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segunda-feira, 5 de julho de 2010

OPERAÇÃO CURARI III-Garimpeiros detidos chegam hoje a Boa Vista

Os dez garimpeiros detidos em área indígena na operação Curari III, Serra do Parima, em um trabalho conjunto realizado pelo Exército Brasileiro e a Superintendência Regional da Polícia Federal, devem chegar hoje pela manhã na capital. Se o tempo for favorável eles aportam em Boa Vista antes do meio dia. Os homens estão há 12 dias alojados no Pelotão de Fronteira (PEF) na região de Surucucu, Município de Alto Alegre, a 330 quilômetros de Boa Vista.
A operação na faixa de fronteira abrangendo áreas das reservas indígenas Yanomami, São Marcos, Raposa Serra do Sol e localidades do sudeste do estado, que teve sua primeira fase encerrada ontem, foi iniciada no dia 7 do mês passado e deve continuar até o final do ano e sem tempo para acabar.
A Folha foi o único veículo de comunicação impresso que acompanhou ontem a ida a Surucucu de uma das aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB), um Amazonas C-105/A do 1º/9º - Esquadrão Araras, do Grupo de Aviação da Base Aérea do Amazonas, que está dando apoio aos trabalhos.
A aeronave levou mantimentos e cargas aos militares do PEF e trouxe o comandante da operação no Surucucu, coronel Guerra, que também comanda o 7º Batalhão de Infantaria de Selva (7º BIS), dez agentes da Polícia Federal, além de outros militares que atuaram na operação e que estavam no local há mais de dez dias.
Ainda hoje, outros três voos devem ser realizados para fazer também a retirada, além dos garimpeiros, de outros 87 militares do Amazonas que permaneceram no pelotão em apoio à operação.
A operação é o resultado de um planejamento integrado das duas instituições, com base em dados de inteligência obtidos sobre ilícitos na região que tiveram seus trabalhos iniciados em abril deste ano.
O objetivo é a prevenção e a coibição de crimes transfronteiriços, a exemplo da exploração de garimpo em terras indígenas e outros ilícitos ambientais.

Equipamentos que não foram destruídos serão entregues à PF
Vários equipamentos usados durante a garimpagem em áreas indígenas, que não foram destruídos, foram apreendidos e serão entregues à Polícia Federal. Até o momento, já foram destruídos cinco balsas, oito motobombas, um quadriciclo, 30 carotes de combustível vazios, uma antena parabólica, bateias (peneiras) entre outras ferramentas utilizadas no garimpo.
“Como eles não puderam ser extraídas daqueles locais por meio de helicópteros, optamos pela destruição. Com exceção de três equipamentos de rádio, três armas de caça, dois motores de popa, uma motosserra, uma pequena quantidade de ouro e 2.7000 sacolas plásticas, além de grande quantidade de madeira”, explicou o coronel Guerra, comandante do 7º Batalhão de Infantaria de Selva (7º BIS) e da operação em Surucucu.
Estão sendo empregados cerca de 600 homens, integrantes das tropas das brigadas sediadas em Boa Vista e Manaus, seis helicópteros do 4º Batalhão de Aviação do Exército, aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB), policiais federais de Roraima, integrantes da PRF e agentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Minerais Renováveis (Ibama).
“Sem o apoio do Batalhão de Aviação, que nos cedeu helicópteros do tipo Black-halk (pássaro-preto), seria complicado atuar nessas regiões por conta da dificuldade de acesso. Temos que reconhecer também a habilidade dos pilotos, que conseguiram vencer diversas barreiras. Uma das pistas era bem escondida e as copas das árvores deixavam-na, praticamente imperceptível”, explicou o comandante da 1ª Brigada de Infantaria de Selva, general Franklimberg.
PF monta cartório volante para agilizar procedimentos
O comandante da operação no Surucucu, coronel Guerra e o delegado De Lorenzo, da Polícia Federal
Para acelerar o processo de identificação e qualificação dos garimpeiros detidos e retirados das áreas de garimpo de diversas áreas da reserva indígena Yanomami e Raposa Serra do Sol, a Polícia Federal criou o „cartório volante.
Segundo o delegado da Polícia Federal De Lorenzo, através do cartório volante, que conta com um delegado, um escrivão e um papiloscopista, em todos os pontos da operação, já foram detidos e qualificados 23 garimpeiros. Eles foram enquadrados no artigo 55 da Lei de Crimes Ambientais 9605/98. “Após serem entregues na Polícia Federal, eles serão liberados e deverão responder a um Termo Circunstanciado”, explicou.
Além da detenção, durante a operação já foram interditados nove garimpos e quatro pistas de pouso foram explodidas. Outros 11 garimpeiros foram retirados durante reconhecimentos que antecederam a operação.
Ainda durante o trabalho de inteligência, que antecipou a operação, 25 locais foram levantados pelas equipes e outros 15 pelos agentes da Fundação Nacional do Índio (Funai), dos quais oito em coincidência. Do total, 13 foram escolhidos e 11 foram vasculhados pelos militares. Em quatro deles (Castelo, Hélio, Bandeirantes e Majestade) foi confirmada a existência de garimpo. No restante, a operação se deparou apenas com os resquícios deixados pelos garimpeiros.

