Esqueça o que você ouviu falar sobre essa faixa etária. Pesquisas recentes derrubam os estereótipos e mostram que 80% desses jovens atravessam essa fase sem maiores percalços. Saiba como tirar proveito da adolescência e aprenda a superar os conflitos
João LoesMUDANÇA
As mentes ágeis e sedentas por novidades dos adolescentes
podem dar frutos tanto em casa quanto no ambiente de trabalho
Impulsivo, egoísta, inseguro. Inconsequente, irresponsável, instável. Questionador, teimoso, arrogante. Não é de hoje que esses adjetivos são usados para descrever os adolescentes. Há décadas, os jovens com idades entre 10 e 19 anos são vistos e compreendidos pela ótica dos estereótipos. “Tenho vontade de trancar meu filho no quarto e só tirá-lo de lá quando ele for adulto”, dizem alguns pais. “Lá vem o aborrescente”, falam outros. Pesquisas recentes, no entanto, têm mostrado que essa percepção negativa não condiz com a realidade. Os adolescentes podem até ser impulsivos e egoístas, questionadores e arrogantes. Mas são muito mais do que isso. “Durante anos, limitamos nosso entendimento dessa etapa ao que ouvíamos de psicólogos que tratavam jovens e famílias que buscavam ajuda profissional em momentos de crise”, explica o psiquiatra Laurence Steinberg, pesquisador da Temple University, nos Estados Unidos, uma das maiores autoridades mundiais quando o assunto é comportamento juvenil. “Agora, revendo dados sem nos limitarmos às famílias e aos jovens com problemas, percebemos que essa faixa etária é bem mais tranquila e produtiva do que os estereótipos nos faziam imaginar.”
Números levantados por um estudo conduzido pelos psiquiatras Daniel Offer e Kimberly Schonert-Reichl, das Universidades de Northwestern, em Chicago (EUA), e British Columbia, em Vancouver (Canadá), mostraram que 80% dos adolescentes passam pela fase sem maiores percalços. Ou seja, apenas um em cada cinco jovens com idades entre 10 e 19 anos apresenta comportamentos que já nos condicionamos a esperar deles (leia quadro com os cinco maiores mitos dessa faixa etária na página 56). “De maneira geral, esses jovens têm valores sociais bastante positivos”, reforça Stanley Kutcher, psiquiatra e pesquisador canadense conhecido internacionalmente por seus estudos do cérebro e do comportamento adolescentes. “No trato com os pais, a maioria também é bastante tranquila.”
A nova percepção tem relevância especial para o Brasil. Hoje, há cerca de 34,2 milhões de brasileiros com idades entre 10 e 19 anos, ou 17,9% da população total, segundo dados do Censo 2010. E mais, de acordo com cálculos do Unicef, fundo da Organização das Nações Unidas para a Infância, o País nunca mais passará por outro período com uma fatia tão grande de sua população composta por adolescentes. “Trata-se de uma oportunidade única”, afirma o psiquiatra Fabio Barbirato, coordenador do Departamento de Psiquiatria Infantil da Associação Psiquiátrica do Rio de Janeiro e coautor do livro “A Mente de seu Filho” (Ed. Agir, 2009). “Se os pais e educadores conseguirem colocar os estereótipos de lado, eles poderão administrar os aspectos negativos da fase com mais eficiência e capitalizar as qualidades que esse exército de jovens pode oferecer”, diz. Segundo Barbirato, características conhecidas da etapa, como impulsividade, desejo de mudança, curiosidade e até intransigência, quando bem administradas, podem empurrar famílias, culturas e nações para a frente.
Números levantados por um estudo conduzido pelos psiquiatras Daniel Offer e Kimberly Schonert-Reichl, das Universidades de Northwestern, em Chicago (EUA), e British Columbia, em Vancouver (Canadá), mostraram que 80% dos adolescentes passam pela fase sem maiores percalços. Ou seja, apenas um em cada cinco jovens com idades entre 10 e 19 anos apresenta comportamentos que já nos condicionamos a esperar deles (leia quadro com os cinco maiores mitos dessa faixa etária na página 56). “De maneira geral, esses jovens têm valores sociais bastante positivos”, reforça Stanley Kutcher, psiquiatra e pesquisador canadense conhecido internacionalmente por seus estudos do cérebro e do comportamento adolescentes. “No trato com os pais, a maioria também é bastante tranquila.”
