Senador refutou acusações de que teria empregado servidores fantasmas e usado aeronave com frete pago por Carlinhos Cachoeira
Do Portal Terra
O senador Demóstenes Torres (sem partido - GO) disse nesta segunda-feira (2), em discurso no Plenário do Senado, que as gravações das escutas telefônicas operadas pela Polícia Federal são montagens, confeccionadas com "edições montadas a favor do denunciante". Segundo ele, as conversas foram "suprimidas e emendadas", com o objetivo de "realizar acusações contra um senador da República. "Assim, de vazamento em vazamento, de grão em grão, foi moída uma história honrada", disse Demóstenes, ao pedir novamente que os áudios sejam periciados.
O discurso do parlamentar, que enfrenta processo de perda de mandato, foi proferido em um plenário praticamente vazio. Buscando prestar contas, falando em tom pessoal e firme, o senador iniciou sua fala afirmando que, de hoje até a próxima quarta-feira, vai rebater as acusações que vem sofrendo até provar sua inocência. "Eu não coloquei meu mandato a serviço de Cachoeira, (...) eu nunca pedi nem recebi vantagem indevida", insistiu. O senador também refutou acusações de que teria empregado servidores fantasmas e usado aeronave com frete pago por Carlinhos Cachoeira.
Demóstenes não era visto no Congresso desde o seu depoimento ao Conselho de Ética, no dia 29 de maio, quando negou ter usado o seu mandato a favor do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. A expectativa é de que, na próxima semana, o Plenário vote o pedido de perda do seu mandato, decidindo assim o futuro político do senador goiano acusado de ter mantido sociedade nos negócios ilegais do bicheiro. "Estou batalhando por meu mandato. (...) A todos, reafirmo minha inocência", disse Demóstenes.
O parlamentar argumentou ainda que a conclusão do relator do pedido de cassação no Conselho de Ética, senador Humberto Costa (PT-PE), teve como base gravações montadas e apenas uma mínima parte do material coletado pela Polícia Federal. O senador goiano afirmou também que as respostas que deu ao Conselho não foram levadas em consideração. Ao fim do discurso, Demóstenes pediu perdão a vários senadores nominalmente, entre eles Pedro Simon (PMDB-RS) e Renan Calheiros (PMDB-AL).]
Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.
Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.
Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas.
Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.
No dia 25 de junho, o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado aprovou a cassação de Demóstenes. Em decisão unânime, por 15 votos a zero, o colegiado aprovou o relatório do senador Humberto Costa (PT-PE), que recomendou a perda do mandato do senador. O parecer do Conselho de Ética deverá ser examinado pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) e, se aprovado, passará por nova votação no Senado, que poderá definir a cassação definitiva de Demóstenes.
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