Garimpeiros alegam falta de trabalho rentável
Dos dez garimpeiros detidos na operação, que devem chegar à capital ainda hoje, a maioria alegou que optou em trabalhar com a garimpagem, mesmo em áreas proibidas, por faltar ocupação rentável na capital, e melhores oportunidades de trabalho.
“Fui convidado por um amigo lá em Rorainópolis. Quando fomos localizados estava apenas há 15 dias na região. Trabalhava como tratorista em São Paulo, mas o salário não dava para sustentar minha família. A promessa de renda no garimpo era bem melhor”, disse um dos garimpeiros, Paulo Roberto Lima, 28, sem divulgar valores.
Manoel Pereira da Silva, 44, que há 30 trabalha com garimpagem, e que teve quase todo seu maquinário e equipamentos destruídos, disse que a classe é discriminada.
“Não temos as mesmas oportunidades que muitas outras pessoas têm. Já garimpei em outros países e essa repressão toda não acontece. Não estamos destruindo os rios como se fala. Sabemos que o mercúrio e o diesel são prejudiciais ao meio ambiente, mas apenas se forem utilizados em grande quantidade”, explicou Manoel, esposo de uma das duas mulheres detidas durante a operação.
O comandante da operação no Surucucu, coronel Guerra, explicou que a quantidade de produtos utilizados durante a garimpagem, pode ser preocupante se os pontos de áreas atingidas forem multiplicados.
“É para isso que estamos agindo, justamente para evitar que essa ação seja alastrada. No momento, se formos comparar as áreas atingidas com o tamanho da reserva Yanomami, podemos dizer que o impacto ambiental ainda é pequeno”, concluiu.


CIDADES
Militares não passam mais de dois meses nos pelotões, afirma coronel
O 7º Batalhão de Infantaria de Selva (7º BIS) possui seis Pelotões de Fronteira (PFs), dois deles com acesso apenas aéreo. De acordo com o comandante do BIS, coronel Guerra, atuam nesses destacamentos cerca de 400 militares. Ele disse que desde que assumiu o posto, em 08 de janeiro, nenhum militar passou mais de dois meses sem vir para a capital.
“A permanência dos militares em qualquer pelotão, até ele ser transferido para outro destacamento, é de um ano. Mas durante esse tempo, pelo menos seis vezes ele é trazido para BoaVista, onde passa um determinado tempo com a família”, explicou.
O coronel ressaltou que podem existir algumas exceções, por conta do Plano de Apoio à Amazônia (PAA), ou seja, a quantidade de voos e vagas disponibilizadas aos militares.
“Por mês, são realizados com o apoio da aeronáutica no mínimo três voos, que acontecem de acordo com a necessidade e também as condições climáticas. Existem situações em que o militar pode passar dois meses e alguns dias, mas deixar de vir à capital isso não acontece. Em caso de emergência, temos ainda uma aeronave da Funai [Fundação Nacional do Inídio] que também nos auxilia”, disse.


MÃE –
A Folha acompanhou na quinta-feira, durante a viagem a Surucuru, o reencontro de mãe e filho. Após conseguir uma autorização da FAB e uma vaga na aeronave Amazonas C-105/A do 1º/9º - Esquadrão Araras, do Grupo de Aviação da Base Aérea do Amazonas, a artesã Nelice de Holanda Araújo, 54, conseguiu visitar o filho, o sargento Clibas Moreira de Araújo Júnior, 23, que atua no pelotão na área de saúde.Muito emocionada, antes mesmo de descer da aeronave, a artesã expressou a felicidade em rever o filho. “Estava com muitas saudades dele, só o telefone e a internet não são o suficiente. Toda mãe se preocupa e, como ele é ainda muito novo, é natural que a saudade, aliada aos cuidados, seja maior. Sou muito coruja, estou levando tudo o que ele gosta e que não tem lá, iogurte, refrigerante e outros tipos de guloseimas”.
Clibas, antes de ingressar no EB em abril deste ano, atuava pela Funai também em área indígena, como técnico em enfermagem. “Apesar de saber que ela estava vindo, a emoção foi muito grande. Estou muito feliz”.

CUSTO
– A Folha apurou que cada viagem para um pelotão, a exemplo de Surucucu, no caso de ser realizada na aeronave Amazonas, que alcança até 20 mil pés de altura, pode custar até 10 mil dólares, ou seja, até cinco mil por hora, com custos de combustível, material e tripulação.

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