Cinco meses após a ocupação pela Força de Pacificação do Conjunto de Favelas do Alemão, comerciantes e moradores contam que as armas e as drogas sumiram das ruas, e a coleta de lixo agora é regular. Mas relataram também o aumento da violência na favela após a saída dos traficantes, que mantinham controle da comunidade com leis próprias.
Rilza Casemiro, dona de um salão de beleza na Rua Joaquim Queiroz disse que a melhoria na qualidade de vida dos moradores é visível. “A principal diferença é que a gente não vê droga na rua mais. Aquilo assustava. Agora a gente não vê mais armas também. Era até tranquilo antes, mas como você explica para uma criança que está crescendo aqui dentro que aquilo não é certo?”
Rilza tem um sobrinho, Renan, de seis anos, que passa muito tempo na casa dela. “A minha casa fica num beco onde tinha uma boca de fumo. Quando eu saía de casa com o Renan ele tampava os olhos para não ver aquilo. Porque ele sabia que era errado de tanto que a gente falava. Quando ele via alguém armado, ele logo dava a mão pra gente”, contou.
Uma das preocupações de Rilza era com as adolescentes da comunidade. “Elas viam as mulheres dos traficantes tendo tudo o que queriam. Como a gente podia falar para elas que é errado ser mulher de traficante?”
Rilza afirmou, no entanto, que já ouviu relatos de roubos e estupros na favela. “Antes não tinha isso, porque os traficantes não deixavam. A gente agora tranca as portas de casa de noite. Está inseguro. Antes, quem era ladrão ia roubar fora da comunidade. Agora como o roubo, muitas vezes, não dá em nada, começaram a roubar aqui dentro mesmo”, afirmou, completando: “A população passou muito tempo confiando nos bandidos daqui. Então as pessoas ainda não têm essa cultura de ir à delegacia denunciar um roubo.”
Coleta de lixo
A comerciante, que mora no Alemão desde que nasceu, há 29 anos, lembrou que um ponto positivo da ocupação é a coleta de lixo. Segundo ela, agora o caminhão da Comlurb passa todo dia, e há menos sujeira nas ruas. “Quando chove é menos lixo para entupir os bueiros e encher as ruas”, disse. “Mas não adianta coletar se eles não dizem para as pessoas que não pode deixar lixo na porta de casa”.
Quem também destacou a coleta como uma das principais melhorias após a ocupação do Alemão foi a comerciante Renata de Souza, de 22 anos. Para ela, não ter as ruas cheias é um grande avanço.
Mas Renata também tem críticas do período pós-ocupação. “Antes, quando eram os traficantes, não tinha estupro, não tinha roubo, não tinha briga. Agora tem briga por qualquer coisa.”
Além da queixa do aumento da violência, Renata reclama também da falta de iluminação na comunidade: “Chega 22h a gente não pode entrar, porque está tudo escuro e é perigoso passar”.
'Bandido era o referencial das crianças'
Uma das queixas de outra comerciante da Rua Joaquim Queiroz, que pediu para não ser identificada na reportagem, é que o lucro no comércio caiu depois da ocupação. “Agora as pessoas estão saindo mais, indo a festas em outros lugares, o que é de certa forma positivo, mas diminuiu o nosso rendimento”, disse ela, que tem uma lanchonete. Mas aponta o lado positivo da presença dos soldados: “Descaradamente não tem mais drogas. Não tem mais pessoa com arma aqui. Mas a gente sabe, as pessoas comentam, que ainda tem, só que escondido”, completou.
A comerciante tem um casal de filhos, de 13 e 16 anos. “O bandido era o referencial das crianças. Agora isso acabou”, comemorou. Ela preferiu não identificar por achar que a segurança no local será passageira: “Isso aí é uma proteção momentânea”.
Três jovens de 14 e 15 anos, moradores do Alemão e estudantes de escolas da região, reclamaram de um suposto toque de recolher imposto por soldados do Exército. “Eles ficam mandando a gente ir pra casa às 22h30. Às vezes até chutam a gente e dão tapas.”
O G1 solicitou uma resposta sobre as queixas dos moradores à Força de Pacificação, que enviou o seguinte comunicado:
"As ações empreendidas pela Força de Pacificação são pautadas nas normas de conduta decorrentes do Acordo para Pacificação dos Complexos da Penha e do Alemão. Qualquer tipo de denúncia ou sugestão pode ser feita por meio da ouvidoria e disque denúncia disponibilizado para a população. Todas as informações que ali chegam são apuradas de acordo com as normas acima citada."
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