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segunda-feira, 26 de julho de 2010

Eis a oportunidade-Lula não está atrás de oportunidades para aparecer como o líder mundial da paz? Eis uma.

O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, deixou uma bela casca de banana para Hugo Chávez na despedida. Logo Uribe passa a faixa a Juan Manuel Santos, mas parece fazer questão de governar até o último dia.
Aqui uma curiosidade comum na política. Santos foi ministro linha-dura de Uribe. Da Defesa. Precisa dizer mais. Agora, como todo presidente fresquinho no cargo, fala macio. É aquela coisa bonita, o período idílico entre a eleição e a posse, quando você já é presidente mas ninguém ainda o cobra por nada. Daí que Santos apareça agora no noticiário como “moderado”. É de rolar de rir.
O que fez a Colômbia? Pediu uma reunião da Organização dos Estados Americanos (OEA) e acusou, com documentos que segundo ela comprovam a tese, a presença de bases guerrilheiras das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em território venezuelano.
Bogotá não responsabilizou diretamente Caracas, mas chegou bem pertinho e criou o fato político.
Como dizia Ulysses Guimarães, quando sua excelência, o fato político, ganha pernas, ninguém segura.
Uribe desencadeou a crise e agora há duas maneiras de resolvê-la. Uma é demonstrar que as Farc não estão acantonadas na Venezuela. Se estiverem, a segunda solução é eliminar o quisto, para o que vai ser indispensável a ajuda de Chávez.
As Farc são um problema para a Colômbia, mas também começam a se transformar num grave estorvo para o presidente da Venezuela.
Sua reação ultrassensibilizada às acusações colombianas tem motivo: se se verificar que há cobertura oficial para operações das Farc em território venezuelano, o regime de Caracas será instado a dar um jeito nisso.
E Chávez teria que optar entre dois caminhos: neutralizar as Farc em seu território ou transformar-se em alvo político e militar.

Tudo muito complicado. Não se pode afirmar que as Farc estejam aliadas operacionalmente a Chávez, mas é razoável dizer que elas pertencem ao mesmo campo estratégico do dirigente venezuelano. O bolivarianismo revolucionário como fio condutor do confronto continental contra os Estados Unidos.
Chávez está entre a cruz e a espada. Daí ter reafirmado nos últimos dias que as Farc precisam abandonar a luta armada, pois o caminho escolhido por elas na Colômbia — sempre segundo ele — não atingirá os objetivos políticos, elas não chegarão ao poder.
Ao contrário, diz Chávez, a permanência da guerrilha associada ao narcotráfico abrirá cada vez mais espaço para que a presença militar dos Estados Unidos no noroeste continental seja recebida com naturalidade.
Em resumo, Chávez deseja que as Farc se rendam (mesmo que a rendição venha embrulhada num papel bonito), para reduzir as ameaças externas a ele, Chávez. Precisa ver se o pessoal da guerrilha topa.
O melhor para Chávez seria não precisar fazer nada contra as Farc em território venezuelano, mas isso exige uma solução política definitiva para a guerra civil na Colômbia. Pois se a Venezuela tem o direito de defender sua soberania, a Colômbia também tem.
Ainda que os amigos de Chávez — inclusive no Brasil — pareçam desconhecer isso. Nossa diplomacia enveredou por uma doutrina de princípios flutuantes. Direitos Humanos? Autodeterminação? Estão valendo, mas só quando beneficiam os amigos.
Como reagiria Chávez se a Colômbia desse guarida a um movimento guerrilheiro voltado para destruir o Estado bolivariano?
E o Brasil? Está razoavelmente bem colocado para ajudar na pacificação. O problema é que — assim como na bomba nuclear iranaia — só lero-lero e boas intenções não vão bastar. O novo presidente colombiano tem capital político para conviver com alguma conversa fiada, durante um tempo. Depois a vida seguirá o curso natural.
Aliás, por que o Brasil, tão ativo para em assuntos distantes, não se oferece para liderar uma comissão internacional (pode até ser da Unasul) encarregada de verificar os documentos e as evidências apresentados pela Colômbia, e também de inspecionar as áreas na Venezuela onde Bogotá diz que as Farc estão acantonadas?
Visto que Luiz Inácio Lula da Silva não pode ser apontado como um “agente do império”, acho que Chávez não vai se incomodar.
Lula não está atrás de oportunidades para aparecer como o líder mundial da paz? Eis uma.

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