Por Daniela Chiaretti - De São Paulo
O
Brasil está mais perto de ter seu submarino nuclear, um projeto dos
militares há 40 anos. Se tudo andar conforme o cronograma da Marinha do
Brasil, o SNBR, sigla para Submarino Nuclear Brasileiro, estará
navegando em 2025. Hoje será inaugurada em Itaguaí, no Rio de Janeiro, a
unidade de produção de onde sairão seus componentes internos e dos
outros quatro submarinos convencionais que vão substituir a atual frota.
A
presidente Dilma Rousseff inaugura hoje de manhã a Unidade de
Fabricação de Estruturas Metálicas (Ufem), iniciada em 2010. Trata-se de
uma fábrica grande, com um galpão de 40 metros, 90 mil m2, sendo 53 mil
m2 de área construída. Fica a três quilômetros da Nuclebrás
Equipamentos Pesados S.A. (Nuclep), ligada ao Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação. A Nuclep constrói os cilindros do casco, a parte
do submarino onde ficam os tripulantes. Enquanto a Nuclep fabrica o
corpo do submarino, a Ufem faz as estruturas mais leves e internas - os
convés, as anteparas, as bases da tubulação e dos equipamentos além da
proa e da popa.
O
processo de construção dos submarinos acontece simultaneamente em
várias unidades. A intenção é que cada um deles fique pronto em cinco
anos, o prazo para que não estejam logo obsoletos, explica o almirante
Alan Paes Leme Arthou, gerente do projeto e construção da base e do
estaleiro de Itaguaí. O primeiro dos quatro submarinos convencionais - a
família dos SBR que terá nome das batalhas navais da Guerra do
Paraguai-, deve ficar pronto em 2015. Permanece dois anos em teste e
será entregue em 2017. O segundo será entregue 1,5 ano depois e assim
por diante até que o quarto fique pronto em 2020.
Cada
um dos submarinos convencionais custa € 500 milhões (quase R$ 1,3
bilhão). Substituirão a frota existente, de cinco submarinos (Tupi,
Tamoio, Timbira, Tapajó e Tikuna), com vida útil entre 25 e 30 anos e
baseados em projeto alemão. A nova família tem cinco metros a mais que
os franceses Scorpène, da Direction des Constructions Navales et
Services (DCNS). Ali cabem 40 tripulantes.
O
submarino nuclear, que será batizado de Álvaro Alberto (homenagem ao
militar que introduziu a energia nuclear no Brasil), é bem maior e
custará € 2 bilhões (R$ 5,19 bilhões). São cem tripulantes.
O
projeto em curso pela Marinha inclui três frentes - a que vai construir
o submarino nuclear, a que construirá os quatro submarinos
convencionais e as instalações para fazer tudo isso. O plano prevê a
construção do estaleiro e de uma base naval. O chamado Prosub (Programa
de Desenvolvimento de Submarinos) é o maior contrato militar
internacional do Brasil - são € 6,7 bilhões (ou R$ 17 bilhões). Parcela
desses recursos para o projeto de defesa brasileiro faz parte de um
financiamento a ser pago pelo Brasil em 20 anos, até 2029, a um
consórcio formado pelos bancos BNP Paribas, Societé Generale, Calyon
Credit Industriel et Commercial, Natixis e Santander.
Cerca
de 70 brasileiros estiveram nos estaleiros da DCNS, em Cherbourg, para
transferência de tecnologia e capacitação. Uma empresa formada pela DCNS
e pela Odebrecht, de propósito específico, constrói a base naval e o
estaleiro em Itaguaí.
O
projeto de construção dos submarinos faz parte de um acordo entre
Brasil e França assinado em setembro de 2009 entre os então presidentes
Luiz Inácio Lula da Silva e Nicolas Sarkozy. A França não passa ao
Brasil a tecnologia da propulsão nuclear. "Ninguém, no mundo, fornece
tecnologia para enriquecer urânio, que é o combustível do submarino
nuclear", diz o almirante. O Brasil já enriquece urânio desde 1985.
Hoje
meia dúzia de países têm submarinos nucleares: Estados Unidos e Rússia
(já tiveram cerca de 170 cada e agora possuem 70), Inglaterra e França
(dez cada), e China (com quatro). A Índia também tem um projeto, como o
Brasil.
O
almirante Arthou dá uma ideia da complexidade de se fazer um submarino
nuclear. "É o bem mais complexo que se pode produzir no mundo", diz. Um
carro tem cerca de 3 mil peças, um avião caça, 100 mil. Um avião
comercial de última geração, 150 mil peças. Na Challenger são 180 mil
peças. "Um submarino nuclear tem entre 800 mil a 900 mil peças,
dependendo do projeto."
Nenhum comentário:
Postar um comentário