A nova percepção tem relevância especial para o Brasil. Hoje, há cerca de 34,2 milhões de brasileiros com idades entre 10 e 19 anos, ou 17,9% da população total, segundo dados do Censo 2010. E mais, de acordo com cálculos do Unicef, fundo da Organização das Nações Unidas para a Infância, o País nunca mais passará por outro período com uma fatia tão grande de sua população composta por adolescentes. “Trata-se de uma oportunidade única”, afirma o psiquiatra Fabio Barbirato, coordenador do Departamento de Psiquiatria Infantil da Associação Psiquiátrica do Rio de Janeiro e coautor do livro “A Mente de seu Filho” (Ed. Agir, 2009). “Se os pais e educadores conseguirem colocar os estereótipos de lado, eles poderão administrar os aspectos negativos da fase com mais eficiência e capitalizar as qualidades que esse exército de jovens pode oferecer”, diz. Segundo Barbirato, características conhecidas da etapa, como impulsividade, desejo de mudança, curiosidade e até intransigência, quando bem administradas, podem empurrar famílias, culturas e nações para a frente.
APRENDIZADO
Itamar e o filho, Hugo, 16 anos, e Cristina e a filha, Magê, 15: eles trabalham
com os pais e contribuem com sugestões para melhorar os negócios
Na família paulistana dos Cechetto isso já está acontecendo. Itamar e Cristina, pais de Hugo, 17 anos, e Maria Eugênia, a Magê, 16, colocaram os filhos para trabalhar nos negócios do clã no começo de 2012. E os resultados da iniciativa têm sido ótimos. Cristina tem um salão de cabeleireiro e Itamar uma importadora e distribuidora de cosméticos. Os irmãos têm horários a serem cumpridos, tarefas diárias e salário correspondente ao tempo de serviço. A agilidade no aprendizado e a energia da adolescência já dão resultados. Hugo frequentemente palpita nos produtos da importadora e, como prêmio, acompanha o pai em viagens de negócios ao Exterior. Foi Hugo quem garantiu uma venda importante para a empresa. Numa reunião em que estava apenas como ouvinte, se arriscou e citou uma característica do produto da empresa até então esquecida por Itamar. O jovem lembrou que a alternativa deles era reciclável e não agredia o meio ambiente, ao contrário da solução proposta pela concorrência. “Foi o que selou o negócio”, diz o pai. Já Magê tem o hábito de sugerir melhorias que aumentam a eficiência do salão da mãe. Vendo que muitas clientes usavam o celular para tirar fotos do próprio cabelo depois de passar no salão, Magê decidiu criar uma conta do estabelecimento em uma rede de compartilhamento de imagens na internet. Com isso, os cabelos passaram a ser exibidos, mediante autorização das clientes, atrelados ao nome do salão. “Foi uma forma de aumentar a exposição do nosso trabalho”, diz Magê, que pretende ainda ampliar a presença do negócio nas redes sociais. “A agenda cheia que eles têm, com escola e trabalho, dá vazão à energia da fase”, diz Cris, mãe e chefe de Magê. “Talvez seja por isso que eles são mais tranquilos.”
Mas as divergências e contratempos continuam existindo, mesmo em famílias que funcionam como um relógio suíço, como é o caso dos Cechetto. Um ano e meio atrás, por exemplo, Hugo estava desrespeitando horários, voltava para casa tarde demais, era repreendido e pouco ligava. Só entrou nos eixos depois de uma conversa séria com os pais e a inclusão do trabalho em sua rotina. “Hoje estamos vivendo uma espécie de lua de mel”, afirma o pai. Para os especialistas, a maturidade que Itamar demonstrou diante do tropeço do filho é a marca máxima da nova geração de progenitores que, esclarecidos, sabem reagir de forma controlada e pontual diante das intempéries naturais da adolescência.
No cerne desse novo entendimento da adolescência está o convívio e o diálogo franco entre pais e filhos. Estão aí os novos estudos para comprovar essa tese. Um dos mais recentes, conduzido em 2011 pela Universidade Colúmbia, dos Estados Unidos, mostrou que jovens que jantam cinco vezes por semana com os pais têm duas vezes menos chance de se envolver com drogas, tabaco e álcool se comparados àqueles que não têm esse hábito. Esse mesmo grupo reportou ainda ter relação excelente com os pais em proporção três vezes superior aos que não gozam dessa rotina. “A mensagem é simples: o convívio e a conversa frequentes entre pais e filhos nessa fase têm valor incalculável”, afirma Eduardo Coutinho, psicólogo especializado em adolescentes e jovens adultos.
