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sábado, 9 de março de 2013

Qual é o trabalho do ministro?

A falta de interlocução com as centrais sindicais e a incapacidade de unificar o PDT e pôr fim à indústria dos sindicatos tornam insustentável a permanência de Brizola Neto no governo

Pedro Marcondes de Moura
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NA CORDA BAMBA
O ministro do Trabalho, Brizola Neto, está ameaçado de perder o cargo
Na quarta-feira 6, a presidenta Dilma Rousseff recebeu no Palácio do Planalto os líderes das seis principais centrais sindicais do País, após uma marcha que reuniu cerca de 40 mil trabalhadores em Brasília. Mais do que a tentativa de reconciliação entre o governo federal e as entidades, o encontro escancarou a todos os participantes o que no governo e no PDT já se comentava intramuros: o completo isolamento do ministro do Trabalho e Emprego, Brizola Neto. Durante a conversa que se estendeu por uma hora e 40 minutos, o ministro nem sequer pediu a palavra. Entrou na reunião mudo e saiu calado. Coube ao secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, mediar o diálogo de Dilma com os sindicalistas. “Foi constrangedor. Ele parecia alheio à discussão das pautas de reivindicações”, contou à ISTOÉ o dirigente de uma das centrais. Esse comportamento apático adotado pelo ministro, nos últimos meses, tem sido alvo de críticas do governo. O Planalto debita na conta de Brizola Neto, por exemplo, a ida da Força Sindical, a segunda maior central do País, para os braços da oposição. Além da falta de interlocução com lideranças sindicais e com setores do próprio partido, o PDT, problemas na gestão do ministério, como a incapacidade de pôr fim à indústria dos sindicatos – denunciada por ISTOÉ – foram o que levaram Brizola Neto ao descrédito junto a Dilma. Nos bastidores do governo, há quem aposte que Brizola Neto não atravesse a semana no posto de ministro do Trabalho. Tende a ser apeado do cargo nos próximos dias, dando início à reforma ministerial imaginada por Dilma com o objetivo de recompor sua base de apoio de olho nas eleições presidenciais de 2014.
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A leitura no governo é que Brizola Neto não fez frente às expectativas depositadas nele. Ao contrário do que ele próprio propagandeava ao postular a vaga na Esplanada dos Ministérios, o ministro mostrou-se incapaz de unificar o PDT, fundado por seu avô Leonel Brizola, a ponto de sua pasta não ser considerada por correligionários como pertencente à cota do partido. Tampouco conseguiu manter o apoio inicial que lhe foi dado pelas centrais de trabalhadores. Paralelamente, a sua gestão de quase um ano à frente do Ministério do Trabalho também foi marcada pela continuação do processo de perda de relevância da pasta. Projetos importantes saíram de sua esfera. O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), por exemplo, passou a ser subordinado ao Ministério da Educação.
Outra queixa recorrente advém de sua inépcia. Apesar dos discursos eloquentes, apenas na segunda-feira 4, ou seja, dez meses depois de assumir com promessas de acabar com as irregularidades na pasta, Brizola Neto publicou no Diário Oficial alterações na Portaria 186/08 com o intuito de frear a fábrica de sindicatos fantasmas que faturam com o imposto sindical. Entre elas, a necessidade de publicação dos atos processuais do Cadastro Nacional de Entidades Sindicais e a realização de assembleia em caso de desmembramento dos sindicatos. Mas as medidas ainda não entraram em vigor. É que elas só passam a valer 30 dias depois de publicadas. Há tempos, iniciativas moralizadoras eram aguardadas para dar transparência ao setor. Foram, aliás, as denúncias da existência de um esquema de cobrança de propina para a criação de entidades, feitas por ISTOÉ, que levaram o seu antecessor e desafeto político, Carlos Lupi (PDT), a deixar o cargo.
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DENÚNCIA
Ainda funciona no Ministério do Trabalho uma verdadeira fábrica de sindicatos
A exemplo do que ocorreu com Lupi, quando ele estava na iminência de deixar o ministério, Brizola Neto viu sua sustentação política se deteriorar nos últimos meses. Lideranças do movimento sindical reclamam que ele teria se encastelado e deixado de lado acordos pactuados após virar ministro. “Havia uma agenda com demandas que foram ignoradas”, afirma um dirigente. Outros representantes do setor ouvido por ISTOÉ questionam a sua ausência no papel de interlocutor nas principais greves, como a dos servidores federais e de canteiros de obras pesadas da construção civil. Dizem carecer da falta de um integrante do alto escalão capaz de levar as suas demandas ao governo. Hoje, a tarefa é cumprida pelo secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho. “No passado, o Ministério do Trabalho tinha papel preponderante e era chamado para opinar em diversas áreas”, atesta o presidente de uma central. “Estamos vendo um processo de sucateamento”, lamenta. Algumas entidades questionam também o fato de não ocuparem cargos no ministério, que dizem só ter representantes da Força Sindical e da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
As maiores pressões pela demissão de Brizola Neto, no entanto, partem da Força Sindical. Segunda maior central sindical do País, atrás em filiados apenas da Central Única dos Trabalhadores (CUT), a entidade é uma espécie de braço sindical do PDT. Liderada pelo deputado federal Paulo Pereira da Silva, a organização foi a primeira a avalizar o nome de Brizola Neto ainda em 2012. Hoje, os seus dirigentes afastam-se do ministro na mesma velocidade em que se aproximam do seu rival e atual presidente nacional do PDT, Carlos Lupi. Recentemente, dirigentes da central, além de criticarem duramente a presidenta Dilma Rousseff (PT), passaram a flertar com a candidatura do tucano Aécio Neves e do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), ao Palácio do Planalto. Os movimentos evidenciam para o governo a fragilidade política de Brizola Neto em negociar com as entidades sindicais, mas, principalmente, em mobilizar seus próprios correligionários em torno da reeleição de Dilma em 2014.
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Fotos: Adriano Machado, CELSO JUNIOR/AGÊNCIA ESTADO/AE

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