Documentos obtidos por ISTOÉ revelam preferência da Aeronáutica pelo caça americano F-18. A tendência
é de que Dilma Rousseff atenda aos anseios dos militares
Claudio Dantas Sequeira
CÉU DE BRIGADEIRO
O caça F-18 Super Hornet, além de ter um desempenho melhor, segundo
a FAB, custa quase a metade do valor orçado pela Dassault
Um relatório de análise da Comissão Coordenadora do Programa Aeronave
de Combate (Copac) da Força Aérea Brasileira (FAB), obtido com
exclusividade por ISTOÉ, deve provocar uma reviravolta na concorrência
para a compra dos caças, que se arrasta desde o governo FHC. O documento
mostra que, contrariando as especulações em torno do programa F-X2, a
FAB optou pelo caça americano F-18 Super Hornet, produzido pela Boeing.
Entre os concorrentes estão o modelo francês Rafale e o sueco Gripen NG.
O relatório estava pronto havia dois anos, mas tinha sido engavetado
pelo então ministro da Defesa, Nelson Jobim. Na ocasião, o ministro
levou ao Palácio do Planalto a preferência pelo Rafale, uma opção
política que não considerou as análises técnicas contidas no documento
produzido pela Aeronáutica. O ex-presidente Lula chegou a tornar
pública uma preferência pelos franceses e com frequência emitia sinais
de exagerada proximidade com o ex-presidente da França Nicolas Sarkozy.
Diante da predileção da FAB pelo avião americano, resta saber agora
qual será a decisão final da presidenta Dilma Rousseff. A tendência é
acompanhar o relatório técnico. Dilma revelou a assessores que está
disposta a bater o martelo sobre os caças antes do vencimento das
propostas comerciais no próximo dia 31. O que lhe interessa, tem dito a
presidenta, é saber qual negócio oferecerá mais vantagens ao
desenvolvimento do País. E a FAB garante que a compra do modelo
americano é a mais vantajosa.
PRÓ-RAFALE
O ex-ministro da Defesa Nelson Jobim havia engavetado o relatório da FAB
Questões como preço, custo de manutenção, prazo de entrega e
desempenho operacional são exploradas a fundo pelo relatório. O
documento da FAB mostra, por exemplo, que o F-18 tem um custo de US$ 5,4
bilhões para o pacote de 36 aeronaves. É quase a metade dos US$ 8,2
bilhões orçados no Rafale. O Gripen NG, oferecido a US$ 4,3 bilhões, é o
mais barato dos três, mas trata-se de um avião em desenvolvimento nunca
testado em combate na versão oferecida, pondera a FAB. O caça francês,
além de mais caro que os demais, possui valor de hora-voo de US$ 20 mil.
O dobro do jato americano (US$ 10 mil) e três vezes o do sueco (US$ 7
mil). Para justificar a preferência pelos caças americanos, o relatório
traz outro dado nunca mencionado nas discussões anteriores sobre o FX-2:
o armamento empregado no Super Hornet é mais econômico e possui maior
diversidade que o de seus concorrentes. No documento, a FAB alerta
também para a necessidade de uma solução imediata sobre o programa de
caças, em razão do risco de vulnerabilidade a que o Brasil estará
exposto em breve. “A importância estratégica do F-X2 torna-se evidente
diante de um quadro de obsolescência”, alerta a FAB.
Outro documento também obtido pela reportagem da ISTOÉ poderá pesar
na decisão da presidenta. Trata-se de uma minuta de cooperação
estratégica firmada em sigilo entre a Embraer e a Boeing, pela qual a
companhia americana – maior fabricante mundial de aeronaves – se
compromete a entregar o maior programa de off-set (contrapartida) já
oferecido pelos EUA a qualquer país fora da Otan. O acordo estabelece,
por exemplo, apoio à comercialização dos Super Tucanos A-29 e do avião
de transporte KC-390 em mercados inacessíveis ao Brasil. Também está
prevista a construção conjunta de um avião de treinamento para pilotos,
que poderá ser vendido a países da América Latina, a integração de
armamentos nos Super Tucanos e o desenvolvimento de um jato multiemprego
de quinta geração para ser comercializado em nível mundial. Num gesto
inédito, a Boeing se compromete ainda a abrir um centro tecnológico no
Brasil. Oficialmente, a Embraer diz desconhecer o documento, mas
garante que está capacitada para trabalhar em parceria com quaisquer dos
fornecedores. Num encontro recente com o comandante da FAB, Juniti
Saito, a presidenta Dilma foi enfática. “Precisamos ajudar a Embraer”,
disse. Não ficou claro se ela já havia decidido pelo F-18, mas
assessores garantem que a análise técnica nunca pesou tanto.
Fotos: MC3 Jason Johnston; MARCOS DE PAULA/AE
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