RIO - O governo do estado prepara uma grande ofensiva contra o tráfico na Vila Cruzeiro, na Penha, que estava programada para começar nesta quinta-feira. Principal reduto do tráfico no Rio, a Vila Cruzeiro, junto com o Complexo do Alemão, se transformou no maior bunker de traficantes cariocas, recebendo bandidos de comunidades ocupadas por Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). O governador Sérgio Cabral pediu apoio à Marinha do Brasil, que garantiu suporte logístico, como veículos blindados, armas, munição e óculos de visão noturna. Exército entrou em alerta máximo e reforçou a segurança de todas as suas unidades militares no Estado do Rio. Até agora, os militares não foram acionados para ajudar o estado no policiamento, como já foi feito em outros anos, mas apenas para dar apoio logístico, como fará a Marinha. Em entrevista quarta-feira ao "Jornal Nacional", da TV Globo, o governador afirmou que recebeu um fax do ministro da Defesa, Nelson Jobim, garantindo total apoio: - Acabamos de solicitar ao ministro Nelson Jobim e ao almirante Julio (Soares de Moura), comandante da Marinha, o apoio logístico, com transporte, viaturas e equipamentos importantíssimos para o combate a esses criminosos. O governador ressaltou que a Marinha não vai atuar diretamente no combate aos atentados no Rio. - Não é apoio de efetivo. A Marinha não vai se envolver. Vai ceder esses equipamentos para a operação da Polícia Militar. À noite, 12 coronéis percorreram ruas e vias expressas da cidade, para supervisionar o policiamento. Até o comandante-geral da corporação, Mário Sérgio Duarte, participou do patrulhamento. Eles fizeram seis percursos, incluindo a Lagoa e a Autoestrada Lagoa-Barra, perto da Rocinha. Na Zona Norte, percorreram a Rua Vinte e Quatro de Maio e a Avenida Dom Hélder Câmara, perto do Jacarezinho Durante o dia, as polícias Militar e Civil fizeram operações simultâneas em 29 favelas. Os alvos principais foram os responsáveis pelos ataques que estão apavorando a população. Só a PM fez incursões em 27 comunidades, resultando na morte de 18 pessoas. Quatro mortes ocorreram nos morros da Penha; oito nas favelas Guaxa e Jardim Floresta, em Belford Roxo; e três na Favela Faz Quem Quer, em Rocha Miranda. Foram detidas ainda 153 pessoas (21 ficaram presas após serem ouvidas).
PM apreende 1t de maconha na Penha A PM ensaiou uma investida nos morros da Chatuba e da Fé, no Complexo da Penha, ocupando seus principais acessos. As comunidades fazem parte de um conjunto de morros que forma os complexos da Penha e do Alemão, onde está a maior facção criminosa do Rio. Só nessa ação, quatro pessoas morreram e 25 pessoas foram detidas. Há ainda 14 feridos no Hospital Getúlio Vargas e dois policiais militares baleados de raspão. Entre os mortos, está uma menina de 14 anos, vítima de uma bala perdida na Favela do Grotão, na Penha. De acordo com o balanço da PM, foram apreendidas 29 pistolas e revólveres, dez fuzis, duas espingardas calibre 12, uma submetralhadora, cinco granadas e duas bombas artesanais nas operações de ontem. Na Chatuba, foi apreendida uma tonelada de maconha. Segundo o relações-públicas da PM, coronel Henrique Lima Castro, a corporação pôs 17.500 militares nas ruas e reforçou o policiamento nas UPPs, temendo que as unidades fossem alvos dos bandidos: " - Não começamos a guerra. Fomos provocados a entrar nela e vamos sair vitoriosos. Temos fôlego para isso. Ainda não usamos o pessoal que está de férias e o do interior. "A ação policial começou simultaneamente nas favelas por volta das 9h. Enquanto equipes da Polícia Civil entravam nas favelas de Manguinhos e Jacarezinho, PMs