Mas as divergências e contratempos continuam existindo, mesmo em famílias que funcionam como um relógio suíço, como é o caso dos Cechetto. Um ano e meio atrás, por exemplo, Hugo estava desrespeitando horários, voltava para casa tarde demais, era repreendido e pouco ligava. Só entrou nos eixos depois de uma conversa séria com os pais e a inclusão do trabalho em sua rotina. “Hoje estamos vivendo uma espécie de lua de mel”, afirma o pai. Para os especialistas, a maturidade que Itamar demonstrou diante do tropeço do filho é a marca máxima da nova geração de progenitores que, esclarecidos, sabem reagir de forma controlada e pontual diante das intempéries naturais da adolescência.
No cerne desse novo entendimento da adolescência está o convívio e o diálogo franco entre pais e filhos. Estão aí os novos estudos para comprovar essa tese. Um dos mais recentes, conduzido em 2011 pela Universidade Colúmbia, dos Estados Unidos, mostrou que jovens que jantam cinco vezes por semana com os pais têm duas vezes menos chance de se envolver com drogas, tabaco e álcool se comparados àqueles que não têm esse hábito. Esse mesmo grupo reportou ainda ter relação excelente com os pais em proporção três vezes superior aos que não gozam dessa rotina. “A mensagem é simples: o convívio e a conversa frequentes entre pais e filhos nessa fase têm valor incalculável”, afirma Eduardo Coutinho, psicólogo especializado em adolescentes e jovens adultos.
CONVÍVIO
Na família de Sérgio e Branca Oliveira (acima), cada filho está em
uma fase da adolescência: Rachel, tem 10 anos, Sofia, 18, e Elias, 15.
Maria de Lucca, 15 anos (abaixo), dá vazão à energia em treinos de futebol
Na casa da família Oliveira, no bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro, fica complicado juntar todo mundo para cinco refeições semanais. Mas o almoço que reúne a prole às 14h de domingo não falha. O esforço para estarem juntos é de todos. São quatro filhos, sendo três adolescentes e um jovem adulto, além da mãe, Branca Oliveira, 50 anos, e de Sérgio Naidin, 50 anos. Ele é pai de Rachel, a mais nova, e padrasto dos outros três. “A gente sente que nesses almoços fica claro para eles que estamos ali para o que der e vier”, afirma Naidin. À mesa sentam-se, além de Rachel, hoje com 10 anos, Elias, de 15, e Sofia, 18. Cada um está em uma fase distinta da adolescência. Rachel, por exemplo, no início da etapa, vem dando sinais cada vez mais claros de impaciência com a família. Já Elias, o do meio, tem questionado tudo – a começar pela religião dos pais, judeus, o que tem gerado problemas com a mãe. Por fim, Sofia, a mais velha dos três, parece estar inteiramente focada nos planos para a futura carreira como designer e estilista (leia quadro com comportamentos típicos de cada idade e como lidar com eles na página 54). “É uma fase cheia de delícias e preocupações”, afirma Branca.
“A novidade é que as delícias podem superar as preocupações se os pais forem mais compreensivos”, diz Barbirato. Um aliado nesse processo de aculturamento à adolescência é a escola. As mais modernas já entenderam que dar autonomia ao adolescente em vez de cortar suas asas pode ser mais proveitoso. “Falar em aborrescência hoje é falta de informação”, afirma Cristiano Wiik, psicólogo e coordenador pedagógico do ensino médio do Colégio São Luís, em São Paulo. Na escola que ele coordena, atividades como trabalho voluntário, campeonatos esportivos, ciclos culturais e festivais de música não são apenas oferecidos aos alunos. O formato dessas atividades, a escala que elas podem ganhar e os rumos que elas devem seguir passam, invariavelmente, pelo que quer o corpo estudantil. “O engajamento que propomos ao adolescente vai além da inscrição em uma atividade proposta pela coordenação pedagógica”, diz Francisco Eduardo Bodião, orientador educacional da Escola da Vila, também em São Paulo. “E temos visto que, quando damos espaço, os alunos se envolvem.”
