Encontro ocorre na Capela Sistina e reúne cardeais de vários continentes.
Processo de escolha do sucessor de Bento XVI começa nesta terça (12).
O processo ocorre a portas fechadas segue uma série de ritos. O G1 ouviu especialistas que, abaixo, contam alguns detalhes e curiosidades.
Além deles, o cardeal brasileiro Dom Geraldo Majella, um dos cinco brasileiros que com direito a votar e ser votado na próxima sucessão papal, e que já participou do conclave que elegeu o Papa Bento XVI, também falou sobre detalhes da reunião, que acontecerá na Capela Sistina, no Vaticano.
1 - Os cardeais ficam trancados na Capela Sistina o tempo todo?
Não. Eles fazem as refeições e dormem na Casa Santa Marta, um edifício construído durante o pontificado de João Paulo II, localizado a 700 metros da Capela Sistina. Ele está pronto para receber os cardeais durante o conclave. Os participantes das votações ficam trancados apenas durante as votações: quatro por dia, duas de manhã e duas à tarde, até que se eleja um Papa.
2 - Qual é o idioma falado durante o conclave?
De acordo com Dom Geraldo Majella, a língua predominante é o italiano. No entanto, “todos falam os idiomas que conhecem. Mas na hora de se comunicar em público, o italiano é a língua permanente e que todos entendem”, explica.
Expressões que fazem parte do ritual do voto são faladas em latim. Na hora de votar, segundo o padre Denilson, os cardeais dizem em voz alta “Testor Christum Dominum, qui me iudicaturus est, me eum eligere, quem secundum Deum iudico eligi debere”, que quer dizer em português “Invoco como testemunha Cristo Senhor, o qual me há de julgar que o meu voto é dado àquele que, segundo Deus, julgo que deve ser eleito”.
3 - Como os cardeais se deslocam entre a Capela Sistina e a Casa Santa Marta?
Cerca de 700 metros dividem os dois locais. Segundo Dom Geraldo Majella, cardeal brasileiro, o trajeto pode ser feito caminhando ou com a ajuda de meios de transporte, como carros ou micro-ônibus, que estão a serviço do Vaticano.
Não. Devido ao costume de realizar duas votações na parte da manhã e mais duas no período da tarde, os participantes do conclave terão um intervalo para refeição, que deve ocorrer entre 13h e 15h (horários locais). Eles se retiram da Capela e se dirigem à Casa Santa Marta, onde ficarão hospedados e enclausurados até a escolha do novo Sumo Pontífice. Lá almoçam e ainda “tiram um cochilo”, seguindo a tradição italiana de descansar após a refeição.
5 - Eles poderão utilizar aparelhos celulares, tablets, Facebook ou Instagram para postar o que acontece na votação?
Não. Segundo o padre Denilson, baseado em informações da Constituição Apostólica, para que nenhum segredo seja violado o camerlengo pode recorrer à perícia de dois técnicos que terão a obrigação de evitar que cardeais e demais funcionários da Santa Sé envolvidos no conclave entrem com meios de captação ou transmissão audiovisuais na Capela Sistina.
No entanto, o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, disse em entrevista coletiva na última semana que os cardeais eleitores não precisarão passar por revista antes de entrar no local de votação. Apenas funcionários e demais pessoas que trabalharem neste local e também na Casa Santa Marta terão de se submeter a um detector de dispositivos.
6 - Mas e quem desrespeitar e conseguir “burlar” as normas da Santa Sé?
Deverá ser punido com a excomunhão, que é a expulsão do religioso da Igreja Católica.
7 - Fora da Capela Sistina, os cardeais podem conversar entre si?
Sim. Eles podem conversar normalmente entre si durante os dias do conclave. Funcionários do Vaticano também terão acesso a eles. No entanto, não poderão falar nada do que se passa fora dos muros da Santa Sé ou ainda não podem jamais contar o que ouviram dos cardeais durante o período de trabalho, sob pena de excomunhão.
8 - A quantidade de votos recebida pelo Papa será divulgada ao público?
Não. Apenas o Papa eleito e os cardeais que estiverem na Capela Sistina ficarão sabendo. Será possível os cardeais tomarem conhecimento do "placar final" de cada rodada de votação, de acordo com o padre Denilson. Ele explica que a constituição do Vaticano permite aos cardeais a utilização de material para anotação dos votos, que serão lidos em voz alta, um a um, durante a contagem das cédulas. “Neste aspecto, não há nenhum tipo de segredo”, disse o sacerdote. No entanto, essas informações não podem ser divulgadas publicamente.
