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PÁTRIA

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quarta-feira, 14 de julho de 2010

Número de atingidos por chuvas triplica em 3 anos

BRASÍLIA e SÃO JOSÉ DA LAJE, SANTANA DO MANDAÚ e UNIÃO DE PALMARES (AL). O número de pessoas atingidas por enchentes e alagamentos praticamente triplicou nos últimos três anos, segundo dados do Portal do Planejamento - retirado do ar há uma semana devido às críticas aos programas do governo. Entre 2007 e 2009, o universo de municípios afetados subiu de 176 para 620. No período, o número de vítimas cresceu de 1.309.914 para 3.035.215. E vai aumentar, já que os atingidos pelas enchentes de Rio (Angra e Niterói), Alagoas e Pernambuco, ocorridas este ano, ainda não foram contabilizados nas estatísticas.

As informações citadas no Portal são da Secretaria Nacional de Defesa Civil , que teve sua atuação criticada na avaliação dos técnicos, pela falta de planejamento e adoção de medidas para evitar catástrofes. A publicação destaca que, em 2008, apenas 31% da população urbana eram atendidas com rede de drenagem urbana. Segundo os técnicos, inundações e alagamentos não são causados só por fatores climáticos, mas também por falhas institucionais.

O Portal critica o funcionamento da Defesa Civil, que tem caráter militar, estruturado nos moldes do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar: "A Defesa Civil necessita de revisão conceitual de sua força de atuação puramente reativa, passando também a englobar a prevenção e o alerta de desastres e focar na segurança civil".

A secretária de Defesa Civil, Ivone Valente, disse que não teve acesso formal ao relatório do Ministério e que não comentaria as críticas. Segundo ela, sua secretaria discute com outros ministérios ações de melhoria para 2011.

- O relatório estava sendo mal interpretado e, por isso, foi retirado do ar - afirmou.

Chuvas voltam com força em Alagoas e Pernambuco

Ontem, voltou a chover forte em Alagoas e Pernambuco. Rios da bacia do Mandaú transbordaram novamente. Com a situação, foi decretado estado de alerta em todo o estado de Alagoas. Em São José da Laje (AL), no início da tarde, carros de som pediam que a população saísse das casas às margens do Rio Canhoto (que ajuda a formar o Mandaú). Prefeitura e moradores decidiram evacuar as casas em áreas mais baixas, por precaução e trauma.

- Em 1969, houve em São José da Laje a pior enchente do mundo. Foram 2.713 mortos para uma população de 10 mil pessoas. Agora, não tivemos mortos, em parte por causa do trauma, mas muito porque a enchente foi de dia - disse o prefeito, Mário Lira.

Em União de Palmares, as águas do Mandaú voltaram a alcançar a principal ponte. Segundo moradores, isso significa que o rio transbordou em diversos locais.

Em nota, a Defesa Civil de Alagoas informa que a situação está controlada: "Não há motivos para a população temer graves consequências, já que é um quadro normal nesta época do ano".

Os casos de doenças se intensificam. Santana do Mundaú e União dos Palmares registraram suspeitas de leptospirose.

Donativos começam a chegar a Pernambuco

ÁGUA PRETA, PALMARES e BARREIROS (PE). Os donativos começam a chegar aos 69 municípios de Pernambuco atingidos pela cheia. A ajuda vem pela Comissão de Defesa Civil do estado, pelas Forças Armadas, por voluntários e por governos estrangeiros. Ontem, aterrissou em Recife um C-130 da Venezuela, com 12 toneladas de mantimentos, roupas e até papel higiênico. A Associação de Panificadores de Pernambuco embarcou 32 mil pães para Água Preta.

No bairro da Liberdade, em Água Preta, Maria Rosineide da Silva advertiu a equipe do GLOBO que não ingressasse na sede da Associação de Deficientes Físicos, porque, após ser coberta pelas águas, a casa ameaça ruir.

Com um detalhe: é o único lugar que ela tem para ficar. Ontem, a entidade ainda abrigava seis famílias.

Rosineide relatou como mais dramática a experiência de uma vítima de acidente vascular cerebral que teria se afogado se não tivesse sido salva por um deficiente mental.

Ontem, em Palmares, crianças e adultos removiam entulhos, em busca de fios de cobre, vasilhames e outros materiais que rendessem alguns trocados. Em Barreiros, o hospital de campanha montado pela Aeronáutica já começou a funcionar, mas o acesso é difícil a quem se encontra na parte baixa da cidade. Por isso, estão mobilizados helicópteros das Forças Armadas e um helicóptero esquilo enviado pelo Corpo de Bombeiros do DF.