Em casa, comportamento parecido, com pais que incluem os adolescentes em processos decisórios, também tem dado resultados satisfatórios. “E mais, a troca na hora da discussão tem grande valor para o jovem que está aprendendo a defender suas opiniões”, afirma o psiquiatra canadense Kutcher. Uma pesquisa de 2011 conduzida pela Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos, mostrou que em algumas discussões os pais podem ensinar mais aos filhos cedendo às suas argumentações do que as contrariando. “Assim, eles desenvolvem habilidades que os ajudarão a resistir às pressões negativas dos amigos”, afirma Joanna Maria Chango, coautora do estudo. Isso não quer dizer que pais devem ser os melhores amigos de seus filhos. Ou que sempre concordar com os adolescentes é sinal de que o discurso entre gerações está afinado. “Muitos preferem ser colegas a ser responsáveis porque é mais fácil, dá menos briga e aproxima”, explica Silvana Leporace, professora e coordenadora de orientação educacional do Colégio Dante Alighieri, na capital paulista. “Mas o pai é autoridade e o adolescente quer limites, mesmo que não articule esse desejo.” Ser o melhor amigo na hora de dizer não atrapalha e faz muitos pais não ser levados a sério.
“A novidade é que as delícias podem superar as preocupações se os pais forem mais compreensivos”, diz Barbirato. Um aliado nesse processo de aculturamento à adolescência é a escola. As mais modernas já entenderam que dar autonomia ao adolescente em vez de cortar suas asas pode ser mais proveitoso. “Falar em aborrescência hoje é falta de informação”, afirma Cristiano Wiik, psicólogo e coordenador pedagógico do ensino médio do Colégio São Luís, em São Paulo. Na escola que ele coordena, atividades como trabalho voluntário, campeonatos esportivos, ciclos culturais e festivais de música não são apenas oferecidos aos alunos. O formato dessas atividades, a escala que elas podem ganhar e os rumos que elas devem seguir passam, invariavelmente, pelo que quer o corpo estudantil. “O engajamento que propomos ao adolescente vai além da inscrição em uma atividade proposta pela coordenação pedagógica”, diz Francisco Eduardo Bodião, orientador educacional da Escola da Vila, também em São Paulo. “E temos visto que, quando damos espaço, os alunos se envolvem.”
Em casa, comportamento parecido, com pais que incluem os adolescentes em processos decisórios, também tem dado resultados satisfatórios. “E mais, a troca na hora da discussão tem grande valor para o jovem que está aprendendo a defender suas opiniões”, afirma o psiquiatra canadense Kutcher. Uma pesquisa de 2011 conduzida pela Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos, mostrou que em algumas discussões os pais podem ensinar mais aos filhos cedendo às suas argumentações do que as contrariando. “Assim, eles desenvolvem habilidades que os ajudarão a resistir às pressões negativas dos amigos”, afirma Joanna Maria Chango, coautora do estudo. Isso não quer dizer que pais devem ser os melhores amigos de seus filhos. Ou que sempre concordar com os adolescentes é sinal de que o discurso entre gerações está afinado. “Muitos preferem ser colegas a ser responsáveis porque é mais fácil, dá menos briga e aproxima”, explica Silvana Leporace, professora e coordenadora de orientação educacional do Colégio Dante Alighieri, na capital paulista. “Mas o pai é autoridade e o adolescente quer limites, mesmo que não articule esse desejo.” Ser o melhor amigo na hora de dizer não atrapalha e faz muitos pais não ser levados a sério.
CHAVE
Para Francisco Eduardo Bodião (de barba), coordenador da Escola da Vila,
dar espaço e responsabilidades ao adolescente é o melhor caminho
TRANSFORMAÇÃO
Guilherme Silva, 10 anos, está no começo da adolescência
e já trocou o “oi, tudo bem?” pelo “e aí mano, firmeza?”
E os limites são necessários nessa etapa. Ainda que ouvidos com mais atenção, ainda que mais conscientes e informados, ainda que com pais mais esclarecidos, os adolescentes sempre serão um grupo de risco. Essa é a fase de experimentações, com novos comportamentos, estilos, amigos e ambientes. É o momento dos riscos diante das drogas, do álcool e do cigarro. “O cérebro busca por novidades incessantemente”, diz Ann Hagell, psiquiatra e autora do livro “Changing Adolescence: Social Trends and Mental Health” (Policy Express, 2012, sem tradução para o português). O órgão está no auge de sua sensibilidade à dopamina e à oxitocina, hormônios neurológicos responsáveis tanto pelo prazer das recompensas quanto pelo rápido aprendizado. Ocupar esse cérebro é fundamental até para que ele desenvolva todo o seu potencial.
