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sábado, 14 de julho de 2012

Suborno milionário


Dossiê da Justiça suíça comprova pagamentos irregulares da ISL a Ricardo Teixeira e João Havelange. Propina repassada aos dois chegaria a R$ 40 milhões

Tamara Menezes
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A DUPLA LEVOU
BOLA Os valores irregulares foram pagos aos dirigentes
em depósitos pessoais ou a empresas de ambos
 
Um dossiê liberado pela Justiça suíça na quarta-feira 11 escancara um esquema de corrupção montado há 30 anos na Fifa. Os documentos comprovam que o ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) Ricardo Teixeira, e o presidente de honra da Fifa, João Havelange, receberam 19,25 milhões de francos suíços – cerca de R$ 40 milhões – em subornos de uma empresa de marketing esportivo, a ISL. Ela foi a principal parceira comercial da Fifa na década de 1990. Quando faliu, em 2001, um processo judicial movido na corte da Suíça revelou que os dirigentes receberam da ISL mais de 100 milhões de francos suíços em troca de benefícios em negociações comerciais envolvendo direitos de televisão e marketing.

O dossiê não podia ser divulgado desde junho de 2010, quando o Tribunal, a Fifa e dois dos homens mais poderosos do futebol mundial chegaram a um acordo para arquivar a investigação. A papelada revela que Teixeira recebeu 12,74 milhões de francos suíços (equivalente hoje a R$ 26,5 milhões) por meio da empresa Sanud, cuja ligação com o cartola já havia sido estabelecida na CPI do Futebol no Senado. Outra companhia apontada com ligações com Havelange e Teixeira é a Renford Investments Ltd., com repasses de 5 milhões de francos suíços (R$ 10 milhões). Quanto cada um dos dois cartolas recebeu dessa firma, entretanto, não foi revelado. Havelange ainda foi beneficiado com um pagamento de 1,5 milhão de francos suíços (R$ 3,1 milhões). O presidente da Fifa, Joseph Blatter, admitiu na quinta-feira 12 que tinha conhecimento das comissões recebidas por João Havelange e Ricardo Teixeira em nome da entidade. Porém, alegou que nada podia fazer por não ter como comprovar a ilegalidade do dinheiro embolsado pelos brasileiros. Blatter disse ainda que nos anos 1990 o pagamento de subornos não era um crime na lei suíça e que, portanto, não tinha o que denunciar. 

Com essa declaração, o presidente da Fifa sinaliza que não pretende levar o caso adiante. Segundo ele, a comissão de ética da Fifa apenas vai garantir que os episódios não se repitam. Sobre o futuro de Havelange como presidente de honra da entidade, Blatter disse que não tem poderes para decidir o que acontecerá com o brasileiro, só o Congresso da Fifa. “O Congresso o nomeou como presidente honorário. Só o Congresso pode decidir o seu futuro.”
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ELE SABIA
O presidente da Fifa, Joseph Blatter, admitiu que tinha conhecimento das comissões 
Havelange, no entanto, já havia renunciado ao posto de integrante do Comitê Olímpico Internacional em dezembro do ano passado, temendo ser expulso. Já Teixeira deixou a presidência da CBF e do Comitê Organizador Local da Copa de 2014 (COL) em 12 de março deste ano. Três dias depois, também deixou o Comitê Executivo da Fifa. Mas o estrago sobre a imagem do futebol brasileiro já estava feito. “O Ricardo Teixeira poderia ser um ídolo nacional por ter ajudado a trazer a Copa do Mundo para o Brasil, mas vai deixar só essa mancha”, reconheceu o presidente da Federação Gaúcha de Futebol, Francisco Novelletto Neto. O assessor de imprensa da CBF, Rodrigo Paiva, disse que a entidade não iria se pronunciar sobre o assunto “porque os envolvidos não têm mais relação com a CBF.” Ocorre que Teixeira ainda recebe salário como assessor internacional da confederação. 

A ISL era encarregada de comercializar e distribuir com exclusividade os direitos de transmissão de jogos da Copa do Mundo sem passar por concorrência. Os valores irregulares foram pagos aos dirigentes em depósitos pessoais ou destinados a empresas de ambos. A capacidade dos acusados de influenciar nas decisões e contratos da Fifa foi fundamental para que fossem arrolados como agentes da “conduta desleal”. “Eles causaram prejuízo à Fifa por seu comportamento e enriqueceram ilegalmente”, diz o processo. Em consonância com a legislação da Suíça, foi oferecido um acordo de reparação aos réus. Com isso, eles pagaram para não serem julgados e ainda garantiram que a história permanecesse envolta em sigilo até a última semana.
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 Foto: Feng Li/Getty Images

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