com a Rússia.
O professor Rafael Duarte Villa, do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), acredita que a solução de um “acordo de transparência” militar não seria efetivo para a região. “Quando falamos de Defesa, não existe transparência absoluta, pois os Estados têm o direito de não revelar detalhes sobre esses acordos”, afirma Villa. Para o especialista em Defesa e em América Latina, é preciso destacar a diferença entre comprar armas e permitir que um outro país utilize o território. “Certamente, isso não tem o mesmo peso. Essas compras não são exatamente acordos, no sentido mais estrito da palavra, como é um acordo sobre uma instalação de uma base em um país.”
Reforço millitar
Aquisições recentes de material bélico na América do Sul
Brasil
50 helicópteros EC 725 e cinco submarinos, sendo um de propulsão nuclear (França); 36 caças (em processo de concorrência); 12 helicópteros de combate Mi-35M (Rússia); 12 aviões Mirage-2000 e um porta-aviões (França).
Colômbia
O principal reforço veio do aumento da presença norte-americana no país, que utilizará sete bases militares colombianas. Nos últimos anos, também adquiriu caças-bombardeiros Kfir (Israel); um avião Boeing 767 modificado para reabastecimento (EUA); e 25 SuperTucanos (Brasil).
Chile
Nos últimos anos, comprou cinco helicópteros MIL Mi-17V5 (Rússia); oito fragatas Type 22 e 23 (Reino Unido); dois submarinos Scorpène (França); 46 caças F-16 (EUA e Holanda); 12 SuperTucanos (Brasil); 350 tanques Leopard; 400 blindados de combate M113, YPR-765 e Marder (EUA e Alemanha); dois aviões-tanque KC-135 (Estados Unidos).
Peru
Pretende comprar 500 mísseis antitanque dos modelos Kornet (Russo) e Spike (Israel)
Venezuela
Desde 2005, suas principais compras militares foram 92 tanques T-72; três submarinos; veículos blindados; sistemas de mísseis S-300 (terra-ar); 24 aviões Sukhoi (foto); 53 helicópteros de transporte e ataque e 100 mil fuzis de assalto AK 103 (Rússia).
Equador
Fechou acordo para a compra de 24 SuperTucanos (Brasil)
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