BRASÍLIA - Pressionada pelos partidos da base, a presidente Dilma Rousseff mandou abrir o cofre na tentativa de pacificar os aliados insatisfeitos com o controle sobre os gastos dos ministérios e com o arrocho imposto à liberação das emendas dos parlamentares em ano eleitoral. O movimento veio tarde e não foi capaz de abafar a rebelião da base, sobretudo do PMDB. O maior sinal do forte desgaste na relação com o Planalto foi a rejeição na quarta-feira, 7, da recondução de Bernardo Figueiredo para a presidência da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
O nome de Figueiredo era avalizado pela presidente por ser um petista que coordena o projeto do trem-bala, uma prioridade do Planalto.
“Foi um posicionamento político de pessoas que estão insatisfeitas. O governo vai avaliar o que fazer. Existem insatisfações em vários partidos manifestadas no voto secreto. A gente tem que entender o recado, aprofundar as relações políticas e acabar com as defecções”, disse o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), a respeito da rejeição ao indicado da presidente da República. “Foram vários recados, do PMDB principalmente”, completou o senador Lindbergh Farias (PT-RJ).
O primeiro gesto de pacificação da base dado pela presidente Dilma foi determinar à ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, que se reunisse na tarde de quarta-feira com a colega do Planejamento, Miriam Belchior, para tratar da liberação de recursos para emendas orçamentárias de parlamentares que têm pressa de atender as bases eleitorais.
Mas a presidente também pretende entrar pessoalmente em ação, para se reafirmar como interlocutora da base - papel que até então evitava assumir -, e não apenas do PT. Dilma pretende participar mais regularmente de reuniões com parlamentares.
Em campo. A decisão de entrar em campo e abrir negociação para pacificar os partidos rebelados veio no embalo do manifesto do PMDB contra o tratamento “privilegiado” do conjunto do governo ao PT, o que, para peemedebistas, põe em risco a eleição de prefeitos da sigla.
Na véspera, em reunião com o vice-presidente da República, Michel Temer, descontentes do PMDB das cinco regiões do País queixaram-se da “falta de instrumentos e autonomia” dos ministérios para atender as bases.
“O pagamento das emendas não é favor: é direito nosso e está na lei orçamentária”, protestou o líder peemedebista na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). “O que o partido vai dizer na sua base? Em outubro houve um acordo com o governo para a liberação das emendas. Mas nada disso aconteceu. Pelo contrário, contingenciaram tudo.”
Segundo Henrique Alves, os ministérios não cumpriram de 30% a 40% dos empenhos autorizados pela própria presidente. Agora, Dilma determinou que sejam refeitos os cálculos para que as emendas sejam liberadas.
Coube ao PMDB aparecer como o pai da rebelião. Mas há insatisfação em todos os partidos da base, até mesmo do PT. Prova disso é que na reunião de líderes governistas, nesta quarta-feira, o apoio ao manifesto do PMDB foi geral. “Todos os líderes da base disseram que queriam assinar o documento”, assegurou Alves.
É diante deste cenário que Temer e os líderes peemedebistas deverão participar de uma reunião, ainda na quinta-feira, 8, com as ministras Gleisi e Ideli Salvatti (Relações Institucionais).
Henrique Alves admite que a queixa geral na bancada é de que ministros do PMDB não têm autonomia para liberar um centavo. “Estamos discutindo a relação com o governo e queremos tratamento equânime: o que derem ao PT, tem que ser dado ao PMDB”, protesta o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
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