Passado o Abril Vermelho, período do ano em que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) concentram os protestos pelo país, com dezenas de invasões, a entidade passa a ser mais palatável para a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff. Durante entrevista a uma rádio de Pernambuco, em abril, no auge das invasões do MST, Dilma afirmou que não repetiria o gesto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que colocou o boné dos semterra.
“Acho que não é cabível vestir o boné do MST. Governo é governo, movimento é movimento.
Não concordo que alguém do governo assuma a bandeira do MST”, afirmou, à época. Depois do discurso, muitos interpretaram a fala como uma leve crítica ao presidente, que assumiu em público as cores do movimento.
Agora, em ritmo de campanha, Dilma mostra que pode ser flexível em relação ao MST. Durante reunião do PT de Sergipe, no dia 24, a presidenciável discursou para uma plateia de militantes com o boné do MST na cabeça.
A imagem de Dilma com o adereço não foi divulgada no portal da campanha na internet, mas foi flagrada por uma emissora de TV de Sergipe. A assessoria de imprensa da candidata afirma que o boné foi entregue a Dilma por uma criança e a candidata colocou o adereço na cabeça sem perceber que era do movimento.
Em outra entrevista, a uma rádio de Minas Gerais, a candidata do PT afirmou que não vai tolerar ações ilegais da entidade. “Ninguém que governe um país, um estado ou um município pode ser complacente com a ilegalidade.
Invasão de terras, de centros de pesquisa, de prédios públicos é ilegalidade.
E ilegalidade não é permitida”, defendeu, antes da reunião em Sergipe. Em outra ocasião, a presidenciável afirmou ser contra “que haja invasão de terra”, mas defendeu o fim da violência contra integrantes do movimento.
Segunda agenda O encontro do PT em Sergipe formalizou o nome do governador Marcelo Déda (PT) como candidato à reeleição. A presidenciável participou primeiro de uma coletiva na orla de Atalaia, em Aracaju. Por isso, grande parte da imprensa perdeu a segunda agenda da candidata. Enquanto o comando de campanha preferiu não divulgar as fotos do afago ao MST, entidades ligadas à reforma agrária comemoraram a homenagem da candidata à Presidência com posts no Twitter e comentários em blogs. O MST já declarou apoio à campanha de Dilma.
A proximidade do governo Lula com o movimento sempre foi alvo de críticas. Partidários da oposição argumentam que o Executivo ajudaria a patrocinar o MST enquanto a entidade pratica invasões de terra que nem sempre se justificam pelo critério da improdutividade das propriedades.
O MST não tem CNPJ e, diretamente, não recebe recursos públicos, mas integrantes da oposição argumentam que líderes do movimento comandam mais de 40 entidades ligadas à questão agrária e são beneficiadas com recursos federais. Explorar o elo do governo com os sem-terra é estratégia dos tucanos, aliados do presidenciável José Serra, para tentar tirar votos de Dilma dos produtores rurais e dos trabalhadores da agricultura de médio porte.
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