JOÃO VALADARES KARLA CORREIA PAULO DE TARSO LYRA
Em
meio ao esforço em criar um cordão de isolamento em torno da ex-chefe
de gabinete do escritório da Presidência em São Paulo, Rosemary Noronha,
o Palácio do Planalto escalou o ministro da Secretaria-Geral da
Presidência, Gilberto Carvalho, para minimizar os reflexos da Operação
Porto Seguro no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ministro veio
a público negar que as revelações trazidas pela operação da Polícia
Federal representam qualquer incômodo para o ex-presidente. "Não tem
nenhuma complicação para o ex-presidente Lula", afirmou Gilberto
Carvalho ontem, antes de uma reunião no Ministério da Previdência
Social.
Na
tarde de ontem também, pela primeira vez, o Instituto Lula
pronunciou-se oficialmente desde que o escândalo envolvendo a ex-chefe
de gabinete da presidência estourou, após surgirem na imprensa, pelo
segundo dia consecutivo, mensagens de Rose afirmando que levaria os
pedidos de indicação ao "PR" — presidente, segundo a Polícia Federal. De
acordo com o Instituto, é função do gabinete da presidência em São
Paulo receber todas as demandas e encaminhá-las ao presidente.
Novos
diálogos captados com autorização judicial mostram que Rosemary tinha
uma desenvoltura bem maior do que a apontada até o momento no inquérito.
Reportagem veiculada pelo Jornal Nacional de ontem traz Rose brigando
com os irmãos Paulo e Rubens Vieira — dois indiciados pela PF —,
incomodada pelas pressões em troca das nomeações. "Eu não sou boba, eu
não nasci ontem." Em outro trecho, ela reclama com seus companheiros de
quadrilha que tinham pressa nas mudanças no Banco do Brasil. Ela afirma
que é preciso esperar que os novos diretores "sentem na cadeira".
Trechos
do relatório da Polícia Federal mostram que o Planalto teve
conhecimento da operação com antecedência. Segundo informações obtidas
pelo Correio, a juíza federal Adriana Freisleben de Zanetti determinou
que a Polícia Federal informasse ao Gabinete de Segurança Institucional
(GSI) que a ex-chefe do escritório da Presidência da República em São
Paulo Rosemary Nóvoa de Noronha seria alvo da operação Porto Seguro. A
Justiça ordenou que o comunicado fosse emitido na quarta-feira da semana
passada, dois dias antes do início da operação comandada pela PF.
Rosemary foi indiciada por corrupção ativa e lavagem de dinheiro.
Questionado
pelo Correio, o GSI confirmou oficialmente que recebeu o alerta sobre a
operação e deixou claro que a presidente da República Dilma Rousseff
foi comunicada . "O Gabinete de Segurança Institucional da Presidência
da República informa que foi avisado sobre a Operação Porto Seguro e que
tomou as medidas cabíveis decorrentes afetas a sua competência legal",
diz a nota oficial.
Juristas
ouvidos pela reportagem foram unânimes em afirmar que o procedimento é
correto em razão de o alvo trabalhar numa área bastante sensível. Um
procurador da República afirmou que, se a Presidência da República não
fosse informada, havia um grande risco institucional. Os agentes da PF
realizaram busca e apreensão no escritório da Presidência da República e
no apartamento onde Rosemary mora, em São Paulo.
Proximidade
As
mensagens colecionadas durante a operação dão indicações que Rosemary
usava do relacionamento próximo que tinha com o presidente para
influenciar em nomeações no alto escalão do governo federal, e que Lula
foi consultado sobre a nomeação de envolvidos no esquema da venda de
pareceres técnicos forjados. Em outra mensagem, de abril de 2009, ela se
compromete com Paulo a agendar uma reunião com "JD". De acordo com a
Polícia Federal e com o Ministério Público Federal, JD seria o
ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, de quem Rosemary foi secretária.
A
crise gerada pela operação da PF começa a turvar a relação entre o PT e
a presidente Dilma Rousseff. Parte da legenda reclama que, ao promover
as amplas exonerações e enviar ministros para o Congresso para explicar
os desdobramentos do escândalo, Dilma minimizou as consequências do caso
em relação ao ex-presidente.
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