Luiz Carlos Bezerra, com um pequeno comércio na rodoviária de Palmares, conta que, na hora da cheia, saiu do terminal com amigos por um buraco que fizeram no telhado, e passaram a um prédio vizinho pendurados “como macacos” numa viga que puseram entre os dois edifícios.

Na cidade, o acesso à BR101/Sul com destino a Maceió continua interrompido.

Já em Água Preta, as duas pontes instaladas pelo 7oBatalhão de Engenharia de Combate começaram a funcionar. No bairro de Jequiá — que já havia sido “lavado” em outra enchente —, Admilson José de Moura colhia telhas da casa que achava nos escombros e refazia o telhado do único cômodo que sobrou: — As outras paredes caíram.

Experiência que ajuda

SANTANA DO MANDAÚ (AL). O major médico Edson Gonçalves, do Corpo de Bombeiros do Rio, comemora: tem 95% de resolução dos casos que recebe no hospital de campanha montado na cidade alagoana de Santana do Mandaú. Em três dias completados ontem, a estrutura — que já passou neste ano até pelo Haiti — teve 345 atendimentos, e só oito casos tiveram de ser transferidos para Maceió.

— Nosso hospital de campanha é muito bem equipado. Esperamos os casos mais graves para o início desta semana.

Pela nossa experiência, sabemos que muitas doenças aparecem de oito a dez dias após eventos assim — diz o médico.

O gaúcho Romeu Rodrigues da Cruz Neto, de 39 anos, também se lembra do Rio, mas por outro motivo: ele integrou a equipe da Força Nacional que atuou no deslizamento de terra do Morro do Bumba, em Niterói. Coordenando profissionais de 15 estados, diz aproveitar todas as lições das missões que já viveu.

— Aqui foi uma enchente diferente, que não deixou tantos desaparecidos, como no Bumba, pois ocorreu de dia. Um dos problemas é a precariedade das condições da cidade, algo que já existia antes das chuvas.

52 mortos em PE e AL

RECIFE e SÃO PAULO. O número de municípios pernambucanos com decreto de calamidade pública já chega a 12, segundo informou ontem o governo de Pernambuco, que incluiu na relação as cidades de Catende, Primavera e Maraial.

No estado, 67 municípios foram prejudicados pela tragédia e 30 encontram-se em situação de emergência. O número de óbitos aumentou para 18.

A quantidade de desalojados e desabrigados no estado está caindo lentamente. Eram 83,5 mil na sexta-feira. Ontem, segundo a Comissão de Defesa Civil de Pernambuco, o número diminuiu para 82,6 mil. São 26,9 mil desabrigados e 55,6 mil desalojados.

Em Alagoas, 76 pessoas continuam desaparecidas, e os mortos somam 34. Segundo a Defesa Civil, 15 cidades decretaram estado de calamidade pública. No estado, são 26,6 mil pessoas morando em escolas, galpões e pátios de igreja, sem contar as 47,8 mil que buscam refúgio na casa de parentes.

Sensação de que a vida não voltará ao normal

Após o choque inicial da tragédia, as pessoas estão se dando conta de que suas vidas não voltarão ao normal. Começam a surgir casos de tentativas de suicídio e mortes por doenças agravadas pelo estresse, como infartes. Desavenças com as autoridades se intensificam.

Em Santana do Mandaú, foram duas tentativas de suicídio nos últimos dois dias. Na semana passada, houve um infarto fulminante, e duas grávidas pariram filhos mortos. Em Branquinha, a população perdeu não só as casas, mas sua noção de cidade. O centro comercial, instituições e os prédios públicos foram levados pelas águas.

— Como vou fazer para receber o Bolsa Família? Minha vida não tem mais sentido — gritava, aos prantos, a moradora Zumira dos Santos, inconformada com a destruição do prédio federal que realizava o pagamento do benefício.

— A cidade está com os nervos à flor da pele. Já pedi para contratar dez psicólogos, para ficarem por aí, conversando com a população — afirmou a prefeita Renata Moraes.

Em União dos Palmares, começa a ficar tenso o clima com as autoridades. O estopim foi o início das discussões para a transferência das vítimas, alojadas em escolas, para acampamentos em locais distantes. Os desalojados, porém, temem que o acampamento se torne uma solução permanente.

— Não podemos ir para outro lugar, sem garantia de que haverá reconstrução das casas — disse Gilvan Alessandro, umas das 800 pessoas que dormem na escola Clóvis de Barros.

Quando há sol, as pessoas colocam suas fotos para secar, na tentativa de resgatar suas histórias. A vontade de ter um lar faz com que muitos abandonem abrigos e voltem para casas comprometidas.

Em Santana do Mandaú, não é incomum ouvir pessoas dizendo que não existem mais, que perderam RG e título de eleitor. O cartório local foi destruído, e as certidões de nascimento da cidade, levadas pelas águas.

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