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quarta-feira, 28 de julho de 2010

Pesadelos no Afeganistão

Não se sabe ao certo o que está por trás do timing da divulgação, pelo site WikiLeaks, em conjunto com os jornais “New York Times” e “Guardian” (britânico) e a revista “Der Spiegel” (alemã), de mais de 90 mil documentos sobre a guerra no Afeganistão, período de 2004 a 2009. O que se sabe é que muita gente está com forte dor de cabeça na Casa Branca, a começar pelo ocupante do Salão Oval. Os documentos mostram um panorama muito mais sombrio do que o admitido pelos governos Bush e Obama, no momento em que a Câmara de Representantes discute uma lei que autoriza novas verbas para financiar aquela que já é a mais longa guerra dos EUA e cujo custo, desde 2001, é calculado em US$ 345 bilhões.
Os documentos confirmam as ligações do serviço secreto do Paquistão, o ISI, com o Talibã.
O Paquistão é o maior aliado americano na região e recebe de Washington US$ 1 bilhão anual. Já o Talibã é o perigoso inimigo que abrigou Osama bin Laden. Há registros de encontros secretos de agentes do ISI com talibãs, para organizar ataques contra soldados americanos no Afeganistão e planejar o assassinato de líderes afegãos.
Um dos personagens mais citados nas informações sobre a guerra é o general paquistanês Hamid Gul, que chefiou o ISI de 1987 a 1989, período em que essa agência e a CIA operavam juntas, armando as milícias afegãs que combatiam as tropas soviéticas que haviam invadido o país. Essas milícias depois formaram o Talibã, que semeou o terror durante o período em que governou o Afeganistão (1996-2001). Gul nunca deixou de todo as atividades de inteligência e até hoje mantém suas ligações com as milícias talibãs. Um grande complicador é o arsenal nuclear do Paquistão, que poderia vir a cair em mãos de terroristas islâmicos.
A divulgação da papelada deverá aumentar a pressão sobre Obama, com a sociedade americana cada vez mais insatisfeita com os rumos, os custos e os prognósticos dessa guerra, na qual já morreram aproximadamente 1.600 militares dos EUA. O único consolo para o presidente é que os documentos não abrangem seu período na presidência; Obama mudou a estratégia americana apoiando a tática da contrainsurgência com 30 mil soldados adicionais.
Chefes militares e analistas não vêm possibilidade de uma vitória militar num país com um governo corrupto (o de Hamid Karzai, posto no cargo pelos EUA e reeleito em pleito fraudado) e dividido entre diferentes etnias, tribos e áreas de influência de senhores da guerra. País que, não bastasse tudo, é o maior produtor mundial de ópio.
Tudo isto não chega a ser novidade. Mas, como o cenário descrito nos mais de 90 mil documentos é pior do que o imaginado, os Estados Unidos precisam melhorar a estratégia para poder iniciar sua retirada em meados de 2011, como planejado. É enorme a responsabilidade do general David Petraeus, novo comandante americano no Afeganistão e que tem no currículo bom desempenho na passagem pelo Iraque. O desafio é enfraquecer substancialmente o Talibã até que sua liderança concorde com uma negociação com as demais forças políticas do Afeganistão, para que o país possa finalmente pensar num futuro sem guerras.

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