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quinta-feira, 17 de março de 2011

Operação em usina de Fukushima fere 19 e expõe 20 à radiação

Ao menos 19 trabalhadores ficaram feridos e outros 20 foram expostos à radiação durante as operações para reativar o complexo nuclear de Fukushima, em meio aos esforços das autoridades japonesas para impedir um desastre nuclear, informou a agência de notícias Xinhua nesta quinta-feira.

Outros dois funcionários estariam desaparecidos. No sábado (12), mais três casos de pessoas expostas à radioatividade haviam sido registrados, de acordo com a agência japonesa Kyodo.

A companhia Tepco (Tokyo Electric Power Co.), que administra o complexo, alertou a agência de segurança nuclear do Japão que o nível da radiação no reator 1 de Fukushima excedeu o limite legal. A radiação no local seria de 882 microsievert (msv) por hora, acima do nível máximo permitido, de 500 microsievert (msv) por hora. A agência também informou que o reator 3 da usina (ao todo, são seis) perdeu totalmente a capacidade de resfriamento.

A Tepco tenta restabelecer a corrente de energia elétrica da central nuclear, o que permitiria ativar as bombas para resfriar os reatores e encher as piscinas onde fica mergulhado o material radioativo. Os sistemas de resfriamento falharam na sexta-feira.

Para tentar conter um desastre nuclear, helicópteros do Exército japonês lançaram jatos d'água sobre o Fukushima, principalmente sobre o número 3.

As piscinas têm menos água uma vez que a temperatura começou a subir. Ao invés de registrar cerca de 30ºC de costume, o tanque atingiu os 80ºC. O risco, com a evaporação e as piscinas vazias, é de que as varetas com material nuclear, ainda um pouco isoladas do exterior pelo líquido, deixem de estar submersas. Se mais água de resfriamento não for colocada rapidamente (ou a temperatura baixar), as barras de combustíveis vão se desgastar e emitir dejetos muito radioativos diretamente na atmosfera.

De acordo com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), a temperatura nas piscinas de resíduos nucleares dos reatores 4, 5 e 6 é muito superior ao permitido, chegando a triplicar sobre o recomendado.

A preocupação maior com o reator 3 se deve ao fato de ele ser o único da usina que usa plutônio como combustível. Segundo pesquisas do governo norte-americano, o plutônio é muito tóxico para os seres humanos, e uma vez absorvido na corrente sanguínea, pode permanecer por anos na medula óssea ou no fígado e até mesmo causar câncer.

Além dos helicópteros, com a ajuda de bombeiros e policiais, funcionários da Tepco pretendiam alcançar a piscina com a ajuda de um caminhão-tanque equipado com um canhão d'água. Segundo a televisão pública NHK, isto não foi possível justamente devido ao nível elevado de radiação.

PREOCUPAÇÃO DOS EUA

O chefe da Comissão Reguladora Nuclear americana (NRC), Gregory Jaczko, disse nesta quarta-feira que a piscina de armazenamento de combustível usado no reator de Fukushima não tem mais água, o que gera níveis de radiação "extremamente altos".

"Nós acreditamos que a região do reator possua altos níveis de radiação", disse ele. "Será muito difícil que trabalhadores de emergência consigam chegar até o local. As doses [de radiação] às quais eles podem ser expostos seriam potencialmente letais em um período curto de tempo", acrescentou. No entanto, Jaczko ressaltou que a NRC tem "acesso limitado" ao que está acontecendo no Japão, e se recusou a especular mais sobre o assunto.

Um dirigente do Instituto francês de Radioproteção e Segurança Nuclear (IRSN), Thierry Charles, afirmou por sua vez que após dois incêndios no prédio que comporta o reator, a piscina ficou "quase ao ar livre" e uma grande radiação escapa do local.

No entanto, a agência de segurança nuclear do Japão e a Tepco rejeitaram as afirmações de Jaczko. De acordo com o porta-voz do complexo das usinas Hajime Motojuku, as condições são "estáveis".

RISCO DE APAGÃO

Para piorar a crise, o governo japonês alertou sobre o risco de um possível grande blecaute nesta quinta-feira na região de Tóquio em decorrência dos problemas de provisão elétrica. Por isso, foi pedido que as operadoras de trem da área suspendam o serviço na parte da tarde e que as empresas reduzam o consumo, segundo o ministro da Indústria japonês, Banri Kaieda, citado pela agência local Kyodo.

A situação se complicou ainda mais com o aumento do consumo de eletricidade devido à forte queda das temperaturas desde a noite de ontem, o que gerou o temor de que a demanda de energia supere a oferta.

Nesta quinta-feira, a quatro dias do início da primavera, prevê-se que a temperatura em Tóquio fique próxima a 0ºC à noite, como já ocorreu ontem.

O panorama fez com que duas operadoras de eletricidade japonesas passassem a fazer cortes no abastecimento, com duração entre três e seis horas, em parte do território, além de pedir que os japoneses reduzam o consumo, embora prejudique este esforço.

Há quatro dias, cortes de luz estão ocorrendo na região de Kanto, na qual se encontra Tóquio, para tentar impedir grandes blecautes. A área metropolitana de Tóquio é habitada por mais de 30 milhões de pessoas, que utilizam os trens para chegar a seus locais de trabalho, mas, desde a crise gerada pelo terremoto, muitas pessoas optaram por trabalhar de casa.

Cerca de dez milhões de lares serão afetados hoje pelos planos de cortes de energia da Tepco, segundo a agência local Kyodo.

VÍTIMAS

O balanço oficial do terremoto e tsunami, seis dias depois da catástrofe, chegou a 5.178 mortos e 8.606 desaparecidos. No entanto, apenas na cidade de Ishinomaki, o número de desaparecidos alcança 10 mil pessoas, segundo autoridades locais.

O número de feridos é de 2.285, enquanto mais de 88 mil casas e edifícios foram destruídos, total ou parcialmente.

As autoridades japonesas também precisam enfrentar a crescente impaciência dos cerca de 500 mil desabrigados, ante a escassez de água potável e alimentos, apesar da mobilização sem precedentes de 80 mil soldados, policiais e socorristas.

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