de diversos batalhões se reuniam no 41 BPM (Irajá) e, de lá, partiram para invadir as favelas do Complexo da Penha. O fato ocorreu logo depois de um câmera no helicóptero da TV Globo registrar cenas, no início da tarde, de homens fortemente armados e circulando em motos num acesso à Vila Cruzeiro. Foi na favela que, em junho de 2002, o jornalista da TV Globo Tim Lopes foi assassinado pelo tráfico. O Bope ficou nos acessos e não vai sair de lá, até a ocupação completa da favela hoje. Quando o Bope chegou, traficantes, por meio de radiotransmissores, alertavam para o posicionamento dos blindados da polícia. Comerciantes do Largo da Penha optaram por fechar as portas, temendo balas perdidas. A intensa troca de tiros deixou o local deserto. Até os camelôs recolheram as barracas. Traficantes armados de fuzil circulavam pelas escadarias da Igreja da Penha e atiravam em direção aos policiais. Um carro blindado do Bope foi atingido por duas bombas de fabricação artesanal e ficou com os dois pneus furados. PMs de vários batalhões entraram pelos dois acessos da Avenida Vicente de Carvalho e invadiram o Morro da Fé, vizinho à Vila Cruzeiro. A avenida, uma das mais movimentadas da região, foi fechada. Às 9h30m, começou um confronto. As rajadas de fuzil foram contínuas por pelo menos uma hora. Houve correria entre os moradores. Muitos não puderam subir. Uma casa de shows e um posto de gasolina serviram de abrigo para crianças que haviam saído da escola. As ações da polícia se estenderam pelos morros da Chatuba, do Sereno e da Caixa D'Água. Durante um dos confrontos, Álvaro Lopes, de 81 anos, foi baleado de raspão no braço, na porta de sua empresa, na Rua Cajá. - Eu estava na porta da empresa. Ouvi os tiros e senti uma queimação no braço. Moro aqui há 40 anos e já imaginava que essa guerra ia ser assim - disse ele, na saída do Hospital Getúlio Vargas. Um morador não identificado foi baleado de raspão. Por conta da troca de tiros nas favelas da região, a direção do Hospital Getúlio Vargas divulgou um alerta a todos os profissionais da emergência, para ficarem a postos para atender baleados. Por volta das 13h, cerca de 80 homens do Bope chegaram à Penha. Eles fecharam a Avenida Brás de Pina para que as equipes pudessem passar. O comboio foi aplaudido por motoristas, que, presos no engarrafamento, pediam a ação imediata da polícia na região. As equipes foram entrando aos poucos, nas favelas da Chatuba e Caixa D'Água, que fica atrás do Parque Ary Barroso, onde há uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Apesar do intenso tiroteio, durante o qual pacientes tiveram que se abaixar, o atendimento não foi interrompido. O motorista de uma cooperativa de táxi, Rafael Ramos, de 33 anos, disse que sua empresa, por precaução, não está atendendo mais chamados entre Vicente de Carvalho e Penha. Já o aposentado Valdemar da Rocha, de 75 anos, disse que já está acostumado aos confrontos na região, mas nunca viu um igual ao de ontem. - Moro aqui há 40 anos e é normal haver tiros na Penha. Sempre houve bandido. Mas tiroteio igual ao de hoje (ontem), com rajadas sem parar, eu nunca tinha visto - disse. Além de favelas na Penha, a PM esteve no Morro do Tuiuti, em São Cristóvão, no Morro da Cotia, no Grajaú, na Favela Faz Quem Quer, em Rocha Miranda, e na Vila Kennedy. Na Zona Sul, uma ação no Morro do Cerro-Corá assustou moradores do Cosme Velho. Houve um intenso tiroteio. A PM também esteve no Morro do Santo Amaro, no Catete. Na Baixada, ocorreram incursões em cinco comunidades. A Polícia Civil esteve em Manguinhos e no Jacarezinho.
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