Aliado à ocupação desordenada do homem, o fator climático agravou a destruição nas praias
Fortaleza.
A cada ano, a costa cearense perde até sete metros da faixa litorânea,
resultado do avanço do mar. Em 2012, o agravante foi a seca, que
comprometeu ainda mais as faixas de praias já com histórico de
degradação do meio ambiente como consequência da erosão.
A
explicação decorre pelo fato do ambiente ter sofrido com o período da
seca. Quando não chove, os ventos são mais fortes e. Há uma maior
geração de ondas altas e transporte de areia na faixa litorânea. Essa
areia não é reposta, uma vez que não é mais levada pelos rios, agora
secos ou com baixo volume de água. Isto provoca erosão tanto no sertão
como nas praias. A água também passa a ficar mais parada nas barragens,
impedindo assim o tráfego dos sedimentos.
O diretor do Instituto
de Ciências do Mar (Labomar), mantido pela Universidade Federal do Ceará
(UFC), Luis Parente Maia, diz que a seca agravou o quadro de erosão na
área marinha, que já vem se ressentindo de outros fatores impactantes,
quer naturais ou pela ação do homem.
Por isso, não é de hoje se
verificar pousadas, restaurantes, barracas destruídas pela força das
águas, como acontece desde o Icapuí, no extremo do Litoral Leste
cearense, até Camocim, no lado Oeste. Em Icapuí e Acaraú, onde há uma
feição de planície praiana, o avanço é facilitado pela geografia.
Já
em localidades como Lagoinha, Icaraí e Caponga, há a constatação dos
especialistas de que os danos não teriam sido tão graves, caso não
houvesse a interferência humana de forma tão irracional.
Parente
observa que a ideia no passado de "se ter uma casa de praia", acabou
virando, literalmente, ter uma casa na beira do mar, o que levou à
ocupação desordenada e com danos para a linha costeira. Ele chama a
atenção ainda que isto é uma situação mais grave do que o avanço do mar
por causas naturais. Neste caso, a maré se projeta para o continente,
mas depois, com o tempo, recua.
"Ao longo dos anos, o processo
erosivo foi se intensificando nas praias localizadas a noroeste da
desembocadura do Rio Ceará, Região Metropolitana de Fortaleza, onde
podemos destacar as praias de Iparana, Pacheco, Pecém e Taíba. Caucaia
apresenta um quadro de erosão costeira clássico", observa. O quadro da
erosão, e por extensão do processo destrutivo de edificações ao longo da
orla, vem sendo combatido com medidas pontuais, destacando-se o
quebra-mar de pedra, que objetiva atenuar a força das ondas.
Esse
recurso foi implantado em Fortaleza desde a construção do Porto do
Mucuripe e já foi aderido por municípios da Região Metropolitana, como
Caucaia e Cascavel. Contudo, as medidas ainda estão longe de afastar o
problema que envolve as praias da Região Metropolitana e que replica em
todo o Estado. Este ano, houve destruição de casas, barracas e
restaurantes, em Iguape. O "bag wall", construído em Caucaia, sofreu
sérios danos e agora as barracas de praia construídas no entorno do
paredão não podem ser instaladas. Nesta edição, este quadro foi
verificado pela reportagem nas áreas mais críticas dos litorais Leste e
Oeste.
FIQUE POR DENTRO
Erosão atinge 70% das praias do mundo
O
problema da degradação da faixa de praia também vem sendo experimentado
em todo o mundo. Segundo estudos do professor Luis parente, o fenômeno
de erosão torna-se um problema para o homem (risco natural) quando este
constrói algum tipo de referencial fixo (estrada, prédio ou outro tipo
de construção permanente) que se interpõe na trajetória de recuo da
linha de costa.
Deste modo, o problema de erosão é de certa
maneira provocado pelo homem, pois se ninguém morasse próximo à linha de
costa este problema não existiria. Em escala mundial, alguns autores
estimam que cerca de 70% das linhas de costa do mundo estejam
experimentando erosão. Isto tem despertado a atenção de cientistas e
planejadores em todo o mundo para este fenômeno, a compreensão de suas
causas e o que fazer para minimizar os prejuízos materiais decorrentes
do fenômeno.
MARCUS PEIXOTOREPÓRTER
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