São Paulo está fora da corrida pela instalação de novas centrais nucleares no País. Estudos da estatal Eletronuclear sobre a localização das próximas quatro usinas, programadas para entrar em funcionamento até 2030, levantaram obstáculos técnicos à construção de instalação nuclear no Estado.
Grandes concentrações populacionais, pouca disponibilidade de água e, paradoxalmente, a presença de grande reservatório subterrâneo, o aquífero Guarani, são quesitos que desaconselham o funcionamento de uma central nuclear em São Paulo, de acordo com avaliação realizada pela estatal, a que o Estado teve acesso.
As duas próximas usinas nucleares brasileiras serão construídas no Nordeste, às margens do rio São Francisco. A localização exata depende de uma decisão política do futuro governo Dilma Rousseff. Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe disputam a central.
Com a saída de São Paulo do páreo, a Eletronuclear detalha estudos de outras localidades no Sudeste e não está descartada a ampliação das instalações de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, cidade que já abriga as duas primeiras usinas brasileiras.
Angra 3 teve as obras retomadas recentemente, depois de mais de 20 anos de paralisação. Minas Gerais e Espírito Santo também têm áreas que são avaliadas pela empresa.
A localização das próximas usinas brasileiras é uma das indefinições do Programa Nuclear Brasileiro e será assunto no primeiro "encontro de negócios" da área, na próxima terça-feira, em São Paulo.
Na ocasião, além da maior participação da indústria brasileira no fornecimento de materiais e peças para o setor, será debatida a possibilidade de a iniciativa privada construir e operar essas novas instalações, por meio de concessões, como já acontece com usinas hidrelétricas, por exemplo.
Mudanças no marco regulatório são defendidas com ênfase pelas grandes empreiteiras brasileiras e empresas multinacionais que atuam na área de energia. Também contam com o apoio de empresas internacionais fornecedoras de equipamentos e operadoras de instalações nucleares, como a Areva e a Westinghouse
Atualmente, a área nuclear é monopólio estatal. Parcerias privadas só começaram a ser admitidas recentemente, na exploração da mina de urânio de Santa Quitéria, no Ceará, que ainda não começou a operar.
Debate. A quebra do monopólio é um assunto polêmico no governo e não avançou durante a administração de Luiz Inácio Lula da Silva. Mas volta com força no momento de formação do novo governo de Dilma Rousseff.
O encontro de negócios de energia nuclear, patrocinado pela Fiesp, pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e pelo Ministério de Ciência e Tecnologia, contará com os principais atores do setor.
Não se cogita quebrar o monopólio estatal no ciclo do combustível nuclear. A tecnologia brasileira é segredo militar, sob o controle da Marinha.
O Brasil detém uma das maiores reservas mundiais de urânio e planeja o domínio no ciclo de enriquecimento, para a produção de combustível nuclear, em escala industrial até 2014.
Durante o encontro em São Paulo, o estudo preparado pelo coordenador de planejamento e avaliação da CNEN, Francisco Rondinelli, que será apresentado, vai reiterar a possibilidade de o País exportar urânio enriquecido no máximo a partir da próxima década.
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