Por Daniel Rittner | De Brasília
Apesar
do atraso acumulado de pelo menos quatro anos em relação ao cronograma
original, o projeto de transposição do rio São Francisco "só perde para
os chineses", em termos de rapidez das obras. A avaliação é do ministro
da Integração Nacional, Fernando Bezerra, que se prepara para lançar
mais três editais de licitação de obras do projeto. Os editais começam a
sair nesta semana e vão usar o regime diferenciado de contratações
públicas (RDC), uma alternativa mais rápida do que a tradicional Lei de
Licitações, a fim de dar um novo impulso ao empreendimento.
"Quando
chegarmos a 2014, não restará nenhuma dúvida ou questionamento de que
estaremos perto da conclusão do projeto", disse Bezerra. O orçamento da
transposição, estimado em R$ 8,2 bilhões atualmente, passará por uma
revisão em março. Tudo depende do resultado das novas concorrências, mas
o ministro tem esperanças - por uma análise ainda preliminar - de que o
impacto pode ser de não mais do que R$ 200 milhões ou R$ 250 milhões,
pois outros contratos foram rescindidos e precisarão ser deduzidos da
contabilidade.
Os
14 lotes originais de obras da transposição, além de dois canais de
aproximação do rio, foram reagrupados em três "metas" - conjuntos de
intervenções - nos eixos Norte e Leste. O primeiro edital a sair, até o
fim desta semana, contratará obras complementares na Meta 2-Leste, um
trecho com início no reservatório de Areias e término no reservatório de
Barro Branco, ambos em Pernambuco. Por usar o RDC, o preço de
referência não é divulgado.
Depois,
até 28 de fevereiro, sai o edital da Meta 3-Leste, que engloba um lote
cujos serviços foram paralisados recentemente pelo consórcio de
empreiteiras responsáveis. Ele abrange canais e túneis, entre os
reservatórios de Barro Branco e de Poções, entre Pernambuco e Paraíba. A
intenção de Bezerra é retomar plenamente os trabalhos, com novos
contratos, entre maio e junho.
Essas
duas metas tiveram canteiros abandonados, há dois meses, pelos
consórcios de empreiteiras responsáveis pelos serviços. Um dos
consórcios, formado pela Emsa e pela Mendes Jr., trabalhava em 39
quilômetros de canais, aquedutos, pontes e reservatórios. Em outro
trecho, de 28 quilômetros, um grupo de empreiteiras - OAS, Galvão,
Barbosa Mello e Coesa - também interrompeu as obras que tocava.
Bezerra
afirma ter dado um ultimato às empresas para a retomada dos trabalhos e
cobra uma resposta definitiva para saber se inclui acréscimos nos
editais que estão sendo liberados. Para ele, o problema da transposição
foi ter licitado as obras em fatias, atendendo as recomendações feitas à
época pelos órgãos de controle e fiscalização - que estavam preocupados
em aumentar a concorrência entre as construtoras. Isso fez com que o
projeto tivesse 59 contratos e 90 empresas envolvidas, dificultando sua
gestão e exigindo um rearranjo. "O curioso é que, hoje, os relatórios do
Tribunal de Contas da União pedem a contratação mais integrada
possível", diz o ministro.
Também
até o fim de fevereiro, mas com a possibilidade de antecipação para
janeiro, será publicado o edital da Meta 3-Norte. Será mais uma
contratação pelo RDC, para obras entre reservatórios nos municípios de
Brejo Santo (CE) e Cajazeiras (PB), cuja promessa de entrega agora é em
dezembro de 2015. Além disso, a concorrência para a Meta 1-Norte,
estimada em R$ 777 milhões e que seguiu a Lei de Licitações (8.666/93),
tem a abertura de propostas marcada para amanhã.
Munido
de uma relação de projetos similares, em mais de dez países, Bezerra
garante que a transposição do rio São Francisco não tem demorado mais do
que a média mundial para esse tipo de empreendimento. Ela usa, como
comparação, projetos como o das Montanhas Snowy, na Austrália, que
começou em 1949 e só foi concluído em 1974, e a transposição do
Tejo-Segura, na Espanha, que durou quatro décadas inteiras, entre 1933 e
1973. Apenas o projeto de transferência de água de Wanjiazhai, na
China, foi executada em até dez anos - de 2001 a 2011 -, na lista do
ministro.
"Existem
oito obras no mundo comparáveis à transposição do rio São Francisco.
Elas levam, em média, de 20 a 25 anos. Além de complexidades de
engenharia, são polêmicas e têm estimativas de custos são frequentemente
revisadas para cima", diz Bezerra, tirando suas conclusões. "O projeto
básico do São Francisco começou a ser feito entre 2000 e 2001. A
licitação foi realizada em 2007 e tudo vai ficar pronto entre 2014 e
2015. São 14 a 15 anos de trabalhos. Estamos no prazo médio. Só perdemos
dos chineses." Satisfeito
com a execução orçamentária de sua pasta, Bezerra promete um "ano gordo
de investimentos" no Ministério da Integração Nacional, em 2013. Na
semana passada, rompeu o patamar de R$ 3 bilhões em valores pagos desde
janeiro, deixando para trás a marca de R$ 2,817 bilhões atingida em
2011. Para o ano que vem, segundo ele, a meta é ultrapassar R$ 5 bilhões
em pagamentos. E chama atenção para o fato de que, a cada real gasto na
transposição do rio São Francisco, outros dois são investidos nas
demais obras de infraestrutura hídrica do ministério, como o Canal do
Sertão, em Alagoas, a Adutora do Algodão, na Bahia, e o Cinturão das
Águas, no Ceará.
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