A paulistana Maria de Lucca, 15 anos, parece saber bem disso. Quando não está no colégio, está no clube, onde ocupa seu tempo com treinos de atletismo e futebol. Às quartas-feiras só sai de lá às 22h. Quando sobra tempo, vai ao cinema com as amigas e até arrisca uma balada. “Mas não volto tarde, pois de manhã cedo sempre tenho jogo ou treino”, diz a menina. Maria Célia de Lucca, que tem mais dois filhos também adolescentes, acha ótimo o ritmo de vida de Maria, a do meio. “Ela tem muita energia e felizmente encontrou uma boa forma de gastá-la”, afirma a mãe. Com a agenda corrida, Maria acaba mantendo contato com os colegas por meio do Facebook, onde tem 400 amigos. A mãe está sempre de olho e conta com a ajuda dos irmãos para que nada fuja do controle. “A internet sempre será um ambiente estranho para os adultos”, alerta Maurício de Souza Lima, médico hebiatra da Unidade de Adolescentes do Hospital das Clínicas de São Paulo. “Para todos os outros percalços da idade os pais têm repertório, para o trato com a tecnologia, não.”
Na casa do paulistano Guilherme Gomes da Silva, de apenas 10 anos, os desencontros tecnológicos já começaram. Por enquanto, não por causa da internet, mas pelos games. O garoto prefere as disputas virtuais a praticamente qualquer outra atividade. “Ele também trocou o ‘oi, tudo bem?’, pelo ‘e aí, mano, firmeza?’”, diz a mãe, Angélica Gomes da Silva, 28 anos. O cabelo, antes com franja, agora vive espetado, moldado com gel. A cara emburrada também virou regra. “Começou a adolescência”, suspira Angélica. Se ela conseguir superar os preconceitos estabelecidos nas últimas décadas, os próximos nove anos da vida de Gui têm 80% de chance de ser muito prazerosos para ambos.
A paulistana Maria de Lucca, 15 anos, parece saber bem disso. Quando não está no colégio, está no clube, onde ocupa seu tempo com treinos de atletismo e futebol. Às quartas-feiras só sai de lá às 22h. Quando sobra tempo, vai ao cinema com as amigas e até arrisca uma balada. “Mas não volto tarde, pois de manhã cedo sempre tenho jogo ou treino”, diz a menina. Maria Célia de Lucca, que tem mais dois filhos também adolescentes, acha ótimo o ritmo de vida de Maria, a do meio. “Ela tem muita energia e felizmente encontrou uma boa forma de gastá-la”, afirma a mãe. Com a agenda corrida, Maria acaba mantendo contato com os colegas por meio do Facebook, onde tem 400 amigos. A mãe está sempre de olho e conta com a ajuda dos irmãos para que nada fuja do controle. “A internet sempre será um ambiente estranho para os adultos”, alerta Maurício de Souza Lima, médico hebiatra da Unidade de Adolescentes do Hospital das Clínicas de São Paulo. “Para todos os outros percalços da idade os pais têm repertório, para o trato com a tecnologia, não.”
Na casa do paulistano Guilherme Gomes da Silva, de apenas 10 anos, os desencontros tecnológicos já começaram. Por enquanto, não por causa da internet, mas pelos games. O garoto prefere as disputas virtuais a praticamente qualquer outra atividade. “Ele também trocou o ‘oi, tudo bem?’, pelo ‘e aí, mano, firmeza?’”, diz a mãe, Angélica Gomes da Silva, 28 anos. O cabelo, antes com franja, agora vive espetado, moldado com gel. A cara emburrada também virou regra. “Começou a adolescência”, suspira Angélica. Se ela conseguir superar os preconceitos estabelecidos nas últimas décadas, os próximos nove anos da vida de Gui têm 80% de chance de ser muito prazerosos para ambos.
Fontes: Fabio Barbirato, psiquiatra, coordenador do Departamento de Psiquiatria Infantil
da Associação Psiquiátrica do Rio de Janeiro e autor do livro “A Mente de seu Filho” (2009);
Caio Feijó, psicólogo da infância e da adolescência da Universidade Federal do Paraná (UFPR);
Ann Hagell, editora de “Changing Adolescence: Social Trends and Mental Health” (2012);
Stanley Kutcher, autor de “Parenting Your Teen” (2012) e “Teening Your Parent” (2012);
Laurence Steinberg, autor de “You and Your Adolescent: The Essential Guide for Ages 10 to 25” (2011);
Family Education Network; American Academy for Child and Adolescent Psychiatry
Fotos: Bruno Fernandes e Pedro Dias/Ag. Istoé
Nenhum comentário:
Postar um comentário