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quinta-feira, 19 de julho de 2012

Mensalão: em sua defesa, Dirceu usa até o nome de Dilma


Chefe da quadrilha dos mensaleiros alega ao STF ser um 'bode expiatório' no processo. E usa depoimentos de petistas ilustres para fomentar a sua defesa

Laryssa Borges
Chefe - Segundo Lula, o ex-ministro José Dirceu estaria "desesperado"
Dirceu: o chefe da quadrilha se diz 'injustiçado' (Vagner Campos/ Futura Press)
Apontado pela Procuradoria-Geral da República como o chefe da quadrilha dos mensaleiros, o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu tenta convencer os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) de que é uma espécie de "bode expiatório" e que o Ministério Público Federal quer condená-lo pelos crimes de corrupção ativa e formação de quadrilha apenas para que ele sirva de “exemplo” à classe política. O julgamento do maior escândalo de corrupção da história da República brasileira começará em agosto.
De acordo com a denúncia, Dirceu foi o mentor do esquema de compra de votos e, utilizando-se de sua posição no governo e da liderança que exercia sobre o núcleo político, foi quem determinou as ações necessárias para o sucesso das operações. A defesa do ex-ministro, coordenada pelo criminalista José Luís de Oliveira Lima, tenta desqualificar o Ministério Público - e, por meio de declarações de petistas graduados, tenta limpar a imagem de Dirceu diante do STF. Os advogados do ex-ministro rechearam a defesa de frases de petistas que saíram em defesa de Dirceu à época do escândalo. Até mesmo a presidente Dilma Rousseff é citada. 
“Acho Dirceu uma pessoa injustiçada. Tenho pelo ministro grande respeito”, afirmou Dilma enquanto ainda ocupava a chefia da Casa Civil no governo Lula - cargo para o qual ela foi conduzida após a queda de Dirceu em meio ao escândalo do mensalão. Lula também elogiou Dirceu em depoimento, por escrito, anexado à ação penal do mensalão. “Desconheço qualquer fato desabonador sobre José Dirceu, que lutou pela democratização do Brasil, pagando com o exílio”, relatou. “(Dirceu) É um quadro político de grande relevância no cenário nacional”, completou o ex-presidente.
Desde que deixou o governo, o ex-presidente Lula se empenha em apagar da história o capítulo do mensalão. Durante algum tempo, ele repetiu a tese de que o mensalão não passou de caixa dois, que, na visão dele, seria um crime menor e corriqueiro na política brasileira. Mais recentemente, porém, Lula abandonou a tese do caixa dois e se entregou à pregação messiânica de que o mensalão foi uma grande farsa tramada contra ele por setores da oposição e da imprensa. O esforço para reescrever a história é tão grande que o ex-presidente patrocinou a criação da CPI do Cachoeira, estabelecendo como objetivo explícito criar um fato novo capaz de enfumaçar o julgamento do mensalão pelo Supremo. A estratégia, contudo, falhou.
As avaliações pessoais de Dilma e Lula constam de uma lista de mais de 70 depoentes que a defesa anexou às alegações finais, na tentativa de minimizar a imagem de homem forte do governo que Dirceu ostentava no primeiro mandato de Lula - e assim desqualificar as alegações do MP sobre seu papel como articulador do esquema de compra de parlamentares.
Os argumentos em favor do ex-chefe da Casa Civil chegam ao ponto de revelar que os pais do ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos foram padrinhos de casamento dos pais de Dirceu. Thomaz Bastos, que ocupará a tribuna do STF como advogado do banqueiro José Roberto Salgado, relembra no depoimento anexado ao processo que, nos anos 80, colocou o patriarca da família para atuar como cabo eleitoral de Dirceu, na época candidato a deputado estadual. “Pedi ao meu pai, que nessa época já tinha quase 90 anos, que trabalhasse para o Zé Dirceu e ele ficou lá entregando o nome do José Dirceu para aquelas velhinhas que iam votar”, afirmou.
Atual ministro do Esporte, Aldo Rebelo foi o responsável, quando comandava a articulação política de Lula, por fazer uma apuração “informal”, ainda em 2004, sobre a existência do mensalão. Ao comentar em depoimento suas impressões sobre Dirceu, afirmou: “É um homem que dedicou sua vida à luta do povo brasileiro em defesa da democracia e da liberdade. Pagou preço alto por isso, foi preso, foi exilado e voltou como um combatente da luta pela democracia”.
Fatos - Em seu depoimento, o operador do esquema, Marcos Valério, contou que, segundo Delúbio Soares, o então ministro José Dirceu e o então secretário do PT Silvio Pereira tinham conhecimento e davam garantia aos empréstimos que seriam forjados entre as empresas do publicitário e o partido. Em seu depoimento, Roberto Jefferson disse que todos os acordos entre os partidos tinham que ser ratificados pela Casa Civil de José Dirceu, "presidente de fato " do PT. Para a Procuradoria-Geral da República, uma das mais relevantes evidências do envolvimento de Dirceu é uma reunião realizada na Casa Civil entre Dirceu, Marcos Valério, Delúbio Soares e o presidente do Banco Espírito Santo no Brasil, Ricardo Espírito Santo. Antes desse encontro, Marcos Valério, Rogério Tolentino e Emerson Palmieri – também integrantes de quadrilha – haviam feito uma viagem a Portugal para se reunir com o presidente da Portugal Telecom, Miguel Horta. O objetivo da comitiva era conseguir recursos para cobrir dívidas do PT e do PTB. Durante as conversas, foi levantada a possibilidade - não concretizada - de a Portugal Telecom fazer uma doação de 8 milhões de euros.
José Dirceu acompanhou as negociações do grupo Portugal Telecom, com a intervenção do Banco do Espírito do Santo, para a aquisição da Telemig. Outro fator que denuncia a relação entre Dirceu e Marcos Valério são os favores concedidos pelo publicitário ao ex-ministro. Valendo-se de sua influência junto aos bancos Rural e BMG, Valério atendeu a interesses da ex-mulher de Dirceu, Maria Ângela Saragoza, que queria vender seu imóvel, obter um empréstimo e arrumar um emprego.
Versões – Os ataques à peça acusatória do Ministério Público são frequentes nos argumentos da defesa de Dirceu. Os advogados alegam não haver “prova concreta” que possa ligar o petista ao esquema do mensalão. “A condição de investigado, já no início das investigações, sempre conferiu a Roberto Jefferson a mais absoluta liberdade para criar os fatos e versões que melhor que servissem, acusando quem desejasse sem se preocupar com as consequências”, diz a defesa.

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