Escritor teve falência múltipla de órgãos
O corpo do escritor Millôr Fernandes será velado nesta quinta-feira (29), a partir das 10h, no Cemitério Memorial do Carmo, no Caju, zona portuária, do Rio. Em seguida, será cremado, como ele havia recomendado à família e a amigos. Millôr morreu aos 87 anos de falência múltipla dos órgãos na noite da terça-feira (27), segundo informou o Cemitério Memorial do Carmo, no bairro do Caju, Rio de Janeiro. Millôr Fernandes nasceu no Rio de Janeiro, no dia 16 de agosto de 1923, contudo foi registrado em 27 de maio de 1924. Por isso, em diversos lugares, o ano de nascimento aparece como 1924.
A Capela 2 do cemitério estará disponível para o velório do escritor a partir das 18h desta quarta-feira (28) e ficará reservada até as 15h da quinta-feira, quando a cerimônia deve ser encerrada.
Ainda não há informações sobre o horário em que a família de Millôr vai levar o corpo para ser velado e nem se após as homenagens ele será sepultado ou cremado.
No perfil oficial do escritor no Twitter, uma mensagem postada nesta quarta diz: "o mestre foi... Nosso eterno carinho". Já em outro perfil, a ex-editora do escritor, a L&PM, lamentou o fato: "que dia triste! O grande Millôr Fernandes morreu esta manhã, aos 87 anos".
Repercussão
O jornalista e escritor Zuenir Ventura falou sobre sua convivência com o cartunista e escritor. Ele afirmou que o amigo era muito engraçado até no dia a dia e que suas conversas eram muito eruditas. "Ele te fazia pensar. Você saía dos papos de botequim exausto. Mas ele não fazia você se sentir burro", contou em entrevista a Globo News.
Ventura ainda falou sobre o talento de Millôr. "O Millôr conseguia misturar o traço com a palavra. Ele não só fazia rir, fazia também pensar. Perdemos outro dia o Chico Anysio, agora o Millôr, o Brasil perdeu a graça", disse.
O escritor Sérgio Sant'Anna lamentou a morte do cartunista. Ele afirmou que, em seu trabalho, Millôr nunca esteve com o poder e sempre foi um crítico. "Acho que o Millôr nunca esteve com o poder. Ele foi critico com todo mundo", disse sobre seu trabalho. "Todo mundo tem que morrer um dia, mas esperávamos que o Millôr durasse, pelo menos, uns 200 anos", completou.
O escritor Arnaldo Jabor também lamentou a perda, em entrevista aGlobo News, e salientou que, com a recente partida de Chico Anysio, o humor brasileiro sofreu um baque. "Fico espantado que, em poucos dias, morreram os dois maiores humorista do Brasil. Um ao vivo e em cores, com sua galeria de milhares de títulos, e o Millôr, que agora nos deixa", disse.
Jabor confessou não ter tido contato pessoal com ambos, mas afirmou que era conhecedor das obras. "Eu nunca tive contatos com os dois, apenas como leitor, telespectador. Mas acho que o humorismo não está com o mesmo vigor", afirmou.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, divulgou nesta quarta, por meio da sua assessoria de imprensa, nota sobre a morte do escritor Millôr Fernandes: "O Brasil perde o homem das fábulas e dos contos fabulosos. Millôr Fernandes era um mestre das palavras e das artes em todas as atividades que exercia, com humor cortante e crítica inteligente: jornalista, desenhista, tradutor, roteirista de cinema e dramaturgo. É com grande pesar que transmito meus sentimentos e orações a todos os seus fãs, amigos e familiares", continua o texto.
O Prefeito da cidade de São Paulo, Gilberto Kassab, também divulgou em nota seus sentimentos pela morte do escritor e jornalista, que aconteceu na noite de terça-feira, 26, em Ipanema, zona sul do Rio. "Com a morte de Millôr Fernandes, o Brasil perde uma referência de humor refinado, criatividade e bagagem cultural. Sua vida foi um exemplo de retidão e princípios que ajudou muito na formação do pensamento democrático brasileiro".
Millôr Fernandes nasceu no Rio de Janeiro, no dia 16 de agosto de 1923, contudo foi registrado em 27 de maio de 1924. Por isso, em diversos lugares, o ano de nascimento aparece como 1924. Perdeu o pai dois anos após seu nascimento e a mãe cerca de seis anos depois. "Tive a sensação da injustiça da vida e concluí que Deus em absoluto não existia", escreveu sobre a infância na capital carioca.
Em 1938, deu início a sua carreira de jornalista, como repaginador da revista O Cruzeiro. No mesmo ano, escreveu o conto A Cigarra, ganhou um concurso da revista e foi promovido para o arquivo. Mais tarde, assinava a coluna Poste Escrito, sob o pseudônimo de Vão Gogo. Dirigiu também a revista em quadrinhos O Guri e Detetive, de contos policiais.
Em 1940, começou a colaborar com com seção As garotas do Alceu, como colorista. Em 1942, fez sua primeira tradução literária, do romance A estirpe do dragão, da americana Pearl S.Buck. Em 1946, lançou Eva sem costela - Um livro em defesa do homem, sob o pseudônimo de Adão Júnior. No nao seguinte, sua participação na revista O Cruzeiro já atingia a marca de dez seções por semana. Em alta, encontrou-se com Walt Disney, Vinicius de Moraes, César Lates e Carmen Miranda nos Estados Unidos, em 1948.
No ano seguinte, assinou seu primeiro roteiro para o cinema, com Modelo 19, filme que ganhou cinco prêmios Governador do Estado de São Paulo, entre eles Melhores diálogos para Millôr. Em 1951, lançou a revista Voga, que não fez sucesso. Em 1955, dividiu com o desenhista americano Saul Steinberg o primeiro lugar da Exposição Internacional do Museu da Caricatura de Buenos Aires, na Argentina. Nesse ano escreveu as peças Bonito como um Deus, Um elefante no caos, que lhe rendeu um prêmio de Melhor Autor pela Comissão Municipal de Teatro, e Pigmaleoa.
Em 1962, na edição de 10 de março de O Cruzeiro, passou a assinar como Millôr. Um ano depois, deixa a revista e começa a trabalhar no jornal Correio da Manhã. Em 1974, lançou a revista Pif-Paf, que fechou em seu oitavo número, por problemas financeiros. No ano seguinte, escreveu para Fernanda Montenegro a peça É..., que se tornou o seu grande sucesso teatral.
Em 1996, passou a colaborar com os jornais O Dia, O Estado de São Paulo e Correio Braziliense. Ao longo se sua carreira, escreveu mais de 30 livros em prosa, três de poesia, além de mais de quinze peças para teatro.
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