O mês de fevereiro trouxe desânimo para os cearenses; choveu apenas 69 milímetros, dos 150,4 esperados
O
sinal de alerta foi dado: caso as previsões de chuvas continuem abaixo
da média e as obras prometidas não sejam finalizadas, há risco, sim, de
racionamento de água já a partir do próximo mês em alguns municípios do
Interior. Os mais críticos são, conforme a Companhia de Água e Esgoto do
Ceará (Cagece), Crateús, Quiterianópolis, Beberibe e Pacoti. E a
situação pode piorar já nos próximos dias; choveu apenas 69 milímetros,
dos 150,4 esperados, metade em relação ao ano passado, de acordo com a
Fundação Cearense de Meteorologia (Funceme). Fortaleza estaria fora de
perigo, por enquanto. Em Recife, por exemplo, já começou o racionamento,
um rodízio.
Localizada
no Sertão Central, Quiterianópolis é uma das cidades que pode passar
por racionamento já a partir do próximo mês. Os moradores e animais do
lugar costumam ser castigados devido aos efeitos da seca FOTO: WALESKA
SANTIAGO
Em Alcântaras, 221km de Fortaleza, moradores
contam que já está havendo corte preventivo e que a distribuição só está
sendo fornecida no período da manhã. O clima na cidade é de cautela, o
temor é de colapso geral, afirma o morador e presidente da Entidade
Cooperativista Sustentável (Ecos), Freire Caetano Filho. "O açude que
abastece a cidade está quase seco, só deve ter uns 3% da sua capacidade.
Teve dia até que, ao invés de água, veio só lama nos canos, tamanha era
a secura. Se não chover, tenho certeza que daqui há dois meses a gente
entra sim em crise, colapso geral. Estamos apreensivos".
A
situação de Alcântara não é muito diferente das demais. Mesmo com a
seca, a população não colabora economizando. "As pessoas aqui da região
não têm consciência de que a água é pouca e pode, sim, acabar. É um
monte de gente jogando água fora, os lava-jatos funcionando a todo vapor
e a construção civil não para de subir casa. Quem sabe o racionamento
ajuda um pouco", afirma Freire Caetano Filho. Atualmente, 174 dos 184
municípios cearenses estão em estado de emergência. A previsão para os
próximos dois meses, segundo a Funceme, aponta probabilidade de 40% para
as precipitações ficarem abaixo do normal, de 35% para chuvas em torno
da média e apenas 25% de chover acima da média prevista.
Conforme
monitoramento da Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh), 74
açudes estão com volumes inferior a 30%. E muitos são os reservatórios
em situação crítica. Na Bacia do Médio Jaguaribe, por exemplo, o açude
Madeiro, em Pereiro, segue com 2,26%. Na Bacia de Crateús, açude de
Colina, em Quiterianópolis, está com apenas 5,52% da capacidade.
Em
meio a toda uma situação de desabastecimento, a pergunta segue: por que
Fortaleza não estaria, então, em crise também? Na Capital cearense, no
posto de Castelão, foram registrados apenas 103,2 milímetros, enquanto a
média mensal era de 158 milímetros para fevereiro.
Os municípios
mais atingidos foram Barroquinha, Litoral Norte, com 248 milímetros,
enquanto a média é de 200,6 milímetros e Pacatuba, com 227,3 mm.
Castanhão
Para
o professor doutor do departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental
da Universidade Federal do Ceará (UFC), Marco Aurélio Holanda de
Castro, Fortaleza só não está pior por conta de ligações com demais
bacias além das metropolitanas. "Se não fosse o Castanhão, o Ceará
inteiro já deveria estar beirando um colapso hídrico geral", afirma. Ele
não acredita em medidas palitavas, em carros-pipa e apenas nas
cisternas, há que se ter demais ações como a transposição do Rio São
Francisco e depois o Cinturão das Águas.
"Todo o Nordeste tem uma
escassez hídrica histórica. O Ceara é um dos estados que mais tem
extensão no semiárido. Nós temos índices de pluviosidade muitos baixos.