Segundo o padre Helmo Faccioli, os cardeais usam uma veste denominada “coral", composta de uma batina vermelha, uma sobrepeliz branca por cima, uma mozeta vermelha, além de uma cruz peitoral, solidéu vermelho e o barrete cardinalício (um chapéu que se coloca sobre o solidéu). A veste é usada em todas as sessões do conclave. É considerada solene, própria do oficio de cardeal, que a usa em reuniões oficiais.
10 - Os cardeais já começam o dia votando?
Não. Segundo padre Denilson, em todos os dias de conclave haverá a celebração de uma missa e a leitura da Liturgia das Horas – oração que consiste na recitação de três salmos, um cântico, além de uma leitura bíblica do Novo ou Antigo Testamentos.
11 - Se algum cardeal ficar doente e não conseguir ir à Capela Sistina, ele poderá votar?
Sim. Será função dos infirmarii (enfermeiro, em latim), cardeais que também são eleitores e são designados para recolher os votos de cardeais enfermos presentes na Casa Santa Marta que não conseguiram se deslocar para o núcleo do conclave.
12 - Quantas votações podem acontecer?
Podem ocorrer até 34 votações durante o conclave, o máximo permitido pela Constituição da Igreja. Há um cronograma que prevê pausas entre as rodadas, caso não nenhum cardeal receba os 2/3 de votos previstos. De acordo com o padre Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, não é obrigatório haver votação na primeira tarde de conclave, já que estão previstas as orações e os juramentos dos cardeais.
Dia |
Manhã |
Tarde |
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1 |
Missa de abertura do Conclave |
1ª votação* |
2 |
2ª e 3ª votações |
4ª e 5ª votações |
3 |
6ª e 7ª votações |
8ª e 9ª votações |
4 |
10ª e 11ª votações |
12ª e 13ª votações |
5 |
1 ª Pausa para a oração e o livre diálogo entre os eleitores |
|
6 |
14ª e 15ª votações |
16ª e 17ª votações |
7 |
18ª e 19ª votações |
20ª votação. Caso ainda não haja um papa, há uma pausa para reflexão até o dia seguinte |
8 |
21ª e 22ª votações |
23ª e 24ª votações |
9 |
25ª e 26ª votações |
27ª votação. Caso ainda não haja um papa, há uma pausa para reflexão até o dia seguinte |
10 |
28ª e 29ª votações |
30ª e 31ª votações |
11 |
32ª e 33ª votações |
34ª votação, com apenas dois candidatos e eleição do novo Papa |
* É possível que não ocorra votação no primeiro dia, de acordo com o Vaticano |
Não. De acordo com padre Denilson, caso a primeira votação da manhã ou da tarde não resulte na escolha de um novo Papa, a emissão da fumaça negra pela chaminé da capela Sistina, resultado da queima das cédulas, só ocorrerá após a segunda rodada de votos realizada no período da manhã ou da tarde. O sacerdote explica ainda que quando a fumaça branca for lançada, não será possível saber se foi após a primeira ou a segunda votação, seja ela da manhã ou da tarde.
14 - Assim que o Papa for escolhido, o que acontece com ele?
Segundo padre Denilson, quando um cardeal receber 2/3 dos votos, as portas da Capela Sistina serão abertas e entrarão o secretário do Colégio de Cardeais, o mestre de cerimônias litúrgicas, além de dois cerimoniários (normalmente são padres). Neste momento, o cardeal decano, que já estará no interior do recinto, perguntará, em voz alta, "aceitas a tua e eleição canônica para sumo-pontífice?". Caso a resposta seja sim, outra pergunta é feita pelo cardeal decano: "como queres ser chamado?".
Após o Papa eleito citar o nome que escolheu, o mestre de celebrações litúrgicas redigirá um documento com o nome do novo pontífice, que terá os dois cerimoniários como testemunhas. Em seguida, as cédulas utilizadas nesta votação serão queimadas, além de todos os papéis que os cardeais podem ter escrito (rascunhos) para que a fumaça branca seja liberada pela chaminé instalada na capela.
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