Por conta de toda essa conjuntura, o Estado não pode ser dar ao luxo de
só depender das chuvas, tem que ter ações, alternativas. O Castanhão é
que garante a água bruta de Fortaleza", afirma Holanda.
Cidades
como Recife, segundo ele, estão racionamento porque dependem quase e
exclusivamente de suas bacias metropolitanas, diferente de Fortaleza.
Para
Josineto Araujo, diretor de operações da Cagece, racionamento está
descartado para a Capital, mas cidades do Interior estão em situação
crítica. "Estamos assinando contrato de perfuração de novos poços.
Estamos fazendo tudo para evitar racionamento, mas se não chover até
abril teremos mais chances de racionar sim". Sobre Alcântaras, ele
detalha que não há ´racionamento´, apenas uma ação educativa de combate
ao desperdício.
Cisternas serão implantadas
Com
a intenção de auxiliar famílias cearenses que sofrem com a Seca, o
Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) irá implantar
26.228 cisternas no Estado do Ceará. A previsão é que tudo esteja pronto
num prazo de até dez meses.
A
operação começou ontem em Tauá. Serão beneficiadas famílias inscritas
no Cadastro Único para Programas Sociais do governo federal Foto:
Waleska Santiago
A operação para levar cisternas às
famílias cearenses começou ontem (4), em Tauá. A primeira fase da
implantação é de responsabilidade das equipes de técnicos e assistentes
sociais, que vão checar as residências dos inscritos. Serão beneficiadas
famílias inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais do governo
federal.
Durante as visitas, os agentes irão observar, também, se
as casas contam com abastecimento, de água e se o teto é adequado, pois
o mesmo não pode ser de palha. Municípios como Sobral, Redenção,
Capistrano, Russas e Mauriti receberão mais de duas mil cisternas, cada
um. O município de Horizonte receberá 574 cisternas e Morada Nova,
1.300. Outros locais do Ceará estão sendo mapeados pelas equipes do
Dnocs para que também possam receber a operação.
As mais de 26
mil cisternas do Ceará fazem parte do total de 60 mil unidades que o
Dnocs vai implantar no Nordeste. A verba é oriunda do Ministério da
Integração Nacional, que vai investir R$ 255,9 milhões na ação pelo
Programa Água para Todos do Plano Brasil sem Miséria, do governo
federal. As 60 mil cisternas compreendem, além do Ceará, os estados do
Nordeste. A distribuição das 12 mil unidades na Bahia já foi iniciada.
Na Paraíba serão implantadas 4 mil cisternas. Já em Pernambuco, serão
instaladas 5.772, e, no Rio Grande do Norte, duas mil cisternas.
Falta de chuva
A
iniciativa, porém, levanta uma questão a respeito da utilidade dessas
cisternas, já que, em 2013, no Ceará, o nível de chuva tem sido abaixo
da média. Sobre o assunto, o coordenador do programa Água para Todos no
Dnocs e engenheiro da Diretoria de Infraestrutura Hídrica, Elias
Benevides, afirma que, caso não haja chuva como o esperado, as cisternas
serão preenchidas com água de carros-pipa.
"A finalidade é fazer
com que a famílias não sofram nem precisem se deslocar para conseguir
água. Se a chuva não vier, estaremos dispostos para suprir a falta de
água com carros-pipa", diz. Benevides acrescenta que cada cisterna
possui capacidade de armazenamento de 16 mil litros, quantidade
suficiente para que uma família tenha água reservada durante um período
de seca ou dificuldade.
SAIBA MAIS
Reservatórios abaixo de 10%
1. Jenipapo II (Baixio) 4,81%
2. Realejo (Crateús) 9,25%
3. Poço do Barro (Morada Nova) 4,53%
4. Patos (Sobral) 7,77%
5. Colina (Quiterianópolis) 5,52%
6. Broco (Tauá) 5,57%
7. Penedo (Maranguape) 2,74
8. Jerimum (Irauçuba) 6,85%
9. Pirabibu (Quixeramobim) 3,4%
10. Souza (Canindé) 7,8
11. Desterro (Caridade) 5,39%
Fonte: Cogerh
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